Carpe diem
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Para Lucas Alves
A vida é agora.
O dia nasce preguiçosamente. É prenúncio do inverno. A casa desperta devagar, e cada um se prepara para as tarefas inadiáveis. Ele desce a rua íngreme, atravessa a ponte, passa pela rua Direita, chega à Praça da Sé. No Jardim, há vestígios do dia anterior: conversas, planos, saudades. Segue pelas ruas centenárias. No prédio antigo, o sino acorda os alunos. Cheiro de café. A cantina é pequena. Primeiros encontros. À espera do sol, o pátio (pequeno palco) já se faz acolhedor. Passos nos corredores. Burburinhos. Ele entra na sala e ocupa o primeiro lugar próximo à porta. Uma blusa de lã, calça de moletom, chinelos, meias. Passa a mão pelos cabelos e seu sorriso preenche o espaço.
Parece sempre captar instantes, como se quisesse armazenar, cuidadosamente, as imagens. É gentil e irreverente. A voz é calma. Tem sotaque. Veio de um pequeno município mineiro. Fala de Cássia. Tem jeito de menino, mas sabe que a vida é agora. Tem planos. Abriga-se da saudade entre aqueles que também estão longe de casa. Irmão mais velho? Há maturidade na observação. Os dias correm. Provas, seminários, mais tarefas. A arte faz parte dele. Em tudo. Está no palco. O curso caminha. Vai chegar a hora do retorno para a cidade materna. É intenso. Olha tão profundamente, como se abraçasse a todos que lhes são caros. Chega o último dia de aula. “Depois, vamos para o Jardim.”, ele quer estender o tempo. Mariana se fez casa. Agora, as melhores fantasias das festas ficarão somente nos retratos. Pasta guardada no computador. Tempo da máquina digital.
Pelas redes sociais, as conexões com os amigos do passado recente. Depois de um tempo, da cidadezinha de nome santo, chega ao lugar de nome imponente: Imperatriz. Distante. Está em São Luiz do Maranhão. Novos laços. Professor. Artista. Encontra o amor. Parceria. Fala assim, num retorno rápido a Minas, na festa de carnaval, num reencontro inesperado: “Estou muito feliz.” Olha para o lado. O sorriso largo: espelho da sua alma.
Compartilha as conquistas. Pensamentos a mil. Sofisticado na simplicidade. Elegante. Desenvoltura diante das câmeras. Multifacetado. Seu maior plano: VIVER. Não precisa dizê-lo. Há dinamismo nas ações. É encantador. Autêntico. Ocupa a sala de aula ciente do seu papel. Ofício árduo por aqui. Enfrenta o desafio. Professor com arte. O microfone. A literatura. A humanidade nas letras, no teatro ampliando olhares para novas perspectivas. Ciente de ter escolhido a comunicação, faz-se continuamente estudante. Os alunos aguardam mais um texto, novo espetáculo. Os amigos esperam novos projetos.
Contudo, a vida é paradoxo. Ela tem seus caminhos e paradas, e aquele que sabe da urgência do tempo desdobra-se. Hoje é oportunidade, mas, sem previsão, encerra o ato. Assim, de forma inesperada, sem ensaios. Tal como um romance de Clarice, uma narrativa de Saramago, ou uma peça contemporânea, o desfecho acontece juntamente com o clímax. Repentinamente. Ninguém entende. Ainda diante do palco, a plateia espera as luzes se acenderem. Permanecemos imóveis. Demora um pouco para compreender. O artista segue viagem. Assim é. Não perceberam? Não há ensaios, e foi isso que ele disse a todo tempo, sorrindo inteiro, amando a vida intensamente. Todos os dias.