- Região dos Inconfidentes
Povo Borum-kren reforça presença na Região dos Inconfidentes
No Dia dos Povos Indígenas, conheça a trajetória de luta e resistência dos Borum-kren na Região dos Inconfidentes.

O Dia 19 de abril é a data estabelecida para reconhecer e valorizar a diversidade cultural dos povos originários do Brasil, além de reforçar a luta por seus direitos e pela preservação de suas terras. A partir de reflexões sobre a importância de manter viva a memória e identidade desses povos, é essencial conhecer a história dos Borum-kren neste Dia dos Povos Indígenas, visto que é uma comunidade que viveu na Região dos Inconfidentes desde o início do ciclo do ouro.
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A memória indígena Borum-kren
Os Borum-kren são indígenas originários do Alto Rio das Velhas, de Paraopeba. Eles ocuparam essa região séculos antes da chegada dos bandeirantes paulistas e, após anos de etnocídio e silenciamento, se reergueram para retomar sua cultura ancestral.
Em 1775, aconteceu uma campanha de extermínio contra este povo, que era visto como forte ameaça ao longo da colonização pela sua cultura guerreira. A campanha se intensificou com a “Guerra Justa”, que mirou diversos outros povos.
O movimento de ressurgência dos Borum-kren se iniciou no início dos anos 2000, com o historiador e cacique Danilo, envolvendo a retomada de sua cultura, tradições e identidade. Depois de um longo período de escuta dos mais velhos, que guardavam consigo a história do povo, e de organização política, os Borum-kren descobriram que eram considerados extintos, uma realidade enfrentada pelos povos de Minas Gerais.
“A gente foi criando um movimento político de reafirmação para poder nos mostrar enquanto um coletivo organizado. Não fui eu que me auto intitulei, o próprio povo que me deu o título de cacique, e eu assumi”, relata Danilo.
A partir desse título, o cacique explica que há questões de reivindicação de seu povo que ainda estão pendentes, como a territorialidade. Esse termo é utilizado para explicar a relação entre uma sociedade e seu território, como a localização dos indígenas de um povo. Ou seja, se diferencia do conceito de demarcação de terra, que é um processo administrativo que identifica e sinaliza os limites de um território.
“Como Ouro Preto era uma cidade que tinha como objetivo apagar o indígena, não teve aldeamento, o ajuntamento de pessoas. E o que aconteceu foi que os nossos antepassados se espalharam pelo território”, relembra Danilo.
Dessa forma, é possível achar os indígenas Borum-Kren, que não tiveram costume de se organizar socialmente, em todos os distritos, sub-distritos e zonas rurais de Ouro Preto, Itabirito, Mariana e possivelmente nas cidades próximas.
Por não ter aldeamento, foi necessário que escolhessem Santo Antônio do Leite como um ponto de referência para dar início ao processo de etnociência (forma de pensar e produzir conhecimento) do povo. A escolha foi feita pela avó de Danilo, nascida e criada no distrito, sendo responsável também pela autodenominação “Borum-kren” a partir do resgate de sua língua e relatos.

Hoje, os Borum-kren, que já foram chamados ao longo da história de Botocudos, Aredes, Aimorés, Tabojaras, Buieié, Guarachues, Cataguases, Marititas, Bucãs, Matitás, Golanás e Guaianás, guardam um patrimônio que a colonização tentou apagar.
“Ouro Preto é marcado por um processo de genocídio indígena. Então as pessoas ainda têm medo de se declarar indígena aqui, pelo fato desse processo de violência que acabou recentemente, em 92. Esse é um dos desafios atuais, que a gente tem que avançar”, relata Danilo sobre a importância de manter viva a memória e identidade dos Borum-kren em um lugar tão marcado pelo passado colonial.
Apesar dessa violência e da desinformação (até de indígenas que podem não saber que são indígenas), a Prefeitura de Ouro Preto conta, atualmente, com a Diretoria de Igualdade Racial dentro da Secretaria de Cultura e Turismo, formada por dois departamentos, o de Cultura Negra e o de Cultura Indígena. Além de ser cacique, Danilo também atua como o chefe do Departamento de Cultura Indígena. Como resultado, a discussão sobre o reconhecimento do povo pelo município é maior nos dias de hoje. “Vivemos em uma cidade bem preconceituosa, então todo dia trabalhamos levando discussões, trazendo informações de que existe um movimento, de que estamos lutando. Isso não é da noite para o dia, é com o tempo”, explica o líder indígena.
A fim de preservar as tradições culturais para gerações futuras, Mariana a câmara de Mariana aprovou o Projeto de Lei nº 95/2025 que propõe a comemoração do “Dia Marianense das Tradições de Matrizes Africanas, Afro-brasileiras e Indígenas”.
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Importância do Dia dos Povos Indígenas
Em julho de 2022, a Lei 14.402/22 definiu 19 de abril como o Dia dos Povos Indígenas, não mais o Dia do Índio. A data foi rebatizada para valorizar a herança desses povos ao deixar de lado o termo “índio”, considerado preconceituoso contra os povos originários.

O propósito da data é reconhecer o direito desses povos e fortalecer suas identidades, línguas e religiões. “Não colocamos o dia 19 como uma data festiva, mas sim memorável e, por isso, trazemos a memória da luta e resistência indígena, que tem a mesma pauta de 1500”, reforça o cacique Danilo.
Ele lembra, então, que as pautas do movimento indígena brasileiro são praticamente as mesmas, como exemplo da territorialidade e da perda dos direitos civis. Além disso, o dia 19 também atua no combate de estereótipos negativos contra o indígena, trazendo as problematizações específicas de cada povo.
“A gente sabe as demandas do povo e sabe das limitações que vamos encontrar dentro do poder público. Infelizmente não temos conseguido avançar muito com o governo Zema, mas com o Governo Federal, temos conseguido participar de articulações com outros povos”, conta Danilo.
Essas articulações promovem conversas e parcerias que, de acordo com o cacique, são a melhor forma de luta nos dias de hoje. “Nossa estratégia de luta é essa, de trazer discussão dentro desses de espaços que antigamente não ocupávamos”, completa ele.
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Serviço
A comunidade Borum-kren vem se revelando, se fortalecendo e se organizando, ganhando mais visibilidade a cada dia que passa.
Após as celebrações da semana santa e para que o dia 19 não passe em branco, a comunidade preparou eventos para manter viva a memória e a trajetória de lutas, além de relembrar os saberes ancestrais que fazem parte da identidade Borum-kren.
- Descobrimento ou invasão?
O debate “Descobrimento ou invasão” vai abordar temas como protagonismo dos povos originários e a chegada dos portugueses ao litoral de Pindorama.
A programação conta com a comunidade Borum-kren e representantes de outros povos, assim como mais convidados, para mediar as seguintes atividades: mesa de conversa temática, espetáculo, performance e exposição de artes.
Dia: 22 de abril
Horário: 16h00
Local: Casa de Cultura Negra, rua Padre Faria, número 14 – Ouro Preto
- Jagy Nak – Sabedoria da Terra
O espetáculo “Jagy Nak – Sabedoria da Terra”, orientado por Danilo, vai contar histórias sobre o povo Borum-Kren. A dramaturgia foi tecida a partir de conversas e entrevistas e cada cena segue o ciclo do plantio (semente, terra, água, tempo, sol e polinização), a fim de traçar um caminho de vida e memória.
Dia: 22 de abril
Horário: 18h00
Local: Casa de Cultura Negra, rua Padre Faria, número 14 – Ouro Preto
