Sem tropeços
Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

Ouça o áudio de "Sem tropeços", do colunista Alexandre Amorim:
Aconteceu em Salvador esta semana, pode acontecer em Mariana amanhã…
Bem, o quão importante é falar sobre a manutenção de nossos sítios históricos, monumentos e prédios antigos?
Extremamente importante, posso lhes dizer.
Para quem não sabe, nesta semana, o teto da Igreja de São Francisco de Assis, também conhecida como Igreja do Ouro, localizada em Salvador, lá no Pelourinho, desabou matando uma pessoa e ferindo outras cinco pessoas.
Como suspeita de ter causado o acidente, estão as INFILTRAÇÕES, FALTA DE MANUTENÇÃO e OXIDAÇÃO DE COMPONENTES ESTRUTURAIS.
E não é algo raro. Em 2024 o teto do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, no Recife, desabou pela oxidação, causada por infiltração e manutenção inadequada.
No dia 28/10/2024, eu escrevi na coluna o artigo Chorar sobre o leite derramado – falando exatamente sobre as condições de instituições públicas alocadas em prédios históricos. Como atual responsável pela Biblioteca Pública Benjamim Lemos, garanto a todos vocês que os problemas que afligem nossa instituição são bem conhecidos e muito bem informados, todos os anos, os jornais de Mariana recebem uma cópia – e os convido para conhecer – da última versão do Diagnóstico da Biblioteca, documento que trata de forma extensiva (ou seja, com precisão nos detalhes) dos problemas encontrados na instituição e – para o espanto de absolutamente ninguém – lá estão os problemas estruturais, da mesmíssima monta que acaba por afligir o querido e alegre povo baiano, culminando na lamentável e trágica morte da Giulia Panchoni Righetto, uma turista de 26 anos de Ribeirão Preto, São Paulo.
É importante lembrar a todos que qualquer tragédia, que vitimou qualquer pessoa que seja, de onde quer que seja, precisa ser sempre INACEITÁVEL. Ainda mais quando se trata de um país como o Brasil, com seus impostos absurdos e igualmente absurda incompetência e letargia, quando se trata de ações de manutenção preventiva, entre tantos outros absurdos descarados.
Mas nem sempre recheado de incompetência e omissão está cercado o serviço público. A Biblioteca possui razões para comemorar, apesar de tantos outros pesares.
Como termos quase dobrado o número de visitantes em nossa Biblioteca, também fica a triste e reprovável constatação de que os outros 3 documentos que precederam a versão 2024/2025 do Diagnóstico da Biblioteca FORAM ABSOLUTAMENTE IGNORADOS pelo poder público até então.
O teto da Biblioteca, encontra-se com infiltrações, as paredes em vários locais mostram os efeitos das infiltrações de água das chuvas. O forro de madeira com mais de 30 anos de existência, está cedendo a olhos nus e a degradação em todo o entorno da Biblioteca é perceptível e causa riscos aos passantes e aos visitantes da Biblioteca.
Talvez você não saiba, mas a Biblioteca não está recebendo visitas das escolas regionais e você saberia me dizer o porquê?
A resposta aqui é bem fácil – para evitar que o nome da próxima tragédia que acontecer em um prédio histórico seja o de uma criança de Mariana.
E entenda bem esta frase – não estou sugerindo que um colapso irá acontecer, EU ESTOU AFIRMANDO QUE IRÁ, caso não sejam tomadas as ações de manutenção e restauração do prédio público, bem histórico tombado pelo Patrimônio Histórico.
Voltando à produção do documento, é fácil perceber que laudos, visitações, vistorias e toda a sorte de ações iniciais dos órgãos responsáveis pela ação no sentido de reparar ou reformar o prédio da Biblioteca foram solicitados e, realmente, foram até o local – mas as reformas PRECISAM passar pelas mãos do Executivo, que nos últimos 4 anos, simplesmente IGNORARAM OS PROBLEMAS ABSOLUTAMENTE.
Não existe falta de recurso – Mariana receberá quase 1 BILHÃO de reais em 2025. Para se ter uma ideia, se este dinheiro fosse repartido para ser utilizado por cidadão, o valor seria de R$16.173,37 (Dezesseis mil, cento e setenta e três reais e trinta e sete centavos) em UM ANO. Caso fosse observado o interesse dos mais de 4.000 possuem em utilizar a Biblioteca em segurança e conforto, e supondo que elas estariam dispostas a promover uma reformulação total da instituição, o orçamento dedicado para a Biblioteca seria de R$64.693.480,00 (Sessenta e quatro milhões, seiscentos e noventa e três mil, quatrocentos e oitenta reais).
Este recurso seria suficiente para construir, com FOLGA, uma Biblioteca capaz de atender a população de Mariana e região, considerando sua expansão e o crescimento de sua população por mais de 170 anos.
