- Região dos Inconfidentes
Exposição marca os 10 anos do rompimento da Barragem de Fundão
Ação ficará exposta até 26 de março e amplia a exposição "Mariana 9 anos: como contar o tempo que não volta?"
- Gustavo Batista
- Supervisão: Lui Pereira
- Atualizado em:
- 19/03/2025
- 09:00

O grupo de pesquisa e extensão sobre Conflitos em Territórios Atingidos (Conterra), vinculado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFOP, promove uma exposição na entrada da Escola de Minas. Ela vem decorrência do marco de 10 anos do rompimento da barragem de Fundão, sob responsabilidade das mineradoras Samarco, Vale e BHP. A exposição acontece até o dia 26 de março e é a primeira de uma série de dez ações que serão promovidas nos próximos meses pelo grupo.
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Esse primeiro ato amplia a exposição de fotografias “Mariana 9 anos: como contar o tempo que não volta?”, lançada originalmente em novembro de 2024, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), pela Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) e Assessoria Técnica Independente (Cáritas), que abordava os temas: Memória, Religiosidade, Ser atingido, Caminhos de Luta e Territórios atingidos. Para a atual exposição, um sexto tema, Moradia e não-retomada dos modos de vida, foi adicionado. As fotografias expostas mostram os modos de vida tradicionais que as comunidades atingidas de Mariana possuíam e que, para o grupo, foram desconsiderados nos reassentamentos coletivos.
A exposição
Lançada originalmente em 5 de novembro de 2024 no ICHS, a exposição “Mariana 9 anos: como contar o tempo que não volta?”, organizada pela Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão e a Cáritas. Nela, eram expostas fotografias que tinham como intuito mostrar que as comunidades atingidas de Mariana possuíam modos de vida tradicionais. Produzidas em sua maioria pela Cáritas, as fotos apresentam uso da terra para plantio e criação de animais, ocupações eram pouco adensadas, emolduradas por vegetação. Os espaços de uso comum eram apropriados de forma coletiva e cotidiana pela comunidade.
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A nova exposição surge a partir das atividades e diálogos do grupo de pesquisa e conta com alguns dos registros de integrantes do Conterra sobre os reassentamentos coletivos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Segundo a organização, essas novas fotografias têm como intuito pautar que os reassentamentos coletivos, ainda não concluídos e construídos pela Fundação Renova, desconsideram os aspectos comunitários dos grupos atingidos.
A professora Flora Passos, do departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFOP, destaca que a iniciativa é uma das várias que irá acontecer ao longo do ano inteiro e busca ampliar o debate e evitar que o marco se resuma a apenas uma data. “Isso surgiu também de um diálogo nas reuniões ordinárias que a comissão de atingidos faz em Mariana. Havia uma preocupação dos marcos não serem só lá em novembro, principalmente no marco de uma década, né? São 10 anos de movimento”, destaca.
A exposição está visível na entrada principal da Escola de Minas e ficará disponível até 26 de março de 2025. A ideia é que as outras ações aconteçam a cada mês.

10 anos do rompimento
No dia 5 de novembro de 2025, o rompimento da barragem de rejeitos de minérios de Fundão, da mineradora Samarco, irá completar 10 anos desde seu ocorrido em 2015. O desastre-crime devastou o subdistrito de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo em Mariana (MG), além do distrito de Gesteira na cidade de Barra Longa. O percurso de lama atingiu quatro rios: Córrego de Santarém, Rio Gualaxo do Norte, Rio do Carmo e todo o percurso do Rio Doce, até sua foz, no Espírito Santo, atingindo milhares de pessoas e se inserindo em um contexto global de destruições e expulsões decorrentes do neoextrativismo.
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Dados de 2024, da equipe técnica da Cáritas MG/ATI Mariana, apontam que 85,98% das moradias reassentadas apresentavam falhas de acabamento, 60,64% têm esquadrias defeituosas, e outros 32,09% sofrem com infiltrações, além de fissuras nas construções (31,25%). O déficit de área, com lotes menores que os anteriores ao rompimento, inviabilizaria o restabelecimento das condições de vida anteriores. O processo de reconstrução foi pensado em conjunto com os moradores, a partir da escolha dos novos espaços, definida em votação a partir de uma pré-seleção de possíveis terrenos que comportassem as comunidades e fossem próximos ao local original.
Recentemente, no dia 6 de março, o prazo para as prefeituras dos municípios assinarem a adesão ao chamado Acordo de Mariana, assinado em outubro do ano passado, terminou, após o STF negar o pedido de extensão do prazo. A decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, indeferiu o pedido da Associação Mineira de Municípios (AMM) que solicitava a ampliação da data limite. O acordo prevê o pagamento de R$6,1 bilhões em indenização, distribuídos entre os 49 municípios afetados pelo rompimento da barragem do Fundão. Para a adesão à repactuação, os municípios precisam desistir do processo que está em andamento na Inglaterra desde 2018, e entrou em fase final. Atualmente, a justiça inglesa recebeu as alegações finais da acusação e da defesa, com expectativa de que a sentença seja divulgada até julho desse ano.

Espaço político
Para o grupo, a demarcação política na região é um ponto importante. Além da exposição, o Conterra atuou na organização do bloco-ocupação “O Berro”, em sua primeira edição neste carnaval. Parceria de vários projetos e órgãos, o bloco tomou as ruas de Ouro Preto (01), a partir da Ponte dos Contos, e Mariana (03), a partir da Casa de Cultura, reunindo moradores e moradoras dos dois municípios para denunciar os impactos da mineração na região.
Para a professora Monique Marques, Doutora em Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia, professora do DEARQ e coordenadora do Conterra, o carnaval mineiro possui esse demarcador político. “Aqui tem um viés político, né? Acho que o carnaval de Minas Gerais acaba tomando essa perspectiva. Não partidário, mas político, de defesa de direitos humanos”, comentou a professora.
A professora Flora também ressalta a importância dessa primeira exposição na Escola de Minas, que recebe estudantes dos cursos de Engenharia da Universidade “A gente sabe que tem um papel da mineração e das mineradoras muito forte, e a gente conseguir colocar isso, e debater isso com os estudantes da Escola de Minas para a gente era muito importante”, detalha.
O Conterra
O Conterra é um grupo de pesquisa e extensão, vinculado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DEARQ) da UFOP. Foi cadastrado no CNPq em 2023, consolidando parcerias e dando continuidade a pesquisas que vinham sendo desenvolvidas desde 2016 em conjunto com a população atingida de Mariana e sua equipe de assessoria técnica. O grupo é coordenado pelas professoras Monique Marques e Flora Passos, pesquisadoras do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFOP. Atualmente, é integrado por estudantes de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Urbana, contando também com a colaboração de outros pesquisadores. Além das duas professoras citadas, participaram da montagem da exposição estudantes integrantes do Conterra: Ana Mel, Ana Paula Cardoso, Carla Neves, Flora Neves, Iara Brito, Maria Júlia Cintra, Patrícia Milagres, Pedro Correa, Thiago Correia.

