Cartas pra Mãe: Que país foi esse?
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Mãe,
Estou com saudade do Brasil. Sei que a senhora deve estar pensando que sinto falta de encontrar feijão carioca em qualquer prateleira, ir pra roça e contar casos, tomar açaí com os meninos enquanto assistimos a um filme de terror. Do jardim. Dos vizinhos. Da varanda aí de casa.
Tá certo, Mãe. Estou com saudade de tudo isso. Mas a falta maior quem faz é um Brasil que não existe mais. Ou que está tão escondido que a gente custa a ver, mesmo reparando em cada cantinho com cuidado.
O tenho saudade MESMO é do Brasil que investia em educação. O Brasil das cotas, do Pró-Uni, do Ciências sem Fronteiras. O Brasil da merenda farta, do Bolsa Escola, das creches públicas. O Brasil que não tinha medo de educar, que não se sentia ameaçado pela ciência e informação.
Tenho saudade do Brasil que acompanhou um operário até Brasília. Que fez festa, riu e nadou nas águas do Planalto. Do Gil na cultura, do Haddad na Educação, do Patrus.
Do Brasil que não fazia continência pra gringo, que deu as mãos para a América Latina. Que ousou apostar no sonho. O Brasil do SUS. Do Bolsa Família. O Brasil que me viu crescer, enquanto crescia.
Tenho saudade de olhar o Brasil e me reconhecer, Mãe. De usar verde amarelo. De cantar gol da seleção sem ter vergonha do camisa 10. Saudade do Brasil que era um solo fértil e hoje enterra os seus, sem se assustar, nem sofrer. Saudade do Brasil que chorava e ainda se impactava com o horror.
Um Brasil que ousava se chamar de país do futuro.
Que país foi este, Mãe? E que país virá?
(*) Jamylle Mol é jornalista e marianense
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