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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Grace and Frankie e a leveza em envelhecer

Série original da Netflix é uma sitcom divertida e que mostra como envelhecer pode fazer bem, ao lado de uma boa amizade

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Estamos envelhecendo. Todos nós. O que não parece envelhecer são as histórias em que o amor e as descobertas da vida jovem tendem a ter sempre. São inúmeras as obras que retratam isso e, quase todas elas, parecem ser atemporais: estão sempre presentes com novos títulos, mesmo que em roupagens diferentes.

E o que seria de uma série que lidasse com quase os mesmos temas, mas com protagonistas octogenárias (ou quase lá)? Grace and Frankie faz isso e de uma forma incrivelmente leve. E um tema sempre muito presente nessas obras mais joviais: a amizade.

As duas protagonistas formam o casal perfeito. Ou não. Duas mulheres já estabelecidas na “terceira idade” com casamentos bem consolidados parecem não ter muito mais a descobrir da vida. Além de serem “rivais” e não se suportarem nos diversos encontros de família, graças à sociedade entre os maridos.

Mas tanto Grace, na pele da icônica Jane Fonda, e Frankie, Lily Tomlin, precisam lidar com um choque que abala toda a família: ambas são traídas pelos maridos, que mantêm um caso entre si há 20 anos e que querem, agora, se divorciar delas e se casarem!

A grande revelação do amor entre Sol (Sam Waterston) e Robert (Martin Sheen), então maridos, respectivamente, de Frankie e Grace, leva as protagonistas a conhecerem mais de si e da outra, quando precisam dividir a mesma casa. E formarem uma amizade um tanto quanto improvável.

Os desafios disso são condizentes com a idade, como a preocupação com a segurança, a saúde e a vida rotineira, mas não só. Elas também lidam com as diferentes personalidades uma da outra, com o amor, com as desavenças, com a vida dos filhos – por mais independentes que sejam – e, claro, com o ato em si de envelhecer.

Não há uma romantização acentuada do “ficar velho”. Há pontos, mas não é o foco. Tanto Frankie quanto Grace descobrem que a vida, nessa idade, há muito do que se aproveitar em oportunidades que não podem ser desperdiçadas. Por isso, abrem empresa, debatem tabus como a vida sexual nessa faixa de idade, discutem representatividade e lidam, claro, com o difícil cenário de uma separação traumática.

Nesse emaranhado de situações, há um destaque na atuação. Todos parecem muito bem confortáveis com seus papéis. Jane Fonda dispensa elogios, parece carregar no nome de família o dom da atuação. Idem Martin Sheen.

Mas, Lily Tomlin e Sam Waterston (dos veteranos, talvez, os menos conhecidos) são um show à parte. Lily entrega uma Frankie energética, cheia de vida e disposta a superar seus traumas. Sol é engraçadíssimo, daquelas pessoas que é sempre bom estar por perto e trocar um bom papo.

Cenas com ambos são certeza de gargalhadas, ainda mais quando confrontados com seus parceiros, bem mais convencionais (o que não é uma crítica negativa: apenas uma sinalização de suas personalidades).

Há ainda o núcleo das “crianças” formado pelos filhos dos casais: Mallory e Brianna, de Grace e Robert, e Bud e Coyoete, de Frankie e Sol. Todos aproximadamente com a mesma idade e amigos entre si. Cada um com seus problemas da vida adulta, como casamento, filhos, drogas e trabalho, por exemplo

Eles trazem à tona boas doses de conflitos geracionais com os pais, mas com a força da família, mesmo que repentinamente em crise, conseguem ficar unidos. Nesse núcleo, destacam-se a forte personalidade Brianna (June Diane Raphael) e o “caos pacífico” de Coyote (Ethan Embry), que são completados (mutuamente) com seus irmãos Mallory (Brooklyn Decker) e Bud (Baron Vaughn).

Na Netflix, são seis temporadas com 13 episódios cada, com aproximadamente 30 minutos. Uma maratona maravilhosa para quem gosta de um humor leve mesmo com temas, às vezes, polêmicos.

As temporadas são bem equilibradas, mesmo que uma seja um tanto mais forte que outra e um clichê ou outro seja repetitivo. Nada que possa estranhar o espectador. A certeza é que, ao final da série, o sentimento de quero mais é real. E o de falta pela companhia de personagens tão cativantes.

Por causa da pandemia, a sétima temporada sofreu atraso, mas o último ano da série tem previsão de começar a ser gravado agora, em junho. Será um sopro final de um humor ao bom estilo de não se levar a sério sem precisar ofender ninguém.

Grace and Frankie é um ótimo passatempo que nos leva a pensar como envelhecer não precisa ser cafona e mal humorado. É, sim, preciso lidar com desafios que o tempo impõe, mas nada que uma boa amizade e talvez um Martíni não resolvam.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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