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Hoje é sexta-feira, 14 de março de 2025

Oniropolítica e polarização

“Quanto mais polarizada é uma sociedade, mais burra, autoritária e menos democrática ela é. O Brasil é exemplo disso”. (Andres Bruzzone)

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Oniropolítica e polarização

Ouça o áudio de "Oniropolítica e polarização", do colunista Júlio Vasconcelos:

Oniropolítica é um conceito desenvolvido por Christian Dunker, psicanalista, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que mistura os mundos do sonho (“oneiros” em grego, que significa sonho) com a política. Ele surge a partir de reflexões filosóficas e psicanalíticas sobre como os sonhos, tanto individuais, quanto coletivos, influenciam ou são manipulados pelos donos do poder. A oniropolítica nos propõe uma reflexão sobre como os sonhos podem refletir e tensionar as políticas vigentes, especialmente em contextos de crise, como o que estamos vivendo no Brasil nos últimos tempos.

A polarização política é o fenômeno em que as opiniões e ideologias da sociedade se dividem, de forma radical, em polos opostos, com pouca ou nenhuma área de consenso entre os grupos. Isso cria uma atmosfera de conflito constante, onde as pessoas tendem a enxergar o lado oposto como inimigo, dificultando o diálogo e a construção de soluções coletivas. Ela leva a construção de um conflito, com líderes políticos ou figuras públicas se tornando símbolos dessas divisões, como vem acontecendo no Brasil sob a batuta do Bolsonaro e do Lula.

A oniropolítica aplicada ao contexto da polarização política entre Bolsonaro e Lula no Brasil oferece uma visão alarmante sobre como o desejo coletivo e os sonhos sociais, infelizmente, estão sendo manipulados e também gerando divisões profundas na sociedade. Neste cenário, os sonhos e desejos dos cidadãos são canalizados insistentemente para narrativas extremamente antagônicas, que alimentam, não só a luta política, mas também a formação de um círculo vicioso de ódio que gera efeitos traumáticos na sociedade.

Para seus apoiadores, Lula representa o sonho de um Brasil mais igualitário, com políticas sociais para a pobreza, redistribuição de renda e uma visão de justiça social. Ele é vendido como um herói da classe trabalhadora e o sonho de um Brasil melhor, onde as classes populares tenham voz e vez, onde o trabalho e a dignidade sejam priorizados, enquanto que Bolsonaro é vendido como uma ameaça à democracia e aos direitos sociais, um ignorante, racista, genocida e fascista homofóbico. As suas manifestações intempestivas e radicais são um prato cheio para seus opositores que pejorativamente o apelidaram de Bozo, em uma referência a um palhaço que se tornou muito popular no século XX.

Por sua vez, para seus apoiadores, Bolsonaro representa o sonho de um Brasil onde impera a segurança, a liberdade econômica, livre de corrupção e intervencionismo estatal. Ele é vendido como um herói restaurador dos valores patrióticos, morais e familiares tradicionais. Seu famoso lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” sintetizam a visão messiânica que seus seguidores têm dele, enquanto que Lula é vendido como um ladrão, corrupto, inimigo dos valores tradicionais e uma grande ameaça comunista que vai destruir o País. A onda de corrupção que, acreditam, tomou conta de seu governo anterior é um prato cheio para seus opositores, que pejorativamente o chamam e a seus seguidores de petralhas, em referência aos Irmãos Metralhas, um grupo de personagens ladrões criados por Walt Disney, em suas criações. 

Essa manipulação das narrativas de sonho resulta, muitas vezes, em uma escassez de diálogo entre os grupos e cria uma batalha de valores que vai além de simples diferenças políticas, formando uma verdadeira guerra simbólica pelo controle da nação. Em vez de haver uma discussão produtiva sobre os destinos do Brasil, acaba ocorrendo uma chuva de ataques, com agressões verbais e até físicas, algumas vezes fatais.  

A oniropolítica na polarização Bolsonaro versus Lula é, acima de tudo, uma luta pelo controle do imaginário coletivo. Cada lado tenta convencer a população de que seu sonho de futuro é o único que pode realizar as esperanças do povo e pregam isso como uma verdade absoluta e inquestionável. Isso cria um impasse onde os desejos, mais do que os fatos, se tornam a base das disputas políticas. É como se os sonhos de um lado estivessem sendo usados como armas contra os sonhos do outro.

Enfim, esse contexto absurdo, em última análise, nos leva a algumas perguntas que não querem se calar:

-Até quando nós vamos nos deixar manipular como fantoches por lideranças radicais que moldam os nossos sonhos e nos levam a agredir uns aos outros, agravando mais ainda a crise que estamos vivendo?

-Será que é possível criar um espaço onde diferentes sonhos possam coexistir, sem que um precise destruir o outro?

Essas perguntas são essenciais se quisermos pensar na reconstrução de um país onde impere a ordem, a paz e o tão desejado progresso.

A resposta está dentro de cada um de nós!

Quem tem ouvidos, que ouça!

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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