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Hoje é domingo, 6 de outubro de 2024

Sinal dos tempos: Quem dá mais?

“Quem dá mais por um louco que discorda do computador? Quem dá mais por um velho ultrapassado que ainda crê no amor?” (Beto Surian)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

Recentemente tive oportunidade de ouvir, novamente depois de um longo tempo, a música “Quem dá mais”, de autoria do compositor Beto Surian, interpretada pelo cantor e compositor Antônio Marcos, que fez um enorme sucesso na década de 70. Ele, juntamente com Vanuza, sua esposa na época, formava um parzinho romântico que levava um grande número de fãs ao delírio. A letra abordava, de forma meio profética, como seria o mundo em 1996: “Eu quero me ver em 1996, pois eu quero saber como vão ser as coisas por lá. Eu preciso me ver em 1996 e dizer sim ou não aos processos de vida de lá”…

Pois bem, o grande astro e sua esposa se foram, passamos o ano de 1996 há muito tempo e já chegamos ao ano de 2023, quase 2024, mas vale a pena refletirmos um pouco sobre o que podemos aprender com essa música. Vejamos, então, o que diz a letra.

O compositor começa dizendo que tinha tido um sonho e nesse sonho ele estava no meio de uma arena gigante sendo, como um objeto muito raro, vendido em leilão. As gargalhadas soavam por toda essa arena mercante e ele era um palhaço sem graça, perdido na multidão. Ele olhava tudo calado, ouvindo os preços gritados, calando o seu coração.

Em meio a esse contexto de ficção, um leiloeiro, aos berros, gritava:

-Quem dá mais por um cara que ousou acreditar nos seus?

-Quem dá mais por um homem que insiste na palavra Deus?

-Quem dá mais por um louco que discorda do computador?

-Quem dá mais por um velho ultrapassado que ainda crê no amor?

Enfim, o sonho (e a letra) termina com ele sendo vendido, como todas as outras coisas, no grande mercado e afirmando que seu medo tinha acabado quando alguém o tocando, falou:

-Este povo um dia já foi por meu Pai perdoado e eu também fui vendido, pregado e nada mudou! …

Então, seria o compositor um visionário? Será que essa mensagem profética se realizou e/ou vem se realizando nos dias de hoje? O que seria essa arena gigante? Quem são esses seres humanos, objetos raros que ousam acreditar nos seus e insistem na palavra Deus? Quem são esses seres humanos, objetos raros que discordam do computador e ainda creem no amor? Quem são esses seres humanos, objetos raros vendidos em leilão?

Confesso que me assusta, mas atrevo-me a afirmar que sim: a profecia se realizou! A imensa arena mercante é esse mundo capitalista selvagem em que vivemos, onde o ter passou a ser mais importante que o “ser”. Onde o dinheiro compra tudo: o corpo, a mente, a honra, o respeito e, por que não, até a alma!

A prostituição avança com mulheres exibindo os corpos desnudos para todos os gostos e preços em vitrines e vendidos livremente em alguns países europeus e pelas esquinas dos bairros miseráveis de países distantes em busca da sobrevivência! Quem dá mais?

Crianças e adolescentes são vendidas e abusadas sexualmente de forma cruel através do tráfico internacional, e ainda, dentro dos próprios lares ou dentro das igrejas por seres humanos que deveriam protegê-las e ensiná-las o caminho do bem, sem nenhuma chance de fugir do destino atroz! Quem dá mais?

As guerras pipocam e o comércio de armas cresce assustadoramente na arena gigante! Bombas explodem e inocentes morrem debaixo dos escombros, sem entenderem nada do que está acontecendo! Quem dá mais?

Vozes isoladas de sacerdotes nos templos ousam pregar que é preciso acreditar nos seus e insistem na palavra Deus e suas vozes são caladas, covardemente assassinados, com seus sangues derramados aos pés dos altares! Quem dá mais?

O computador e as novas tecnologias mercenárias invadiram as ruas, as praças, as casas e os lares! Lindas fotos e vídeos comercializam e banalizam corpos humanos desnudos em todos os lugares! Quem dá mais?

No final da vida, um velhinho ultrapassado que ainda crê no amor é colocado em um asilo e esquecido por todos os seus familiares! Ele já era, ninguém dá mais!

E a música continua até hoje ecoando pelos ares:

-Este povo um dia já foi por meu Pai perdoado e eu também fui vendido, pregado e nada mudou! …

Interessante que, ainda nos dias de hoje, um outro grande cantor e compositor – José Geraldo – também grita, de forma semelhante, em altos brados na sua canção, contando a história de um pobre pedreiro sendo rejeitado pelos vários lugares onde trabalhou, até finalmente chegar a uma igreja:

“Foi lá que Cristo me disse, rapaz deixe de tolice, não se deixe amedrontar. Fui Eu quem criou a terra, enchi o rio, fiz a serra, não deixei nada faltar. Hoje o homem criou asas e na maioria das casas eu também não posso entrar”…

E nada mudou!!! Será? …

Quem tem ouvidos que ouça!

Cesarius Gestão de Pessoas, investimento permanente no desenvolvimento do ser humano!

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Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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