Polarização Política e Religião
“Nas coisas acidentais, liberdade; nas coisas essenciais, unidade; acima de tudo, caridade (Santo Agostinho)
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Ouça o áudio de "Polarização Política e Religião", do colunista Júlio Vasconcelos:
Confesso que venho andando muito preocupado com o contexto extremamente polarizado que estamos vivendo aqui pelas terras tupiniquins nos últimos tempos! Recentemente um amigo me enviou uma mensagem extremada com um vídeo de um político de direita demonizando a esquerda e dizendo que é absolutamente impossível o estabelecimento de um diálogo entre ambos os lados no nosso País. Só uma guerra sangrenta poderia resolver o problema! O pior é que, pelo visto, esse clima radicalizado já está contaminando os meios religiosos. As religiões estão divididas em seus posicionamentos, não só entre si, mas entre seus próprios seguidores!
Infelizmente o que temos visto é que a Igreja Católica parece estar se dividindo no meio desse furacão! Alguns religiosos católicos têm demonstrado claramente que se alinham com as políticas mais progressistas de esquerda, relacionadas à distribuição de riqueza e a agendas de direitos humanos que desafiam as visões tradicionais. Entre eles, os cientistas políticos citam Dom Luiz Eulálio, Arcebispo de Belém, que tem se alinhando com movimentos de esquerda em temas como reforma agrária e direitos dos povos indígenas. Frei Betto, um dos expoentes da Teologia da Libertação que ficou preso pela ditadura durante quatro anos e seu companheiro, o Teólogo Leonardo Boff, afastado da Igreja Católica desse 1992, por questões também ligadas à Teologia da Libertação, ambos colaboradores do Instituto Conhecimento Liberta – ICL, uma produtora de conteúdo conhecida por sua orientação progressista de esquerda. Além desses religiosos, os cientistas políticos citam também a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que apesar de ser uma entidade plural, é vista como inclinada a posições sociais progressistas em certas notas públicas, especialmente no campo dos direitos humanos e da justiça social.
Da mesma forma, por outro lado, outros religiosos católicos, como afirmam os estudiosos do assunto, tem demonstrado que se alinham mais com as políticas da direita relacionadas à defesa da moral tradicional e da família, com severas críticas às políticas progressistas da esquerda. Entre eles, os cientistas políticos citam Dom Fernando Rifan, da Diocese de Campos dos Goytacazes, tradicionalista que já apareceu em eventos ligados a destacadas figuras conservadoras de direita. Padre Paulo Ricardo, sacerdote bastante influente nas redes sociais, conhecido por sua defesa do conservadorismo moral e suas críticas à Teologia da Libertação e ao marxismo cultural. Frei Gilson, que defende abertamente os ensinamentos tradicionais da Igreja e tem colaborado com a Brasil Paralelo, uma produtora de conteúdo conhecida por sua orientação conservadora de direita. Além desses religiosos, os cientistas políticos citam também os Movimentos como o Opus Dei e Arautos do Evangelho.
Esse contexto polarizado tem criado uma situação onde as opções ideológicas de muitos católicos são vistas quase como decisões religiosas, confundindo o que é espiritual com o que é político e temporal. Isso tem levado a um enfraquecimento do discurso pastoral, já que líderes religiosos se tornam mais defensores de uma ideologia do que pastores do povo. Além disso, isso tem gerado o risco de fragmentação da Igreja, com fiéis se distanciando ou se agrupando conforme suas afinidades ideológicas.
O maior desafio para a Igreja Católica hoje é manter a unidade de sua base, enquanto lida com uma sociedade dividida. A Igreja tem a oportunidade de oferecer uma alternativa ao extremismo político, colocando a solidariedade, a inclusão e a compaixão no centro do debate político, sem se vincular a uma ideologia específica.
No meio dessa confusão, felizmente surgem alguns líderes religiosos, como Padre Fábio de Melo que, em suas reflexões, enfatiza a importância de não instrumentalizar a fé para fins políticos e alerta contra discursos que promovam a divisão e o ódio. Em um de seus programas, discutiu como melhorar, à luz do Evangelho, a situação política do país, destacando a necessidade de atitudes diárias que reflitam os ensinamentos cristãos. Na mesma linha, Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília, tem enfatizado a importância do diálogo e da superação de polarizações políticas, buscando promover a unidade e o bem comum, à luz dos Evangelhos.
Bom seria que todos os crentes se livrassem das influências nefastas de lideranças políticas perversas, abandonando o radicalismo e colocando verdadeiramente em prática os princípios evangélicos e cristãos, para que todos, apesar das diferenças, sejamos um, como nos conclama o Cristo no Evangelho de João Capítulo 17, versículo 21.
Quem tem ouvidos, que ouça!

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