Os desastres humanitários e os dilemas éticos
“Difícil não é fazer o que é certo, difícil é descobrir o que é certo fazer". (Srour)
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O que tem em comum o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 nos EUA e os rompimentos das Barragens de Fundão em Mariana e de Brumadinho?
Os aspectos mais marcantes estão relacionados aos dilemas éticos que enfrentam os gestores envolvidos nessas tragédias. “Quanto Vale”, um filme disponibilizado na NetFlix, retrata de forma fiel esses dilemas diante do desafio para compensar os atingidos pelo desastre de 11 de setembro de 2001, vítimas do ataque terrorista às torres gêmeas.
Ken Feinberg (Michael Keaton), o protagonista, representando o governo e os grandes empresários das companhias aéreas é um advogado que enfrenta enormes desafios e dilemas éticos quando se depara com uma tarefa quase impossível: determinar como compensar as famílias que sofreram perdas incalculáveis provocadas pelo atentado. Em um dos lados da moeda, estão os prováveis responsáveis pelo desastre e do outro lado os atingidos, nem tão pobres como se imagina, fazendo parte de uma trama jurídica que se estende com diversas mudanças de pontos de vista por conta de discussões sobre questões éticas.
Em sua essência, o filme nos faz refletir sobre questões profundas relacionadas ao valor de uma vida humana. O que determina que uma vida humana vale mais que a outra? Será que a vida de um Porteiro vale menos que a vida de um grande executivo? Qual é a fórmula para transformar em números o valor de uma vida humana? Como mensurar em termos práticos a dor de quem perde um ente querido? Como estabelecer um critério justo onde todos sejam compensados de forma equânime? É possível estabelecer esse critério? Ele funciona na prática? Como reagir nos casos de envolvidos que não se enquadram para compensação conforme os critérios estabelecidos, mas são eticamente justificados? O filme retrata isso de uma forma bastante realista.
Embora, a origem dos desastres seja diferente da ocorrência das torres gêmeas, aqui perto de nós, estamos vivendo situações bastante semelhantes, com o rompimento das barragens. Vidas humanas foram ceifadas bruscamente e traumaticamente e duas grandes corporações estão lutando para fazer as compensações. Os dilemas éticos enfrentados com base nos questionamentos feitos acima são bastante semelhantes.
A Fundação Renova, criada para implantar um sistema de compensações para os atingidos da Barragem de Fundão, movimenta milhões de reais, mas parece não estar conseguindo resolver os problemas de forma efetiva e vem sofrendo severas críticas de todos os seus stakeholders, pelo resultado insatisfatório do seu trabalho. O problema é tão sério que diversas autoridades já estão defendendo a extinção da Fundação. Sua ineficácia é tão grande que os próprios provedores, Vale e BHP, decidiram por não designá-la como responsável pela tragédia de Brumadinho e assumiram a gestão das compensações pelo desastre, embora também se perceba uma grande dificuldade por parte delas para resolver os problemas envolvidos.
Independentemente da complexidade envolvida com as ocorrências, creio que algumas grandes lições precisam ser aprendidas. Enquanto o ser humano não aprender a viver em paz com seus semelhantes, o terrorismo vai continuar existindo. Enquanto o ser humano não entender que, em sua essência, o objetivo maior de qualquer empresa, independentemente da localização, porte ou ramo de atividade, não é o lucro a todo custo, mas sim o bem estar geral da sociedade e do meio onde ele está inserido, desastres ambientais, econômicos e sociais vão continuar existindo. O lucro é absolutamente necessário, mas não é e não deveria ser a razão primeira da existência de uma empresa, mas a sua consequência. Já dizia Peter Drucker, considerado o Pai da Administração: “Uma organização que visa única e exclusivamente o lucro é, não apenas falsa, mas também irrelevante. O lucro não é a causa da empresa, mas sua validação. Se quisermos saber o que é uma empresa, devemos partir de sua finalidade, que será encontrada fora da própria empresa”.
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