Mentalmorfose

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Três anos. Esse foi o tempo que vivi na cidade de Mariana em Minas Gerais. É engraçado perceber e analisar a passagem dos anos depois que presente transforma-se em passado. Sempre tive a impressão de ter vivido mais tempo na Primaz de Minas, seja pela quantidade de mudanças que aconteceram ao longos dos anos ou pela velocidade com que tudo ocorreu. Muita coisa mudou. Alguns estabelecimentos fecharam, outros abriram, os pontos de encontro e referencia mudaram, pessoas chegando e outras indo embora, tudo isso em uma cidade histórica e universitária do interior, com pouco mais de sessenta mil habitantes.

Cheguei em Mariana em 18 de agosto de 2014, pós Copa do Mundo no Brasil com a Seleção Brasileira sendo eliminada pela Alemã pelo fatídico placar de 7 a 1. Na época a República Estudantil na qual eu morava, ficava na frente de um dos câmpus da Universidade Federal de Ouro Preto, localizado na Primaz, o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), na rua do Catete. Lembro-me bem que naquele tempo o Açaí Brasil estava se consolidando na Rua Direita, tendo outros dois pontos abertos na cidade, um no Jardim e outro na rua da feirinha, logo abaixo do famoso “Snooker”.

A igreja da Sé realizava missas constantes, os dois principais mercados do Centro Histórico eram o Eldorado e o Varejão (que fica depois da rua dos bancos), e eles fechavam impreterivelmente às seis da tarde. As farmácias revezavam os dias para funcionarem durante a madrugada. O Sagarana era o point dos estudantes nas quintas-feiras, a boate “Nomad” era a principal atração noturna dos fins de semana, o bar do Carlão era o melhor destino para quem curtia um boteco raiz e respirava futebol; e o Snooker Bar funcionava todos os dias da semana e atraia o grande público fã de cerveja gelada e partidas de sinuca. 

Os principais “rolês” gastronômicos eram o Tuca’s Bar, a Chopperia São Pedro e o Xororó. Depois da meia noite os trailers na beira do Ribeirão do Carmo e o Corujão eram os únicos destinos possíveis. O restaurante/bar/lanchonete “Dois Irmãos” era o melhor custo benefício de quem queria almoçar fora em fim de mês. O Restaurante Universitário funcionava todos os dias da semana, porém aos sábados e domingos somente no almoço e o postinho do Catete era o único lugar que funcionava 24h, entretanto, o preço acabava sendo elevado por conta disso. 

Ao longo desses três anos as pessoas começaram a fazer piada do 7 a 1. A até então Presidente na época, Dilma Roussef, sofreu um impeachment. A República Insônia, a qual eu morava, e também outras repúblicas amigas, se mudaram, a maioria com destino ao bairro São Gonçalo, o Açaí Brasil fechou seu ponto na rua da feirinha, manteve o do Jardim, com o mesmo nome, e transformou o da Rua Direita que agora é conhecido como Rústico Cafeteria.

A Igreja da Sé foi interditada pelo Iphan por motivos de reforma e revitalização, permaneceu fechada por pelo menos 2 anos, reabriu, mas voltou a ser fechada para conclusão das obras. O Varejão expandiu seus negócios e abriu um segundo estabelecimento perto da Prefeitura, conhecido pelo mesmo nome, mas com o horário estendido. 

Durante esse tempo chegou o Subway, o Chef Guimarães, o Sandri’s, a Lafayete Gourmet, a Rock’n Road Bar-bearia, o Bola Branca, diversas opções gourmets por toda a extensão da rua do Catete e da avenida Nossa Senhora do Carmo. Por outro lado o Tuca’s bar, o Corujão e a Nomad fecharam as portas. O Restaurante Universitário passou a funcionar apenas de segunda a sexta, o Dois Irmãos tornou-se um boteco, o Postinho do Catete deixou de ser 24h, o Sagarana não bomba mais como antes e o Carlão passou o ponto para uma outra pessoa, o Sidney, que inclusive também deu seu próprio nome para o estabelecimento. 

Mariana mudou. O mundo mudou. Todos mudamos. Menos o tempo, esse apenas passou. Da mesma forma que esperamos, ansiosamente, o fim da pandemia. Com o passar do tempo eu também acabei mudando. Me formei e me mudei de Mariana, com o intuito de dar lugar para outros poderem aprender, crescer, amadurecer, viver e ver o tempo passar e as coisas mudarem da mesma forma que hoje eu posso fazer. Mudei os hábitos, as manias e os lugares que frequentava, só o que ficou foi a essência. Esse texto acabou se desenhando mais como uma reflexão. No fim, assim como o tempo, ele também passou. Como tudo passa. E algo em tudo que passa, fica.

(*) Lucas Santos, jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

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