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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Sobre Leões

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Foto: Harika G/Unsplash

Vou assumir que, quando pensei em escrever desta vez esta coluna, considerei que o assunto que seria dito, teria sua construção feita totalmente diferente do que será escrito à partir de agora.

Naquele meu primeiro rascunho, eu falava como a sociedade é de tal forma dependente do homem e seus esforços pervasivos a tantos, seu trabalho é silencioso e sem lamúrias, ao menos considerando que eles estão fora de algum boteco de esquina, cuja função é exatamente, dar vazão aos lamentos da vida humana masculina e de como a sociedade não os enxerga como deveria, e tal qual mendigos, tais homens adquiriram uma invisibilidade social seletiva. São somente vistos, quando são necessários.

E estava decidido a enviar esta coluna até agora pouco, quando me deparei com o músico Hans Zimmer, descrevendo como foi trabalhar com o cineasta Christopher Nolan na produção do filme “Interstellar”.

Nesta sua descrição, Zimmer conta que ambos possuem um método de trabalhar bastante singular e estranho. Neste caso, quando ele, Nolan, fosse escrever algum filme, uma carta seria escrita e enviada até ele com uma história metafórica, que nada teria a ver com o filme a ser produzido.

Por sua vez, o cineasta jamais contaria sobre qual seria o assunto do filme ao músico.

A carta que chegou às mãos de Hans Zimmer foi a de uma história linda, sobre o que é ser pai. Ignorante de qual seria o teor ou a história do filme por completo, ele passou o dia compondo.

Após algum tempo, à noite, ele liga para a casa de Christopher Nolan, onde na oportunidade, sua esposa atende:

“Emma, eu terminei. Gostaria que eu enviasse para vocês aí?”

De imediato, ele relata que a esposa respondeu dizendo que o cineasta estava curiosamente ansioso, andando incessantemente de um lado ao outro e disse: “Você se importaria se ele fosse até você?”

Sendo assim, Nolan vai até a casa de Hans Zimmer, onde se senta em um sofá e o músico começa a tocar esta música pequena e frágil, que ele havia escrito sobre o seu filho. Mais especificamente sobre o relacionamento que ele e o filho possuem.

Ao final da canção, ele se volta até Nolan e pergunta: “Então, o que você acha?” Ao que escuta como resposta: “Bem, eu acho que farei o filme, então.”

Mas Zimmer imediatamente retruca sobre não saber sobre o que o filme se tratava e Nolan passa a lhe descrever um filme sobre o espaço, sobre o quão tudo aquilo é vasto e épico e, claro, algo que totalmente ultrapassava qualquer imaginação que o músico poderia ter em relação ao filme, como a própria proposta de trabalho sintetizava, no início. Então finalmente, o músico disse: “Pare! Pare! Veja… eu escrevi essa coisinha minúscula, essa coisa muito frágil e pessoal…” ao que ouviu: “Sim. Eu sei. Agora eu sei onde o coração do filme está.”

E o que eu gostaria de falar com todos os leitores hoje é desta percepção que o pai possui do filho. Das relações que são construídas. Minúsculas, frágeis como canções. Mas épicas, vastas e abrangentes, como todo o universo.

Gostaria de falar sobre as coisas que engrandecem os homens que são ou foram nossos pais. Gostaria de lhes erguer em brinde, como os gigantes silentes que são, tamanha obra de coragem e duradoura virtude, encontra-se encerrado em nós, seus filhos.

Tendo nossas obras e conquistas como ecos de suas ações, com tamanha satisfação que de apego lhes trago homenagens. Lhes presto agradecimentos. Claro que existem inúmeras falhas e também pais que são falhos. Inúmeros existiram e outros mais existirão. E é lamentável se você, meu amigo, cresceu sem um bom pai ao seu lado. Desejo, portanto, com todo o afeto que me é permitido, que a sorte lhe sorria em seu caminho para se tornar exatamente o que as vicissitudes da vida lhe tomaram o direito de ter: um excelente pai.

Que lhe seja possível tomar as rédeas de sua vida e domá-la no sentido de sobrepujar qualquer dor, ressentimento, solidão, abandono e rejeição. Domar a sua vida de tal forma a não ser um escravo destas sensações ruins e limitadoras de seu enorme e vasto potencial, perseverando em solidez, coragem e companheirismo.

Desejo a você, que seu trabalho seja o mesmo reflexo de vastidão e sensibilidade cuja a música se referia, em todo projeto e decisão que perpassar em seu caminho: que seja sempre uma oportunidade de ser importante, relevante e valioso, tal qual seu filho.

Todos nós sabemos o quão é essencial e importante este tipo de homens nos dias de hoje, imagine como serão ainda mais essenciais nos dias que ainda tem sua alvorada a nascer. Feliz Dia dos Pais!

Picture of Alexandre Amorim
Alexandre Amorim é mineiro, pai e defensor da utilização de novas tecnologias em prol da liberdade, educação e desenvolvimento cultural da comunidade de Mariana. Estudante perpétuo, é orgulhosamente um bibliotecário e acredita no impacto positivo da leitura para o futuro.
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