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Hoje é domingo, 10 de novembro de 2024

Certas Pessoas é um Romeu e Julieta pouco inspirado

Comédia com Eddie Murphy e Jonah Hill se inspira em romance de Shakespeare para discutir estereótipos, mas acaba os reforçando.

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Romeu e Julieta é um dos textos que mais inspirou histórias no cinema. Sabe aquele romance entre duas pessoas em que a família é um empecilho porque pensam totalmente diferente?

É por aí que caminha Certas Pessoas, comédia recém-lançada na Netflix com presença de peso de dois expoentes no assunto: Eddie Murphy e Jonah Hill. Neste caso, Jonah é Ezra, um judeu que se apaixona por Amira, filha de Murphy, um homem extremamente ligado às lutas negras, além de muçulmano.

As diferenças entre religião e os tipos de perseguição que negros e judeus tiveram ao longo da história é a tônica para as dificuldades na relação de Ezra e Amira. Toda a luta que o negro teve com a escravidão como os judeus pelos nazistas são colocadas em jogo, mas numa disputa complicadíssima de quem sofreu mais.

As piadas de Murphy e Hill, que soam bem em suas filmografias, aqui parecem pouco entrosadas e sem qualquer química. Talvez pelo fato de seus personagens não se darem bem, mas não parece ser somente isso.

Algumas situações cômicas, como discussões em família que resultam em um pequeno incêndio, parecem ser um tipo de humor pastelão que tenta salvar uma história que nitidamente não funciona.

A falta de entrosamento entre os personagens, ainda que o par romântico seja uma exceção, acaba ficando de lado quando piadas sobre a perseguição negra e judia são colocadas em questão.

Não que o humor não possa passar por essas questões, mas algumas falas são colocadas perigosamente no estereótipo que era defendido pelos nazistas, por exemplo. Em tempos tão complicados como os que vivemos, isso gera interpretações bem perigosas.

São quase duas horas de filme em que vemos um solteirão judeu que quer sair dessa vida e encontra a oportunidade com uma esforçada estilista que não consegue emprego por conta da cor de sua pele.

Se a história se prendesse ao shakespeariano romance impossível entre duas famílias que têm tudo para se odiar, poderíamos ter mais um caso de reinvenção de Romeu e Julieta ao menos ok.

Mas nesse caso, as piadas forçosas, a falta de química, além de um nada esforçado final (comum, inclusive às obras que se inspiram no autor inglês) fazem com que o filme seja, sinceramente, uma perda de tempo. Obras como Certas Pessoas fazem a tarefa de defender produções originais da Netflix ser cada vez mais difícil, infelizmente.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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