Compositores de todas as gerações participaram do Festival Canta Mariana neste início de mês de agosto
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Mês de agosto, gosto pela música de todos os gêneros, nesta cidade tricentenária, de talentos múltiplos. Sob a batida e a batuta da poesia, dos estribilhos, do contrabaixo, da bateria, do teclado e do violão: vozes agudas e graves de jovens, adultos e idosos se apresentaram no palco das ‘largas ilusões’, de luzes e fumaças refletidas na igreja da Sé. O que seria da vida sem a poesia? Para os poetas: insuportável; sem sentido e brio; sem espetáculo e graça.
O poeta compositor J. B. Donadon-Leal conquistou o quarto lugar com um chorinho que glorificou o VERDADEIRO HERÓI da liberdade, “Cláudio, poeta da conjuração”, uma louvação ao poeta Cláudio Manuel da Costa, pela coragem de enfrentar o poder real, participando ativamente da Conjuração Mineira, também conhecida como Inconfidência Mineira, clamando por liberdade.
O refrão fala da descoberta de ouro no ribeirão batizado por Nossa Senhora do Carmo, em julho de 1696, que proporcionou a criação do arraial com o mesmo nome. Nessa época o Rei de Portugal era Pedro II – o Pacífico, que determinou a entrada das bandeiras para o interior do Brasil. Em 1706 Dom João V assume o trono e incrementa o controle sobre a produção de ouro nas colônias, instalando casas de fundição e as de intendência, para fiscalizar com rigor a cobrança do quinto, causando a revolta, por exemplo, de Filipe dos Santos, em 1720, que foi condenado à morte por enforcamento, pelo então governador Conde de Assumar (O ALGOZ). O ouro é tirado da região às custas do sangue do mineiro, na canção representado pelo bandeirante, aquele que embrenhou na mata à busca do mineral precioso, tão cobiçado pela Coroa Portuguesa. Mas não adianta, pois nascem poetas no arraial do Carmo, entre eles Cláudio Manuel da Costa, que conclamam como os sinos das igrejas, que iluminam como sol a pino, que são fascinados pela ideia de liberdade.
A segunda parte da música fala da origem do nome de Mariana, em sua elevação à cidade, Mariana, uma homenagem a Mariana D’Áustria, em tom de denúncia a essa mania de glorificar somente os detentores do poder, mesmo que cruéis e autoritários. Lembra da Câmara de Mariana, casa de leis, a primeira de Minas Gerais e a casa de Intendência, também a primeira de Minas. Mas não adianta, pois dentro do quinto do ouro que é extraído para a Coroa Portuguesa, vão imersos versos de libertação, que seguindo o prenúncio dado pela revolta de Villa Rica de 1720, faz eclodir em 1786 a Conjuração ou a Inconfidência desmantelada em 1789. Os Inconfidentes perderam a batalha, mas deixaram como legado que é preciso lutar pela liberdade sempre, sem tréguas.
É inspirador falar dos verdadeiros heróis de nossa terra.
Cláudio, poeta da Conjuração
Bate bateia lá na curva do ribeiro
Ave, Du Carmo, quanto ouro a brotar!
E d’ouro brilho no cascalho ou no sarilho
O arraial vem como um filho
Do Reinado de além-mar
Pedro II deixa o reino a Dom João V
Que cobra o quinto d’ouro sangue bandeirante
Mas nascem filhos de Filipes e outros santos
Que fazem versos, versos de libertação
E bate o sino, sol a pino no fascínio
Do menino que era o Cláudio poeta da Conjuração
Mas bate o sino, sol a pino no fascínio
Do menino que era o Cláudio poeta da Conjuração
Mariana D’Áustria empresta o nome à nova vila
Que ergue a Sé, casa de lei e de intendência
Que alegra o reino com remessa de ouros tantos
Mas deixa imersos versos de libertação
E bate o sino, sol a pino no fascínio
Do menino que era o Cláudio poeta da Conjuração
Mas bate o sino, sol a pino no fascínio
Do menino que era o Cláudio poeta da Conjuração
Músicos e bandas superaram sons descalibrados, evidenciando expertise, talento e competência… O frio continua. A lua pendurada sobre um céu avermelhado, sempre a sonhar espetáculos da vida nos versos de libertação.
Concordo com o aforismo de Nietzsche: sem a música e a poesia, a vida seria um erro.
Mas bate o sino, sol a pino no fascínio
do menino que era o Cláudio
poeta da Conjuração.