Ataque dos Cães: um faroeste revisitado (de novo) na Netflix
Filme revisita um gênero muitas vezes dado como morto, mas que, cada vez mais, mostra vida em boas obras
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O faroeste foi dos gêneros mais populares até idos da década de 60. O “oeste distante”, que poderia ser apenas intrínseco à história dos EUA, apresentou histórias em várias partes do mundo e, uma certa hora, deu a entender que a fonte havia se esgotado pela sua pouca versatilidade narrativa.
A queda de popularidade também se deve a alta da ficção científica, que a partir dos anos 60, apresentou obras imortalizadas até hoje na memória dos espectadores.
Tudo isso para dizer que em queda, os faroestes seguiram oferecendo boas obras, mas muito mais restritas a gostos específicos e saudosistas do público, até que nos anos 90 “renasceram” com obras que “reinventaram” o gênero, como “Os Imperdoáveis”.
De lá para cá, parece sina da crítica e do público dizer que toda obra de faroeste de sucesso “ressignifica” o gênero. Exemplos como “Django Livre” e “Vingança e Castigo” podem ilustrar o caso.
Bem como o mais novo Faroeste da Netflix, Ataque dos Cães. Ao que tudo indica, esse será um dos filmes mais falados na época de premiação — que está chegando. E não é por acaso. O longa conta a história de dois vaqueiros, um rude, Phil (Benedict Cumberbatch) e seu irmão, mais cortês, vivido por Jesse Plemons.
O contraste das personalidades dos irmãos faz com que a fazenda que ambos administram seja rentável. Mas a entrada da nova esposa de Jesse, Rose (Kirsten Dunst) e de seu filho adolescente Peter (Kodi Smit-McPhee) dá uma nova dinâmica ao local. Muito devido à relação de inveja de Phil, que apesar de ser genial, é rude e parece sempre ameaçar a mulher e o filho dela.
Não parece algo realmente novo no cenário cultural dos filmes, mas a condução da diretora Jane Campion põe em tela um roteiro intrigante e com revelações fortes. Não tem aquele valor de entretenimento, duelos com tiroteios como pedem os bons bang-bangs, mas é possivelmente enquadrado nessas “reinvenções” dos faroestes que aparecem nos últimos anos.
Principalmente no papel do cowboy durão. Phil é um típico homem do Oeste, rude e preocupado com sua fazenda. Parece seguir uma cartilha tradicional e vê uma certa repulsa no comportamento de Peter.
Mas ao seguir a história, percebemos haver algo por trás daquela rudeza, que servirá, principalmente, para segurar a trama até o fim. E aqui há de se falar no que talvez seja a melhor atuação de Benedict Cumberbatch. Se você não associou o nome à pessoa, trata-se de O Doutor Estranho, dos filmes da Marvel, ou o Sherlock Holmes da série.
Benedict é rude sem ser agressivo. Repreende sem falar uma palavra e quando a tensão amorosa paira no ar, ele não sensualiza. Pelo contrário, aliás. Vale dizer, que apesar de haver certa tensão sexual, não há qualquer cena de sexo no filme todo.
Ataque dos Cães não é, com certeza, um filme para ser visto em uma tarde de domingo antes do futebol. Ok, você pode fazer isso. Mas o filme que requer muita atenção do espectador para as nuances da narrativa que está longe de oferecer um bom entretenimento de ação, como pede um bom faroeste.
Mas foi por só oferecer isso ao seu público que o gênero pareceu adormecer por anos. E agora, cada vez mais, aparecem filmes que o “ressignificam” como se já não houvesse exemplos suficientes de “ressignificações” há anos.
E isso definitivamente é algo bom. A gente só precisa mesmo se acostumar. Ataque dos Cães, com boa paciência de um público mais ansioso, pode ser uma baita opção para você na Netflix.