A “gourmetização” do consumo

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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É comum nos depararmos com a palavra gourmet nos corredores dos supermercados, padarias, nos cardápios dos restaurantes e outros estabelecimentos. Nos últimos anos vivenciamos a popularização dessa palavra.

A palavra gourmet era utilizada na França no século XVIII com finalidade de atribuir uma qualidade às pessoas que apresentavam um paladar refinado. Já no século XIX, com surgimento dos primeiros restaurantes (tal como os conhecemos hoje), a palavra passou a ser utilizada para identificar os clientes que frequentavam esses estabelecimentos.

Ao longo dos anos, a utilização da palavra gourmet sofreu grandes mudanças no mercado de consumo. Nos dias de hoje, o fenômeno da “gourmetização” é presenciado nos mais diversos produtos e serviços.

Um fato que acabou por estimular a popularização da utilização da palavra gourmet foi o crescimento do número de programas culinários na televisão, que passaram a transmitir para o público em geral a existência dos produtos gourmet. Muitas vezes apresentados de modo a gerar uma interpretação de que seriam possuidores de características diferenciadas e mais sofisticadas.

 Hoje, vários produtos e serviços tradicionais são acompanhados das palavras gourmet, VIP, premium, gold, extra, 2.0, dentre outras. Do simples brigadeiro vendido pelo colega de sala, passando pela cerveja feita no fundo do quintal e chegando até mesmo a uma torneira de cozinha gourmet.

Mas o que estes termos possuem em comum? Bom, a finalidade de atrair a atenção do consumidor para algum produto ou serviço disponível no mercado de consumo. E nada mais do que isso.

O marketing tem o importante papel na utilização destes termos. O objetivo é criar nos consumidores a necessidade de fazer parte do seleto grupo de pessoas que consomem esse tipo de produto ou serviço. Tanto é assim, que a todo momento o consumidor é bombardeado com informações que esclarecem muito pouco sobre as características do produto ou serviço.

Pois bem, o consumidor é um sujeito realmente complicado de se entender. Muitas vezes sãos essas “palavras mágicas” que o convencem na hora de escolher qual produto será adquirido ou qual serviço irá ser contratado. Efeito semelhante é observado em relação às palavras promoção, desconto e liquidação, mas vamos deixar para falar destas palavras em outro momento.

Esses estímulos utilizados para convencer o consumidor são fruto do contexto econômico que caracteriza a nossa sociedade como de consumo. O ato de consumir é constantemente validado e estimulado pelos mais diversos mecanismos e estratégias adotadas pelos fornecedores. Estes, por sua vez, não perdem a oportunidade de dar aquele “empurrãozinho” para que o consumidor decida por adquirir o seus produtos e serviços.

Porém, ao se analisar o conteúdo dos diversos produtos que adotam os termos gourmet, premium, 2.0, extra, entre outros, percebe-se que, em regra, eles não apresentam significativas mudanças ou vantagens, quando comparados com outros produtos que não são considerados gourmet. Ou seja, em regra, não há significativo aumento da qualidade nos produtos “gourmetizados”, ainda que os seus preços sejam maiores. E é aí que está a armadilha.

Paulatinamente tem-se observado o surgimento de novos produtos apresentados como gourmet somente com um único diferencial: o preço majorado.

A utilização dos termos já citados, objetivamente falando, transmitem pouca informação e, por isso, utilizam das nossas interpretações para nos convencer de que, se um produto é gourmetizado ele é de melhor qualidade. Com efeito, cria a percepção de que vale a pena pagar um preço maior para a sua aquisição.

Para evitar cair nessa armadilha é necessário extrema atenção do consumidor: atenção para ler os ingredientes do produto, atenção para comparar os produtos que apresentam as mesmas características e que não foram “gourmetizados”, atenção para comparar marcas diferentes do mesmo produto, bem como atenção para identificar a existência de significativa variações de preços entre os produtos “gourmetizados” e os não “gourmetizados”.

Não se deixe iludir por estas palavrinhas mágicas que, no fundo no fundo, não justificam você pagar mais pelo produto que está levando para casa.

É isso aí, até a próxima. E não se esqueçam, somos todos consumidores.

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(*) Felipe Comarela Milanez é professor do curso de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto e coordenador do Núcleo de Direito do Consumidor da UFOP.

Pabline Santos Fernandes é aluna do curso de Direito da UFOP e membro do Núcleo de Direito do Consumidor da UFOP.

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