O Culpado, um suspense digno do isolamento social
Filme da Netflix se prende a um suspense que se sustenta, apenas, a boa atuação de Jake Gyllenhaal
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A pandemia lançou o desafio a muitos profissionais de desempenhar o seu trabalho mantendo a segurança contra a contaminação de Covid-19.
Isso reflete também no cinema. Filmes “pandêmicos”, em que tudo é feito com rigorosos protocolos sanitários, necessários, usando o mínimo de equipe — seja atrás ou à frente das câmeras.
Alguns exemplos não faltam e, há não muito tempo, a coluna falou de Malcolm & Marie, que pode ser categorizado nesse “gênero”. Outros usam mais da criatividade, como Host, um filme de terror feito em uma chamada de Zoom entre amigos.
O recente O Culpado é mais um. O filme estrelado por Jake Gyllenhaal conta a história de um policial prestes a ser julgado e como punição por um ato — desvendado ao longo do filme — precisa passar alguns dias como atendente do 911, o número de emergência dos EUA.
A obra é toda desenvolvida na sala de atendimento, com o policial atendendo às chamadas e convivendo com seus parceiros.
Mas não se trata somente de filmar um atendente de telefone. Joe Baylor, o policial vivido por Jake, atende a chamada de uma mulher que pede socorro. Joe, que é detetive, descobre que se trata de um sequestro e, por telefone, tenta resolver o imbróglio.
Filmes como este, de apenas um cenário, uma ou poucas atuações, já mostraram ser preciso uma desenvoltura de desenvolvimento melhor do que em situações normais. Se nos citados Malcolm & Marie as atuações são intensas, decorrendo em uma dramaticidade profunda e em Host a criatividade das situações instiga o espectador, O Culpado não se prende a esses recursos.
Antes, é preciso salientar algo que sequer necessitaria: Jake Gyllenhaal é um baita ator e mostra aqui que poderia, sim, levar o filme sozinho. Se não consegue, não é demérito dele. Também não há como negar que a história pode fisgar aqueles mais pacientes. Mas aí, o mérito é do espectador.
Também é necessário dizer que O Culpado não é um filme original. Trata-se de um remake de um filme dinamarquês de 2018. Lançar uma refilmagem de um filme assim em tempos de pandemia, poderia ser sagaz.
Mas a obra não é necessariamente sagaz.
Um “suspense de telefone” sempre tende ao máximo tirar o que há de mistério, instigando quem assiste a imaginar a situação do outro lado da linha, reconstruir cenas detalhadas e até mesmo a pessoa que não aparece.
Contudo, o filme se cerca a apenas disso. Ainda que a pandemia limite muito (e necessariamente) as ações no set, existem recursos narrativos que poderiam acrescentar a história. O que não acontece.
Pessoas com menos paciência e mais ansiosas para a ação, reclamarão com razão. Ainda que Jake entregue o que consegue na atuação — e não é pouco — não basta para levar o filme até o final.
Aqueles que gostam de uma imersão cinematográfica e se desprendem da falta de profundidade narrativa de O Culpado podem conseguir extrair o melhor desse filme. Mas, novamente, esse mérito é do espectador.