Tia Lúcia, gracias…
É assim que eu quero guardar você, querida tia Lucia das Graças, na minha memória! Obrigada por tudo!
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Este é um dos textos mais difíceis que já produzi. É o filme de uma vida inteira, para narrar e amarrar. Os personagens são simples, pessoas comuns, tristes e alegres…São tantos afetos para descrever amores familiares, que a mente abriu uma série de arquivos. São milhares de pastas, portas e janelas de lembranças, afetos, reuniões familiares, comemorações, dias solares, mas dias brumosos, também. A vida é assim: ou sol ou nuvem, ou frio ou calor, ou riso ou choro, ou resiliência ou fraqueza, ou saúde ou doença, ou luz ou sombra, ou nascimento ou morte. O nome dela é este punhado de pastas de sentimentos, pois para falar de luz, de quem nasceu na manhã, só posso remeter ao nome de tia Lúcia das Graças (Lucinha), irmã do meu saudoso pai. Luminosa, com sua personalidade marcante, temperamento falador, expressivo e espirituoso. Talvez, eu devesse centralizar a tessitura deste texto inteiro sobre a memória dos afetos. Que adjetivo uso? Tia coruja. Graça de tia graçada, que abraçou e amou cada sobrinho, com seu jeito marcante? Segundo ela: sobrinho é miniatura de irmão. Acredito que sempre foi isto mesmo, saudosa tia. Cada pedaço de nossas infâncias foi compartilhado com você, que soube nos dar carinho, abraços, afagos ou algumas broncas acertadas. Dói-me o fim dos ciclos, mas é sempre preciso entender que vida é etapa, e etapa chega ao fim. É preciso saber viver, diz o velho jargão. É preciso aprender a conviver com o fim, também. É preciso aprender a aceitar cada folha que cai no chão. É preciso aprender a aceitar a inconstância e a finitude dos frutos. E é preciso aprender a não tentar segurar uma vida com unhas e dentes, se a vida diz: ‘pra’ mim já deu! Não importa se vida viça ou surrada; vida é algo que graça, conforme o fluir do universo! Sim, a gente vai embora; com ou sem contas para pagar. A gente vai embora, e ninguém segura, porque o universo é composto de partículas em substituição – umas vêm, outras vão… A gente, partícula, vai embora… A gente vai embora, é óbvio, como pluma, numa casca frágil que se misturara à terra. Do pó ao pó, dos grãos da terra à terra. Quem disse que a gente não vai embora? Se tarde, cedo, pouco importa, o que importa é que a gente vai embora, se despedindo todos os dias, um pouco, aos pouquinhos, ou num tranco. A gente vai embora, vira a página, deixa histórias e exemplos para serem mostrados, com alegria, afeto e amor. E vai embora feito luz, graça divina, luz da graça, Lúcia das Graças… A gente vai embora, e é preciso deixar a Luz ir embora, porque amanhã a manhã raiará em luz, luzindo nossas melhores memórias e recordações. A gente aprende que esta luz se transformará em luzes, todas as manhãs, iluminando nossas janelas. A gente vai embora, mas deixa ‘pra’ sempre, em cada ente querido, a janela aberta dos afetos que a vida de quem vai, aspergiu sobre muitas outras gentes…
Tia Lúcia, gracias…