Relatos de um carioca na Primaz

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Como você explicaria a cidade de Mariana para alguém que não a conhece? E a cidade de Ouro Preto? A tarefa ficaria mais fácil se a pergunta fosse: quais são os costumes e as características das pessoas que vivem lá?

Me fiz essas perguntas há exatos seis anos atrás. Na época, um carioca com 19 anos recém completados. Depois de muita reflexão tinha decidido me aventurar, largar a boa vida da cidade maravilhosa, repleta de muitos amigos e privilégios, para viver em outro Estado, sem conhecer absolutamente ninguém e com histórias sobre carnaval como única referência do meu destino.

O motivo? Arrisquei jogar minha nota do Exame Nacional do Ensino Médio para a Universidade Federal de Ouro Preto. Passei. Calouro do curso de Jornalismo e ansioso que sou, já estava imaginando como seria meu “trote” na faculdade – no Rio os trotes são famosos nas Universidades, brincadeiras como: estar todo pintado e pedir dinheiro no sinal, mudar fotos do perfil das redes sociais, entre outros. São atividades bem comuns. – Mal sabia eu que os desafios seriam outros. O primeiro deles? O frio.

Em agosto ainda estamos no inverno e, apesar de Ouro Preto ser ainda mais alto que Mariana, a primaz de Minas é drasticamente mais gelada que a capital carioca. Eu não tinha nem roupa para isso. Outra coisa que eu não poderia prever era a má fama que cariocas têm nas duas cidades. Por diversos episódios que ocorrem durante o famoso carnaval ouro-pretano, gerou-se uma certa antipatia, e claro, sem conhecer, primeiro vem as reclamações.

A saudade é outro fator que incomoda, tanto da família, como dos amigos e até da praia. Mas Minas Gerais é capaz de compensar isso de outras formas. Pão de queijo e café preto e quente pela manhã, mesa farta com a culinária tradicional no almoço e algo mais leve à noite. Terra de gente educada, cumprimentam todos que passam ou encontram. Em Minas se fazem ótimos amigos, principalmente se está vinculado a alguma república, ai vira tudo família mesmo.

Mariana e Ouro Preto são lugares de pessoas simples, lá não precisa de muito para viver, mineiro é um povo trabalhador, apesar de tranquilo e humilde. Não se vê a correria do Rio, ao mesmo tempo, pegam cedo no batente. Dificilmente ficam bravos ou se estressam, mas quando o fazem sabem como controlar a ira, é até engraçado, o povo é educado até pra brigar. Entre uma hora e outra, fuma-se um “paiolzinho” para relaxar.

Cachoeiras e trilhas são locais muito frequentados, principalmente na região dos inconfidentes, mas não mais que os bares. Ô povo que gosta de beber. Ao contrário do Rio, e até de BH, os marianenses e ouro-pretanos não são muito de ligar pra estética corporal. Do jeito que se está sempre “está bom”. O que não pode, em hipótese alguma, é ser ruim de papo. A propósito, conversar fiado, não é ser prosa ruim, até cai bem dependendo do momento. Lá também não se tem o costume de sair para boates e noitadas. O bom é festa open bar.

E no meio de tudo isso, tem espaço, muito espaço, para o turismo e para as igrejas. Por serem cidades históricas tem turistas de todos os lugares do mundo o ano inteiro. E no meio de tanta loucura de Universidade, se reza bastante, são cidades muito religiosas, de vibe e vibrações muito boas. Quem vive por lá, têm dificuldades em sair.

Seja no Barroco ou no Snooker, no Jardim ou na Savassinha da Bauxita, na praça Tiradentes ou na praça Minas Gerais, no largo do Rosário ou na praça da Sé, não importa, entre uma rua de pedra e outra sempre se encontra um matuto pronto para contar um causo pra quem quiser ouvir. Tenho a impressão de que qualquer pessoa será bem tradada e de que sempre tem lugar pra mais um. Mariana e Ouro Preto são cidades históricas, que nos remetem a um sentimento de nostalgia e saudade, mas que ao mesmo tempo nos trazem conforto e bem-estar. Morei por 4 anos por estas bandas e posso afirmar: Senti muitas saudades do Rio e do litoral, mas percebi que Minas é um lugar surreal, diria que até transcendental.

(*) Lucas Santos é jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

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