Os artistas que Mariana tem e os artistas que Mariana pode ter

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Acho que é bom começar me desculpando com você, pessoa que está lendo o texto, pelo clickbait que eu me senti forçado a utilizar por aqui. O que não é de todo ruim, já que para pedir desculpas vou precisar explicar o que é clickbait, e isso, em períodos de eleição, pode fazer uma grande diferença.

Clickbait é uma tática utilizada para gerar tráfego online para sites, blogs e perfis em redes sociais por meio conteúdos enganosos ou sensacionalistas, mas, como é neste caso, também se refere à quebra de expectativa sofrida pelo usuário quando ele descobre que foi “fisgado” por um título que não entrega bem aquilo que prometia. No meu caso, eu usei o termo “artistas” para me referir aos criativos, os responsáveis pela Indústria Criativa mineira, mesmo sabendo que a palavra artista não engloba todo tipo de profissional desse segmento de indústria.

Bem… me desculpe por essa, mas, já que você chegou até aqui, provavelmente agora gostará de saber quais são esses profissionais que Mariana hoje já tem e quais poderiam ter, certo? Então vamos conhecê-los.

Os artistas que Mariana tem

Para entender melhor quais são os segmentos de artistas que Mariana tem, usei como guia alguns conceitos do IEL/ FIEMG, que separa a Indústria Criativa Mineira em 4 grupos: Criações Funcionais, Tecnologia e Inovação, Mídia e Cultura.

Nos dois primeiros grupos é possível ver uma quantidade maior de profissionais criativos — que dependem de criar e de inventar — maior do que a de artistas — que realizam ou produzem obras de arte, não necessariamente inéditas ou modernas. O que não é o caso dos segmentos mais observados em Mariana, onde existe uma predominância de MEI’s e empregados atuantes nos mercados de mídia e cultura.

Cultura

Gastronomia é um dos três subgrupos principais de Cultura pontuados pela FIEMG, e nesse tema a cidade vai muito bem, obrigado.

Em um relatório que publiquei no começo do ano no site do Valin, com apoio do SEBRAE, foi visto que 11.54% dos Microempreendedores individuais da cidade atuavam no setor de alimentação. Mas esses números podem ser ainda maiores, já que 24% dos que se enquadraram como “comércio varejista”, trabalham com segmentos de varejo direcionados à alimentação.

Mídia

Edição integrada à impressão foi outro segmento de MEI bastante apontado no levantamento que fiz pelo Valin e que ajuda a engrossar o caldo da Indústria Criativa marianense.

Além disso, para a FIEMG, a produção e edição musical entram como subgrupos de mídia. Itens muito bem pontuados na cidade por causa de suas bandas e estúdios de gravação.

O caso do Polo Audiovisual da Zona da Mata

Mesmo tendo alguns bons pontos dentro do segmento de mídia, nossa economia com base na Indústria Criativa poderia ser ainda melhor se seguíssemos alguns bons exemplos, como é o do Polo Audiovisual da Zona da Mata.

Criado em 2002, o polo fomenta a economia criativa com o desenvolvimento sustentável da Região da Zona da Mata, tendo o Audiovisual e as Tecnologias Digitais como segmentos estruturantes. Tudo isso em forma de um APL — que eu já falei a respeito aqui mesmo na Agência Primaz — que funciona graças ao trabalho cooperativo dos agentes envolvidos, que, inclusive, fizeram com que Cataguases (principal cidade deste polo), fosse uma das únicas cidades brasileiras a serem pré-selecionadas para fazer parte da REDE DE CIDADES CRIATIVAS DA UNESCO (Unesco Creative Cities Network – UCCN) em 2019.

Os artistas que Mariana tem… mas não tanto

Serviços ligados à arquitetura, publicidade, moda, design e criação de móveis, que são vistos como Criações Funcionais, até existem em Mariana, mas não tanto.

Criações funcionais

Serviços de publicidade e arquitetura aqui de Mariana já apareceram tanto no mapeamento de MEI’s do Valin, quanto nos dados do RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), porém, eles ainda são bem tímidos e pouco expressivos para apontar algum peso na economia local.

Os artistas que Mariana pode ter

Aqui é onde dói mais no marianense. Segundo um levantamento feito pelo Governo de Minas em 2016, o segmento de Tecnologia e Informação da Indústria Criativa, que tem como subgrupos Software e Conhecimento, é aquele que paga melhor seus trabalhadores.

São R$4.366,66 pagos em média para um funcionário de tecnologia e informação, contra os R$1.377,78 pagos para o pessoal de cultura. Este é o caso que praticamente não temos em Mariana.

Tecnologia e Informação

Startups, empresas de base tecnológica e até produtoras de games poderiam fazer parte uma fatia maior da nossa economia, como acontece no Triângulo Mineiro (10,10% da Indústria Criativa de lá é do segmento de Tecnologia e Informação) e no Sul de Minas (6,6%).

Em Mariana temos menos de 30 empresas que poderiam se enquadrar nestes segmentos, mesmo sendo uma delas a LiaMarinha, uma startup de base tecnológica que trabalha com o desenvolvimento e aplicação de biotecnologias ecológicas e sustentáveis para melhorar a qualidade das águas, finalista no Brazil Conference at Harvard & MIT e 1° colocado como negócio pré-operacional pelo prêmio Connected Smart Cities.

Em resumo: mesmo com bons exemplos e uma forte comunidade presente, como o Valin (comunidade reconhecida pela ABstartups — Associação Brasileira de Startups), o marianense ainda não viu neste setor um caminho para sua diversificação econômica.

Mais cultura

Tanto Patrimônio Cultural e Atividades Artísticas também são subgrupos de Cultura segundo a FIEMG, porém, quase inexistentes na cidade em comparação com gastronomia.

De acordo com os dados do RAIS, os setores de Artes, Cultura e Recreação com maior empregabilidade na cidade são, na verdade, ligados a outros segmentos, como academias e clubes esportivos. E mesmo nestes casos, o total de empregos gerados até o último levantamento (antes da pandemia), não passava de 40.

Pelo visto, falta algum tipo de entrega de resultado dos trabalhos realizados para fomentar as atividades artísticas na região por associações contratadas, tanto quanto um projeto de criação de empresas e vagas de trabalho relacionadas à conservação do patrimônio histórico local.

Caminhos Criativos para o futuro

Além da fomentação da cultura do cooperativismo, parece que falta profissionalização e projetos que de cunho tecnológico para a Indústria Criativa de Mariana, que poderia (e pode) ser bem mais presente na economia do que é hoje. Mas para isso, precisaríamos mostrar outros caminhos dentro da cultura para a população, melhorar o acesso a verbas de editais, como os da Fundação Renova, assim como diversificar e ampliar os nomes escolhidos pelo Estado para fomentar essa indústria no município.

Na próxima quinzena mostrarei como o Turismo pode ser um dos caminhos para salvar a economia de Mariana no pós-pandemia. E já aviso: algumas das soluções envolvendo o turismo em nossa cidade ainda não foram colocadas como opções para a população.

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