Elos, razão da ponte
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O monumento “Portal de Minas” (o nome oficial não é este), colocado na entrada da cidade de Mariana, a Primaz, tem seus encantos e status de beleza esculpida com pertinácia e bom gosto; estupendo mesmo, sem delongas ou elogios vazios. Proposições que identificam a entrada de uma cidade, com originalidade e inteligência, merecem linhas de um pobre escriba.
Frio, quanto frio! Não sei mensurar o tamanho da estação fria; mas, frio é frio. Café com leite quente, chá de limão com mel (um pingo de pinga, parece aliteração, vamos de aliteração mesmo!), chá de alho, chá de cebola (vou experimentar, um dia), suco de laranja e graviola (não sou nutricionista, mas arrisco misturar sabores)… Um pouco de medicina holística faz bem à saúde física e emocional. Creio na benfeitoria das gotículas do óleo de lavanda, colocadas dentro dos travesseiros, para uma noite de sono reparador. Pensamentos positivos influem em estados de tensão e excitação extremas. Não quero ser extremo de nada, a não ser da homeostase (vocábulo esquisito para nomear sua sinonímia: equilíbrio). É bom ter equilíbrio, eu que experimento tonturas rasantes da labirintite e das síndromes metabólicas. Ver o mundo rodar, basta-me a poesia ou dois dedos de vinho ou um dedo da “marvada”. Recebi uma criança no final de semana, que me presenteou com uma tela/ pintada por ela. Pintei, escrevi e desenhei muito na infância, mas nunca mostrei nada para ninguém. Fiquei, deverasmente, emocionada. A menininha, cabelos de anjo, em sua originalidade plena individualizada pela timidez (sei que a timidez dói!), perguntou-me se o Portal, na entrada da cidade, tinha janelas. Disse-lhe que Portal pode ser janelão, porta, ponte, possibilitadores de olhares profundos e imaginários, feito o quadro pintado por ela, cujo limite é a imensidão de uma noite de luz alumiada por estrelas miúdas e uma lua crescente pendurada. Ela, a menininha, deu vida à sua noite de inverno, salpicando um punhado de estrelas, numa intencionalidade só dela, muitas vezes, não recuperada pelo espectador. Não importam as intenções de um artista ou escritor. A criatividade não tem limites ou portas ou janelas castradoras de interpretações acertadas. Acho que ela compreendeu nosso dedo de prosa. Enviou-me duas fotos de outras telas de algodão. Despiu-se da timidez exorbitante. Do outro lado do portal das timelines a gente cria uma coragem “DESTAMANHO”. Coragem de chegar pra lá a timidez. Mostrar criações guardadas nos armários ou porões de casa; chamar a atenção, jogar beijos ou abraços em memes, para externalizar sentimentos; nós que somos tímidos demais para dizer, sem meias palavras: eu te amo pra caramba; inserimos um punhado de figuras icônicas que representam emoções ternas ou intensas. Eu, que sempre sofri timidezas gigantescas, aprendi a dizer coisas expressadoras de sentimentos ocultos. A menininha vai enviar mais telas; quiçá, linhas poéticas. A timidez dói, mas segura impulsos escabrosos. Há quem diga que quem discorda de tudo é frustrado, quem concorda com tudo é puxa-saco. Sem extremismos! Tenho sido meio termo, nem lá ou cá. Quanta coisa para aprender; pena que o tempo é curto demais para viajar por inúmeros portais ou janelas. Deverasmente ou indubitavelmente, para mim, o Portal de Minas, traz em si, guardadas nas gavetas de tempos idos, presentes e vindouros, punhados de riquezas culturais, efígies de ouros guardados em memórias. Quanta coisa para ver, sentir e descobrir, abrindo gavetas que levam às portas e janelas, que vão se abrindo em infinitas possibilidades e interpretações e sentidos e elos, até que eu perceba que não é portal, é ponte…