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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Missão organizacional: qual a razão da existência de uma organização?

“Esse sistema capitalista, com sua lógica implacável, escapa ao domínio humano. É preciso trabalhar por mais justiça e cancelar esse sistema de morte”. (Papa Francisco)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

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A Missão tem uma importância estratégica fundamental para a sustentabilidade de uma organização. Em sua essência, está relacionada com a razão da sua existência, com o seu objetivo fundamental, com o “por que” e o “para que” uma empresa existe.

Então, tendo em vista este conceito, responda com sinceridade meu caro leitor: em sua opinião, na sua essência, qual a Missão, o verdadeiro objetivo de uma empresa, qualquer que seja o seu tamanho ou o seu ramo de atividade? O que você diria?

Como docente e consultor organizacional tenho trabalhado esse tema durante longos anos e quando dirigida essa pergunta durante aulas e workshops que realizo, praticamente todos os participantes respondem sem titubear que é o lucro! E eu questiono, será? Vejamos então o que dizem alguns personagens de destaque a respeito da questão.

O nosso grande Machado de Assis, lá pelos idos de 1948, afirmava:

O verdadeiro objetivo de uma indústria não é ganhar dinheiro e sim bem servir ao público, produzindo artigos de fabricação conscienciosa e vendendo-os pelos preços mais moderados possíveis. Quem não pensar assim prestará um verdadeiro serviço à empresa, ao público e aos seus colegas, retirando-se do mercado”.

Na mesma linha, Peter Drucker, considerado o Pai da Administração, também afirmava:

“Uma organização que visa somente o lucro é, não apenas falsa, mas também irrelevante. O lucro não é a causa da empresa, mas sua validação. Se quisermos saber o que é uma empresa, devemos partir de sua finalidade, que será encontrada fora da própria empresa”.

Vejamos também duas outras afirmações de grandes figuras do mundo contemporâneo empresarial:

“Não há nada errado em lucrar, mas essa não é a função primordial de um negócio e sim a consequência”. (John Mackey – Presidente da rede de supermercados americana Whole Foods).

“Para o capitalismo prosperar, as empresas precisam urgentemente abandonar o foco exclusivo nos acionistas para servir consumidores e funcionários”. (Dominic Barton – Diretor Geral da McKinsey).

Diante dessas afirmações, é lógico e previsível que os descrentes normalmente questionem, com sarcasmo:

-O objetivo de qualquer empresa é o lucro, o resto é balela! Uma empresa sem o lucro não sobrevive!

Façamos então algumas reflexões a respeito do assunto.

Evidentemente que uma empresa não sobrevive sem o lucro. Com certeza, uma empresa que não dá lucro deve ser fechada mas, como dizia Peter Drucker, essa não é ou não deveria ser a razão primordial de sua existência. A Encíclica Rerum Novarum, (Das Coisas Novas), do Papa Leão XIII publicada em 1819 já dizia e ainda preconiza nos dias de hoje que os resultados financeiros, embora absolutamente necessários para a sobrevivência do negócio, são apenas uma consequência do objetivo principal. O verdadeiro objetivo de uma empresa deve estar relacionado com o caráter social, com a geração de um bem para a sociedade. Aliás, não é à toa que o conceito de ESG (Environment, Social and Governability) está em alta nos meios organizacionais.

Enfim, para que existem as indústrias, as montadoras, as mineradoras, as escolas, os hospitais, as farmácias, os postos de gasolina, etc., etc. etc.? Todas essas organizações com certeza existem para gerar o bem estar social e obtêm ou devem obter como resultado de suas atividades, o lucro! Segundo o conceito de Responsabilidade Social Corporativa, esse lucro deveria logicamente ser aplicado estrategicamente para remunerar de forma adequada e consciente os acionistas, os empregados e, necessariamente, para contribuir para o desenvolvimento social do meio onde está inserida, trazendo progresso e qualidade de vida para o ser humano como um todo.  

O problema fundamental do sistema capitalista selvagem que ainda insiste em imperar é que ele inverte as prioridades e acaba colocando o lucro, de forma maquiavélica – o fim justifica os meios – em primeiro lugar e direcionando-o praticamente todo para os bolsos dos acionistas. E aí acontecem as desgraças: corrupção, doenças trabalhistas (o Brasil é o segundo país com o maior número de pessoas afetadas pela Síndrome de Burnout, caracterizada pelo alto nível de estresse, no mundo), acidentes de trabalho, demissões em massa, desmoronamentos, poluição, impactos ambientais, rompimento de barragens e muitas outras. O pior é que, no final da história, os fatos têm demonstrado que os resultados são desastrosos, tanto para a sociedade como um todo quanto para as próprias empresas, com muitas fechando as portas ou lutando para sobreviver, sem contar os impactos ambientais traumáticos que poderão destruir o nosso planeta!

Quiçá as pomposas e belas Missões estampadas nos sites das grandes corporações deixem de simplesmente fazer parte de discursos enganosos e sejam traduzidas na prática de forma integral e concreta, contribuindo para a construção de um mundo mais humano, equânime e digno para se viver!

Quem tem ouvidos que ouça!

Cesarius Gestão de Pessoas, investimento permanente no desenvolvimento do ser humano!

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Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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