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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Pânico desses dias de fogaréus

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Foto: Danilo Nonato - 2020

Acordei com o corpo ‘moído’ pelo cansaço. Cansaço moído: acordado. Noite insone, pernilongos por todos os lados do quarto. Por todos os lados do quarto, noite insone. Zumbidos desafinados voam de um lado para o outro. De um lado para o outro, zumbidos desafinados. Repelente não faz efeito. – Não faz efeito, repelente! Mosquitos em fartas mutações evoluem semelhantes às células do corpo, produzindo novas variantes. Produzindo novas variantes, células do corpo, evoluem. Cochilei, acordei, cochilei, acordei… Acordado cochilo. – Cochilo, acordado! Dicotomia em noite de calor medonho e quase insuportável. Insuportável noite de calor. Suor, calor, nervos à flor da pele. Pele, suor, calor a flor da pele. Lágrimas corredeiras. – Corredeiras, lágrimas! Olho seco, ar seco, boca seca, nariz seco. Seco: nariz; seca boca! Seco: olho! Pico do Itacolomi: fogo. – Fogo no pico do Itacolomi! Corpo de bombeiros em disparada: apagam o fogo, apagam o fogo! – Apagam o fogo, apagam o fogo: corpo de bombeiros! Cantoria de sirene: APAGAR O FOGO, APAGAR O INFERNO! Apagar o inferno, apagar o fogo, sirene! Fogo na mata que mata a gente de raiva. Raiva de gente que mata a mata. – Mata mata! Poesia com brasa na alma, poesia em farta fertilidade. Fertilidade farta poesia, brasa com alma! Alma farta, brasa-poesia. Corpo dorido, picadas nas pernas e braços; picadas de cansaço no corpo. Corpo, cansaço de picadas. Frio lugar, consultório. Consultório, lugar frio. Calor, ar-condicionado frio. Choque térmico. Térmico choque. Frio, calor. Frio calor. Dor no dente, síndrome do pânico. Pânico, síndrome, dor, dente. Raspagem, limpeza, agulha, anestesia. Corpo pega fogo, esfria, pega fogo e esfria. – Corpo pega fogo! Nervos perpassam o corpo. – Corpo perpassa nervos! Medo. Instrumento. Porta fechada. Janela cerrada. Ar-condicionado frio. Medo. Auxiliar. Instrumentos pontiagudos. Máscara. Rosto. – Sorriso, rosto! Fragilidade. Aborrecimento. – Aborrece: fragilidade! Despida máscara. – Máscara, despida! Saudoso ventilador. Nostalgia insana. – Insana nostalgia! Chove, estia. Acende. Apaga. Mata. – Mata, apaga! Acende. Mata! Horizonte cinza. – Cinza, horizonte! Céu carregado. – Carregado céu! Desliza pânico. – Pânico desliza! Ponta do dedo fechada. – Fechada, ponta do dedo! Alma calada. – Calada alma! Espera. Barulho. Instrumentos pontiagudos. Ferrinho. Gengiva doloridas. – Doloridas gengivas! Dentifrício. Limpeza. Recepcionista. Frio. Recepção. Calor. Táxi. Rua. Portão. Casa. Banho. Cama. Cochilo. Zumbidos desafinados voam de um lado para o outro. De um lado para o outro, zumbidos… Cochilei, acordei, acordei, cochilei. Acordado cochilo… Pânico desses dias de fogaréus…

Picture of Andreia Donadon Leal
Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros
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