O Paraíso e a Serpente: o fascínio por trás de obras true crime
Filmes e séries baseados em fatos reais sobre crimes e serial killers são quase que um gênero à parte na indústria e O Paraíso e a Serpente é mais um.
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Lançado em abril de 2021 no catálogo da Netflix, O Paraíso e a Serpente é uma minissérie que pertence a um “gênero” que causa fascínio em muitos espectadores, o True Crime.
Trata-se de histórias reais, quase com valor documental – quando não possuem de fato – e que se utilizam, ou não, de uma dramatização, para falar de assassinos. É o caso perfeito de O Paraíso e a Serpente, que conta a história dos crimes cometidos por Charles Sobhraj, o famigerado Assassino de Biquíni.
Sobhraj é um vietnamita filho de camponesa em que o pai indiano os abandonou quando Charles nasceu. Sua mãe voltou a se casar, dessa vez com um soldado francês, fazendo com que a família vivesse entre a França e o Vietnã.
Esse é um background importante que define o comportamento de Charles, uma pessoa fria, com pouco apego sentimental e fortemente influenciada pelo racismo que sofreu ao longo de sua vida, já que viveu em uma França da década de 50 em que o preconceito contra asiáticos era muito maior e o seu país natal vivia uma onda de violência.
Todo esse cenário é bem usado na série, que mostra Charles vivendo sob a identidade de Alain Gautier, um traficante de joias em Bangkok, na Tailândia, na década de 70, junto a sua parceira amorosa, e de crime, Marie-Andreé Leclerc, sob identidade de Monique, e o cúmplice indiano – pra não dizer capanga mesmo – Ajay.
O trio trabalha atraindo turistas da trilha dos hippies – famosa entre as décadas de 50 e 70 que ficava entre a Europa e a Ásia Meridional, sobretudo Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia e Nepal. Essas pessoas eram envenenadas, ficando aos cuidados dos três, eram roubadas e seus corpos, queimados ou jogados ao mar.
Também tinham seus passaportes adulterados, facilitando a circulação dos criminosos, que os usavam para transitar entre um país e outro sem deixar marcas de suas próprias identidades. Recebendo uma denúncia desesperada na embaixada holandesa, um diplomata do país instalado na Tailândia, Herman Knippenberg, começa a investigar por conta própria o desaparecimento de um casal holandês e se vê completamente envolvido nesse trabalho.
Esse é só o início de uma extensa e complexa rede de crimes que Charles se envolveu, que conseguiu se enriquecer e escapar de todas as acusações que recebeu. As idas e voltas na linha temporal que a série faz, sem ser conf usa, conduz o espectador nesse emaranhado de assassinatos e explorar a mente perturbada de Sobhraj.
As investigações de Knippenberg ajudam a envolver o espectador, mas é claro que o que prende a todos diante da tela é o fato de serem – guardadas as devidas dramatizações – todos acontecimentos reais.
Séries e filmes desse tipo existem aos montes. E de várias formas. Making a Murderer é um exemplo, que está inclusive na Netflix, mas sem as dramatizações: é literalmente uma série documental que mostra pessoas na vida real, desvendando uma série de acusações sobre Steven Avery.
Os true crime, que podem se valer ou não de uma dramatização, tem como maior característica, mais do que reproduzir uma série de crimes reais, acompanhar esses casos. Quase como uma investigação, de fato, podendo jogar novos olhares sobre os acontecimentos e dando novos rumos aos eventos.
Nem O Paraíso e a Serpente e Making a Murderer são os únicos “true crime” a cair no gosto do público. Pegando um exemplo brasileiro, temos o inacreditável Caso Evandro, uma série que inicialmente era um po dcast e que virou um produto para a TV. E essa série mostra como os acontecimentos podem tomar novos rumos graças à obra.
O Caso Evandro é um belo exemplo de como a dramatização e a documentação se misturam perfeitamente para elucidar esse caso tão complexo e até hoje mal explicado, mesmo que as entrevistas e a reprodução de materiais de época sejam mais presentes que a atuação dos atores que são muito pontuais aqui.
Mas voltando a O Paraíso e a Serpente, temos uma dramatização, apenas, de todo o caso de Sobhraj (ainda que uma entrevista real de Charles seja exibida no início da minissérie). Ainda que sejam bizarras as histórias e envolvam casos reais, o true crime fascina e continuará fascinando por mostrar que nem sempre o inacreditável está no cinema ou na TV.
A vida real pode ser muito pior. E essas obras mostram isso. Existem vários exemplos de True Crimes na Netflix, O Paraíso e a Serpente é um sucesso recente que você, se gosta desse gênero, com certeza se encantará.