Dissolver e Recompor
Leia ao som de “Alegria Compartilhada” – Forfun
- Lucas SAntos (*)
- 05/09/2020
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Hoje, numa tentativa de meditação, realizei a famosa técnica milenar de fechar os olhos, imaginar coisas boas e respirar pausadamente, inspirando pelo nariz e soltando o ar pela boca. Não sei o motivo, mas o dia está lindo e minha ansiedade resolveu navegar por todo o meu corpo. Durante a tentativa de acalmar minha agitada alma me lembrei de um fato: estamos iniciando o mês de setembro. 2020 está sendo tão atípico que agosto passou voando, que ironia!
Pois é, eis que então passou pela minha cabeça que faltam poucos (apenas 22) dias para acabar o inverno e começar a primavera. Já é tempo de florescer, renovar as energias e trazer, na medida do possível, a alegria e o aconchego para a rotina. A primavera sempre me transmite isso. E acho que dessa vez eu sei o motivo.
Imediatamente me transportei mental e psicologicamente para a cidade de Mariana-MG. Como se estivesse vivendo realmente um sonho. Eu estava no meio da Rua Direita, até o momento sozinho. Parecia que estava em algum momento entre às cinco e às seis da manhã. O pote de ouro do gnomo começava a dar o ar de sua graça, surgindo devagar e rápido ao mesmo tempo por entre as montanhas e as nuvens, seu calor trazia a combinação perfeita para o vento frio que se despedia junto da madrugada.
Aos poucos a cidade foi acordando e o tempo não podia mais ser cronometrado. Era como se tudo a minha volta estivesse em velocidade aumentada. Algumas pessoas viviam suas vidas normalmente, abrindo as lojas, caminhando pelas calçadas… Já outras pareciam preparar a cidade para um evento. Tendas estavam sendo montados, palcos, decoração nas ruas. A partir desse momento eu via Mariana por inteiro, como se eu estivesse em um helicóptero.
Era lindo ver o resultado que as montagens iam tomando, as ruas ganhavam cores, o Jardim parecia mais vivo, eu podia jurar que o coreto estava sorrindo. A Praça Minas Gerais e a Sé com certeza fariam parte deste evento, era como se os pontos turísticos se interligassem. Existia magia no ar.
Será que eu estava vendo o carnaval? Outra sugestão era o famoso “Natal de Luz” de Mariana… Mas era estranho, afinal nenhum dos dois eventos aconteciam em setembro. Será mesmo que tinha alguma relação com o agora? Poderia, inclusive, ser uma viagem muito louca, um devaneio da minha mente que ansiava em fugir da realidade, afinal de contas até pote de ouro de gnomos eu mencionei… Mas não. Tudo parecia, ao mesmo tempo, real.
Logo em seguida as pessoas, todas elas, estavam olhando pra mim, o semblante triste, a energia e o atual momento vinham à tona, como uma espécie de desaprovação com o que estava acontecendo. Entendi que algo não poderia acontecer por conta de toda a pandemia, algo muito importante não seria realizado. E é preciso respeitar e entender que 2020 de fato está sendo um ano atípico, é tempo de reflexão e empatia.
Ao sentir meus lábios sussurrarem a palavra empatia, notei que cada pessoa que antes me olhavam tristes, agora tinham um semblante esperançoso, com um sorriso tímido, até que notei que cada uma delas carregava um cartaz com algo escrito em letras garrafais como: empatia, esperança, cura, amor, alegria, felicidade, gargalhada, cultura, harmonia, resiliência, companheirismo, amizade, entre outros.
Aos poucos uma pessoa vinha se aproximando, trajada com uma roupa colorida, um sapato muito maior que o de um tamanho normal, um cabelo colorido e logo atrás vinha uma legião de outros iguais, mas com estilos diferentes, foi então que entendi o que estava acontecendo. Tudo ficou claro e consegui reconhecer o rosto que vinha ao meu encontro. Era um grande amigo que fiz em Mariana. Xisto Siman Tudo fez sentido.
O sonho era confundido com saudade e com a energia maravilhosa e contagiante do Circo Volante, o Encontro Internacional de Palhaços que acontece em Mariana-MG, todos os anos e que em 2019 completou sua vigésima edição. O tempo foi extremamente preciso, afinal, os encontros normalmente acontecem no mês de setembro. Eu já estava muito mais calmo e feliz por minha meditação ter trilhado caminhos tão extraordinários. Resolvi escrever para que ficasse registrado.
O momento em que passamos é extremamente difícil e delicado. Interpretem como quiser. Há pessoas que acham que não é momento para rir e dar gargalhadas. Existem outras que já estão pirando com tanta notícia ruim, pandemia, tragédias e um país mal gerido por um Presidente que de empatia e compaixão não tem nada. Este texto não é sobre a realização de um dos eventos mais fantásticos que já tive a honra de participar e aproveitar, mas sim, sobre a magia, a energia e a positividade que o Circo Volante sempre fez questão de emanar. O Encontro Internacional de Palhaços é muito mais do que apenas um encontro. Permita que essa vibração preencha o seu ser.
(*) Lucas Santos, jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
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