Do luto à luta
“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos”. (Norman Cousins)
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A perda de um ente querido é um dos maiores desafios a serem vencidos por nós seres humanos. Por mais que tenhamos certeza da morte e acreditemos na vida eterna, ninguém quer partir ou ver partir uma pessoa amada. Dentro desse contexto, o luto é uma fase terrivelmente difícil de ser vivenciada! Embora saibamos que a morte é a única possibilidade de atingir a vida eterna e que todos querem a vida eterna, contraditoriamente, todos nós queremos continuar vivendo e convivendo com nossos entes queridos por aqui.
Atualmente, vivo em pleno processo de luto e luto a duras penas arduamente para aprender a conviver da melhor maneira possível esse momento. Dia 26 de outubro, depois de mais de 40 anos de uma convivência feliz e harmoniosa, fez um ano que a minha esposa Aline partiu para os Braços do Pai. Dizem que quanto mais se ama, maior é a dor da perda e eu a amava de forma tão profunda, simbiótica e visceral que às vezes penso que a minha dor é muito maior que a dos outros. No entanto, a experiência tem me demonstrado que o mais terrível na perda de um ente querido não é propriamente a dor da perda, mas a dor da solidão que envolve aqueles que ficam! Talvez compartilhando um pouco da minha experiência eu possa ajudar a mim mesmo como forma de terapia e a outros que vivem ou, infelizmente, irão viver situação semelhante, portanto, vejamos.
Segundo Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra suíço-americana, pioneira em estudos de proximidade da morte com pacientes terminais, o luto possui cinco estágios distintos, não necessariamente sequenciais: negação e isolamento, com afastamento social, revolta e raiva, caracterizada pelo inconformismo com a situação, depressão, sofrendo de uma dor profunda com a perda, barganha ou negociação em busca de alternativas para continuar vivendo e finalmente a aceitação, aprendendo a viver pacificamente com a perda.
Não sei exatamente se já passei pelas quatro primeiras fases e se passei, quanto tempo durou cada uma, mas tenho certeza que meu momento é de aceitação, aprendendo a viver de forma dinâmica e produtiva com a minha perda irreparável.
A lição mais importante que eu já sabia de cor, mas restava aprender, como dizia Beto Guedes, é que a vida é trem-bala, como também dizia Ana Vilela, outra grande poeta! A vida é um pequeno intervalo entre o nascimento e a morte e o que vale de fato é vivê-la em sua plenitude! O que me conforta é que, quando olho para meu passado, percebo que, entre os altos e baixos vividos e sofridos, consegui colocar isso em prática junto da minha esposa e pretendo continuar batalhando por isso!
Algumas estratégias têm me ajudado nessa caminhada. A primeira delas é, como crente que sou, acreditar que Deus, na sua sublime sabedoria como Pai, sabe o que é melhor para todos nós e se Ele nos leva um ente querido é por que essa é a melhor opção para esse ente e também para nós que ficamos, por mais que isso nos doa. Entender que existe uma vida eterna do outro lado e que aqueles que cumpriram bem sua missão por aqui, com certeza, alcançaram a felicidade plena e estão de maneira incomensurável muito melhor do que nós!
Outra estratégia é evitar, sempre que possível, o isolamento. O isolamento aguça a solidão! Sofrimento compartilhado é sofrimento diminuído, portanto, investir na sociabilidade é uma excelente alternativa! O calor de uma grande amizade ameniza enormemente as nossas dores e, graças a Deus, tenho grandes e boas amizades e participo de grupos e associações de grandes valores comunitários que fazem uma grande diferença na minha vida!
Manter a mente ocupada é outra grande estratégia, principalmente fazendo o que a gente gosta! A mente vazia é oficina do diabo, já dizia o adágio popular, portanto encontrar uma ocupação prazerosa e mergulhar de ponta cabeça faz bem ao corpo, à mente e ao espírito. Depois que minha esposa se foi, meus talentos literários ficaram mais aguçados e publiquei dois livros e já tenho outros mais em mente que deverão sair em breve. Sou um apaixonado pelo que faço e meu trabalho como Escritor, Professor e Consultor tem sido uma fonte profícua de auto realização e conforto.
Enfim, no mais, a vida não é como um filme que podemos voltar a assistir as belas cenas quantas vezes quisermos. Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, como dizia o Lulu Santos na sua canção. O segredo é tentar esquecer os momentos dolorosos, guardar na memória os momentos prazerosos, viver intensamente o momento presente e ter uma visão positiva do futuro e lutar para que isso aconteça. A vida é um eterno partir e recomeçar! O tempo pode ser um excelente mestre para nos ensinar a conviver com as perdas e servirmos delas como trampolim na certeza que dias melhores virão!
Quem tem ouvidos que ouça!
Cesarius Gestão de Pessoas, investimento permanente no desenvolvimento do ser humano!