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Último mês do ano

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Foto: Lauro Soares

Caminho pelas ruas de seixos rolados vagarosamente, tentando, sem sucesso, passar a perna no tempo. Santa ingenuidade teimar em segurar segundos e minutos. Continuo périplo solitariamente, me desviando (com máscara cirúrgica no rosto) de transeuntes que andam apressados, para seus compromissos inarredáveis. A vida é inadiável, mesmo. Mesmo? Até findar, sim. Visualizo pernas frenéticas; pessoas gritando, tossindo de máscaras ou sem; carros que vão e voltam, apito de guarda; garoa, céu nublado, etc. Tudo isto é pulso da cidade. Lojas exibem enfeites natalinos. Corro os olhos para ver outros estabelecimentos comerciais, todos com motivos de final de ano nas vitrines. É quase Natal? Pergunto-me atordoada querendo alimentar minha incredulidade pelo final de mais um ciclo.

Admito embasbacada, minha incredulidade pelas pernas ágeis, concisas e disparadas dos meses que passaram feito furacão. Projetos concluídos? Pergunto-me. Alguns foram com êxito, outros nem tanto ou nem chegaram a vingar. Constato que perdi amigos nesse vai e vem do tempo, não por desentendimentos percebidos, brigas, disputas, ou sei lá o que, mas por casos e acasos do destino (penso eu); por excesso de trabalhos; compromissos inadiáveis. Os defeitos, amigos, tento a todo tempo, minimizá-los, ou se possível, extirpá-los, mas ninguém é perfeito. Os amigos que perdi, quem sabe, retornem um dia, da mesma forma que foram sem avisos prévios, ou telefonemas dizendo: “vou guardar sua amizade no armário por algum tempo!”. Livre arbítrio, novos rumos, pensamentos, projetos dos amigos. Os que ficaram, firmes e fortes, guardo-os com carinho e afeição, valorizando os que ganhei.

Fito novamente a rua, esquecendo os amigos que perdi e os que ganhei no ano, para contemplar algumas luzes de natal; os enfeites montados na casa de mãe. Este ano foi barra pesada, osso duro de roer: COVID-19, mortes, brigas, etc. Este ano foi atípico demais!

E daí? Que mal há em começar a traçar alguns planos, para o ano vindouro? Que mal há em traçar metas, feito as luzes de Natal que iluminam o cenário urbano? Que mal há em antecipar, que é nada mais, nada menos, que mover-se ou deslocar-se para frente? Pra frente é que se anda, diz o ditado popular.

A vida é feita de ciclos e tradições, concluo atravessando a rua. A primavera em sua plenitude exibe flores belas, fortificadas e multicoloridas. O verão mostra desejo de chegar. A primavera vem e vai. Vem e vai novamente; as flores também. Um novo ciclo, que é velho e novo ciclo cíclico. E eu? Planejo antecipar-me, movendo-me para frente, comprando máscaras cirúrgicas e tênis novos para continuar minhas caminhadas solitárias pelas ruas de seixos rolados, e abrir portas e janelas para aconchegar os amigos que virão, e com mesma receptividade de outrora, aqueles que sumiram sem aviso prévio. E antecipo, a amizade verdadeira, independente do tempo, da distância, dos desencontros da vida, é iluminação natalina, no tempo certo, brilha.

Picture of Andreia Donadon Leal
Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros
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