Comédia e catástrofe se misturam em Não Olhe Para Cima
O bom filme da Netflix traz uma discussão que só será feita em campo sem conflito. Quem precisa captar a mensagem de Não Olhe Para Cima talvez nem o assista.
Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”
Compartilhe:
2021 terminou com um grande hype no cinema: o filme de catástrofe Não Olhe Para Cima. As expectativas para esse longa sempre foram grandes. E não era para menos, já que o elenco é um dos mais recheados de estrelas da história da Netflix.
Meryl Streep, Jennifer Lawrence, Jonah Hill, Timotheé Chalamet, Ariana Grande e Cate Blanchett já seriam nomes que sozinhos já garantiam alguma expectativa. Sem falar de Leonardo DiCaprio, que escolhe a dedo os filmes em que se envolve e que nunca são qualquer obra.
Todo esse recheio de talentos ainda tem o ingrediente do diretor Adam McKay, que ficou responsável por filmes que bombaram nos últimos anos, como A Grande Aposta e Vice — cada um com recepção diferente.
Agora, McKay nos traz um filme sobre catástrofe: um grande cometa que dizimará a Terra e cabe aos personagens de DiCaprio e Lawrence, dois astrônomos desconhecidos, mas sérios, alertar a humanidade sobre o seu iminente desaparecimento.
O que deveria ser uma força de trabalho para impedir a extinção, torna-se numa corrida de desinformação e de tentativa de lucro, o que acaba fazendo com que o filme seja associado aos tempos de hoje, quando vemos tentativas de desmerecer a ciência, as informações qualificadas e governos que parecem não reconhecer a realidade que vivem.
As comparações são óbvias. Até demais. Um filme tão claro e direto em sua mensagem poderia ser até piegas, o que não é o caso, mas cai na armadilha que ela mesma denuncia, de não causar impacto nas pessoas que desacreditam.
O filme joga muito seguro em público que enxerga a sua mensagem. Chega a ser confortável entre as pessoas que veem em Não Olhe Para Cima as críticas aos governos que desmerecem a pandemia, por exemplo.
Já ao público que faz os malabarismos argumentativos e narrativos sobre a mensagem do filme, fica parecendo que Não Olhe Para Cima nada mais é do que um filme besta e mais um sobre catástrofe.
O que falta em Não Olhe Para Cima é exatamente o debate diverso. Ele é muito claro, não carecendo de muita discussão ou inteligência para compreendê-lo. Quem deveria entender sua mensagem, abandonará a proposta só em lembrar que se trata de Leonardo DiCaprio num filme de catástrofe ambiental.
Mensagem e discussões à parte, a comédia é cheia de piadas sagazes, ora repetitivas, e participações que muitas vezes só parecem valer a pena para endossar o marketing — já muito forte — do filme.
Você não precisa ser um grande gênio da sabedoria para compreender Não Olhe Para Cima. Mas tem que ser muito cara de pau para mudar a versão da mensagem que o filme traz. Valerá a pena por uma boa comédia, mas para o debate importante que McKay traz, só trará argumentos batidos para quem já os tem.