Ao contrário do que foi investido nos últimos 4 anos, que totalizam ZERO REAIS.
Novamente, preciso apontar para todos que tem o mínimo de curiosidade em ler esta coluna ou mesmo ouvir estas palavras, que acompanham áudio pelo próprio autor, que somente o fato de SABER dos problemas que acontecem na Biblioteca e com toda convicção, em outras várias instituições públicas alocadas em prédios históricos em nossa cidade, NÃO AJUDA a resolver o problema.
Falar com seu vereador, sim. Exigir melhorias e mudanças positivas para o SEU PRÓPRIO BENEFÍCIO, sim, Falar e cobrar do EXECUTIVO uma atitude definitiva para solucionar a questão, sim.
Por aqui, fazemos o que nos cabe – avisamos as autoridades responsáveis com clareza e regularmente, ano após ano, buscamos explicitar a importância da manutenção de um prédio que recebe tantas pessoas e está crescendo mais e mais, à medida em que as ações de melhoria e projetos vão sendo implantados. À medida que a Biblioteca segue colecionando prêmios e conquistas, avançamos um pouco mais. Mas isto não é o suficiente para mitigar problemas crônicos causados pela omissão e inação dos governantes anteriores com a segurança de sua própria população.
Todos estamos cansados de saber que programas como o “Tarifa Zero”, que de zero não tem nada, custando um total anual de R$18.953.628,96 (Dezoito milhões, novecentos e cinquenta e três mil, seiscentos e vinte e oito reais e noventa e seis centavos) atraem os políticos pois são ações que atendem positivamente junto à população, que acredita pelo simples fato de não colocar a mão na carteira para pagar uma passagem é mais vantajoso do que possuir este recurso para ser aplicados em construção de creches, escolas, saneamento básico e outras tantas ações na infinitude de carências que a cidade de Mariana possui e que JAMAIS deveria possuir, principalmente se considerarmos o terrível acidente de 2015.
Na minha singela opinião, a cidade não deveria ter, sequer, nem UM ÚNICO problema estrutural e, ainda assim, as mineradoras ficariam devendo e muito para todos os habitantes da cidade.
Mas isto é um assunto para um outro momento – agora, precisamos focar para que nossa cidade não seja o próximo exemplo de omissão. Que não seja a próxima vítima da inação e dos olhos vendados para problemas que são falados, ano após ano, com o mesmo sorriso de promessas que serão cumpridas, seguidas pela mesma desilusão de quem enxerga uma priorização de recursos para coisas fúteis e claramente eleitoreiras, como shows, festas e uma infinidade de tentativas vãs de esconder o que salta aos olhos com ações que de concreto para o município, nada trazem.
Nesta primeira coluna do ano e também a primeira em relação a problemas de nossa cidade, desejo sucesso e muita dedicação para a nova gestão que se inicia. A querida vice-prefeita, Sônia Azzi, que dedicou no ano de 2024 R$50.000,00 (cinquenta mil reais) de suas verbas impositivas para a Biblioteca de Mariana está mais do que ciente de nossos problemas, tendo sido a primeira pessoa a receber, de minhas próprias mãos, o Diagnóstico da Biblioteca Pública. Tenho uma convicção muito forte e uma alegria contagiante em imaginar que possuir uma pessoa com tantos adjetivos positivos e com tamanha simpatia e capacidade, aliadas à sua forma gentil e atenciosa de lidar com todos, como uma aliada da Biblioteca, como poucas vezes pudemos presenciar.
Desejamos, a você muita sorte nos próximos anos, Sônia. Principalmente desejamos sermos lembrados pelas nossas conquistas e considerados pelo nosso potencial inexplorado do que podemos fazer se tivermos, pelo menos por uma gestão, a atenção que temos o respaldo de requisitar.
Desejamos ao Prefeito Juliano temperança e clareza para administrar uma cidade que demanda um trabalho hercúleo, como é o caso de Mariana. Mas esteja certo que jamais receberia tamanha expressiva votação se não estivesse à altura do desafio, assim como a nossa Biblioteca, que jamais receberia um aumento de mais de 83% em seus visitantes se não mostrasse estar mais do que apta a auxiliar com atenção e eficiência a população.
Desejamos, antes de mais nada, não ser capa da seção de tragédias ou notícias principais em jornais pelo mundo afora, como sendo causa de uma tragédia ou a terrível e lamentável perda de vida humana, seja ela qual for.
Gostaríamos muito mais da colheita do sucesso de nossos frequentadores, onde de forma silenciosa, sabemos que tivemos atuação pivotal na melhoria de sua vida. Na diminuição da dor e do sofrimento e do aumento da qualidade de vida, da alegria e da certeza de um futuro mais digno e melhor, partindo da leitura e do conhecimento.

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