- Ouro Preto
Evento na UFOP celebra riqueza da música e cultura africana
Afrovibe é uma iniciativa da DJ Viviane Barcellos, em conjunto com alunos de intercâmbio da instituição, vindos de países africanos
Na última sexta-feira (07), o Bar e Centro Cultural Assufop foi palco da festa Afrovibe, que contou com apresentações do DJ João do ZL e da DJ Viviane Barcellos, que animaram o público com ritmos e batidas em celebração à musicalidade de diferentes locais da África. A festa contou com aproximadamente 250 pessoas de diferentes faixas etárias, incluindo alunos e servidores efetivos e aposentados da UFOP. Idealizadora e organizadora do evento, Viviane Barcellos preparou o “setlist” da festa, mesclando afrobeat, amapiano, kizomba, tarraxinha e kuduro — ritmos que o público recebeu com muita animação. Era difícil ver alguém parado enquanto as músicas tocavam.
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Origem da celebração
Nawiwa, aluno da UFOP que integrou a organização da festa, comentou que a ideia surgiu no próprio bar Assufop. Na ocasião, quatro jovens que participaram da organização estavam dançando músicas de suas terras natais quando chamaram a atenção da DJ Viviane, que os convidou para uma conversa. A partir desse encontro, a ideia da Afrovibe começou a tomar forma.
Angolano e mestrando em Ciência da Computação, Nawiwa declarou que o processo de organização foi muito tranquilo, sendo o maior desafio a incerteza sobre a participação do público ouro-pretano. No entanto, esse receio foi dissipado logo no início da festa, quando compareceram várias pessoas de Ouro Preto, Mariana e até mesmo de Itabirito e Belo Horizonte.
Elton Augusto, moçambicano, aluno da UFOP e também integrante da organização do evento, conta que a Afrovibe foi muito mais do que uma oportunidade de compartilhar a música de sua terra natal. Para ele, Ouro Preto é uma cidade extremamente festiva, tanto por suas tradições centenárias quanto pela cultura republicana. Além da festividade, a cidade tem grande parte de sua história ligada aos povos africanos, tornando-se, assim, o lugar perfeito para uma festa com esses ritmos e batidas. “Trazer eventos com essas temáticas nos fortalece internamente, trazendo um calor no peito ao vivenciarmos juntos uma festa dessa potência. A história de nossos ancestrais não deve ser lembrada apenas pela dor — a arte vem para nos apoiar. A música e a dança nos tocam de diversas formas positivas.”
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Variedade e riqueza da música na cultura africana
A DJ Viviane Barcellos, em entrevista à Agência Primaz, destacou a importância de divulgar a música e a cultura africana. “Ao olhar para trás e pensar no sequestro de povos africanos de seus países, no apagamento de sua história e cultura, e em como trouxeram tanto conhecimento que possibilitou a extração do ouro em Ouro Preto, na construção de tantas coisas… Por outro lado, ao observar que, atualmente, uma cidade com uma população negra significativa ainda carece de representatividade em grandes cargos ou empregos bem remunerados, que respeitem os direitos trabalhistas, imagino que trazer eventos com essas temáticas possa nos fortalecer internamente”.
Para a organizadora da celebração, “dá um calorzinho no peito experienciar em grupo uma festa dessa potência, pois a história de nossos ancestrais não deve ser lembrada apenas pela dor. A arte vem para nos apoiar — a música e a dança nos tocam de diversas formas positivas“. De modo unânime, os organizadores afirmaram ter plena consciência de que o continente africano é imenso em culturas e musicalidades, cuja maior parte não pôde ser representada no evento. Apesar disso, consideraram que, mesmo apresentando uma pequena fração dessas culturas, já foi suficiente para contagiar e alegrar o público que já está ansioso pela segunda edição do evento.
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Variedade de ritmos na cultura africana
Um dos ritmos mais tocados na festa foi o Afrobeat, uma combinação de músicas iorubás, jazz, highlife e funk, com percussão e vocais típicos de diferentes países.
O termo “Afrobeat” foi cunhado pelo músico nigeriano Fela Kuti na década de 1970, quando ele era integrante do grupo Koola Lobitos. Em 1969, durante a guerra civil nigeriana, ele e a banda foram para os Estados Unidos, onde Fela conheceu o movimento Black Power e os Panteras Negras. Foi nessa efervescência cultural e política que ele misturou os ritmos de sua terra natal com influências americanas, cunhando o termo “Afrobeat”.
Atualmente, o Afrobeat exerce cada vez mais influência na música pop. No Brasil, um exemplo é a música Ginga, da cantora Iza, com participação especial de Rincon Sapiência, que apresenta fortes semelhanças com o Afrobeat, tanto pela letra politicamente engajada quanto pela aproximação com os ritmos e batidas do gênero. Nos Estados Unidos, um bom exemplo é a música This Is America, de Childish Gambino, que incorpora elementos da cultura africana tanto na batida e na letra quanto no videoclipe, fazendo duras críticas ao racismo estrutural nos Estados Unidos.
Na seleção musical escolhida para a Afrovibe, as inspirações também vieram do amapiano, um ritmo de origem sul-africana que mistura batidas eletrônicas com sintetizadores e sons de piano. A kizomba também apareceu em peso na Afrovibe. Esse ritmo veio de Angola e se caracteriza pelo uso de tambores graves e pratos de choque, com uma batida forte em ritmo 4/4.
Reafirmando a diversidade de ritmos musicais da cultura africana, não faltaram músicas derivadas do kuduro, estilo que surgiu no final da década de 1980, também em Angola, como uma dança, mas que, com o tempo, se tornou um gênero musical, utilizando muitos loops e letras explícitas, sendo, muitas vezes, comparado ao funk.
Para quem tem interesse em conhecer esses gêneros musicais, os organizadores da festa disponibilizaram a playlist no Spotify, que abrange boa parte dos ritmos tocados na festa.
