Um pino solto na gestão municipal em Mariana

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

Compartilhe:

[wpusb layout="rounded" items="facebook, twitter, whatsapp, share"]

Todos sabemos um pouco sobre o funcionamento das engrenagens. Uma peça deve estar devidamente alinhada e ajustada à outra, de modo que todas consigam funcionar juntas em busca de um objetivo único. É preciso ainda uma boa lubrificação para que o inevitável atrito entre elas não desgaste prematuramente a relação. Sem contar no cuidado com os fatores externos, como poeiras e pequenos detritos, que podem se intrometer indevidamente travando o correto funcionamento do mecanismo.

A gestão pública municipal nos permite uma analogia com o funcionamento das engrenagens. Todos os participantes, do prefeito ao mais simples cargo comissionado, devem estar em sintonia e comprometidos com o objetivo firmado com a população nas urnas. Os servidores efetivos, por sua vez, independente dos interesses pessoais, são responsáveis pelos procedimentos técnicos mais complexos e contínuos, essenciais à fixação de outras peças, que se renovam a cada quatro anos. 

O correto funcionamento dessa engrenagem pública depende ainda de uma boa lubrificação política entre todos, de modo que os inevitáveis conflitos não sejam capazes de impedir o funcionamento e a continuidade dos serviços. É terrível quando se perde tempo discutindo relações interpessoais com os serviços à população parados. O mesmo com relação aos agentes externos, que são muitos! Empresas, entidades, adversários políticos e até mesmo cidadãos com interesses nem sempre nobres conseguem atrapalhar todo o funcionamento da gestão pública. É preciso saber identificar e afastar os intrometidos que emperram as engrenagens.

Nesse sentido, observando a gestão pública em Mariana fica a impressão de que há um pino solto ou uma engrenagem travada. Algo está nitidamente impedindo o funcionamento adequado da máquina administrativa municipal. Isso porque, observem, apesar dos recorrentes anúncios de verbas, projetos e repasses, além de uma invejável arrecadação própria, sobram obras abandonadas e inacabadas. Na educação os indicadores são medianos. Na saúde a pandemia do coronavírus escancarou as dificuldades. Na mobilidade urbana é nítido que os acessos aos principais bairros são precários, não há transporte público licitado e os pedestres são as vítimas mais recorrentes da violência no trânsito. O lixo não tem o tratamento adequado. As reparações da maior tragédia ambiental do país ainda são promessas, a mineração continua desregulada e as ferramentas de transparência pública são precárias.

Mas é preciso cuidado na atribuição de responsabilidades, pois as engrenagens são muitas! É bem verdade que os prefeitos costumam juntar na prefeitura mais peças que o necessário ou peças com defeitos. Também é fato que conciliar tantas peças não é tarefa simples, já que cada uma tem uma forma, origem e composição. Mas é preciso entender, sobretudo, que o eleitor faz parte da gestão municipal. As vezes o pino solto ou a engrenagem emperrada é aquela que só aparece a cada quatro anos. Para que tudo funcione bem e os resultados apareçam é preciso que cada cidadão esteja igualmente comprometido com o interesse público e participe ativamente do funcionamento dessa importante máquina de serviços que está presente no dia-a-dia de cada um de nós.

(*) André Lana é advogado, militante nas áreas de direito público e gestão social

Veja Mais