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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

As flores dormem à noite

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Foto: Jake Johnson/Reprodução

Minhas flores dormem à noite sono profundo e silente. Murcham momentaneamente, recolhendo-se aos sonhos de matizes coloridas. O sono profundo não me invade. Flores azuis, vermelhas, cor de rosa e espinhos descansam na floreira da área externa. Quantas flores silvestres bailam num sono profundo? Olho a tela do computador, branco gelo. Quanto gelo, meu Deus! Quase nada me inspira a escrever. Minhas telas cobertas de poeira e teias de aranha clamam limpeza. Talvez, amanhã, depois ou no final de semana compre um espanador grande. Autossabotamento e postergação afogam meus planejamentos. Teias de aranha e ciscos fazem parte da mobília. Desliguei o aparelho de televisão há meses. Ouço música de segunda a segunda com Jota, meu cãozinho, sobre os meus pés. Ele entende meu olhar vazado; é um ser extraordinário, sintonizado na sua ampla simplicidade…. Um fragmento de tristeza tocou minha pele. Não foi lágrima furtiva, mosquito ou cisco. Transmito sentimentos de pesares todos os dias. Envio vasos de flores para famílias que perderam entes queridos. Que dor indefinida traz a perda? Quisera dar um abraço; abraços foram ressignificados por presenças espirituais. O discurso religioso surge à tona para vivermos esse momento horrendo e tétrico. No caminho trilhado por vales sombrios, dias tenebrosos ou trágicos, firmeza, força e fé abrem direções e desvios. Prossigo e sigo sem olhar muito pra trás. Minha doce companhia tem sido eu mesma/ focada em mim, abraçada ao meu corpo aquecido pela presença espiritual de amigos e familiares que me acompanham em pensamentos, orações e vibrações. Virtual tornou-se sinônimo de espiritual. Creio na força da fraternidade e da de assumir dores dos outros. Raios e trovões rasgam o céu. Tenho medo de raios e tempestades. Jota segue quieto ao meu lado, destemido e despreocupado. Chuva intensa arranca telhas de aço galvanizado que sacodem faíscas na fiação elétrica. Nenhuma alma viva na rua. Santa Bárbara: protegei-nos dos raios e das gambiarras das construções! Respiro e inspiro, respiro e inspiro. Uma lágrima insistiu em rolar. Deixei-a livre para seguir seu curso. Preciso hidratar meu espírito. Oração é remédio, poesia é remédio, prevenir é remédio, amar é remédio, agradecer é remédio, conversar é remédio…. Outra música ao longe, baixa e ritmada. Volta a chover. Chuva de granizo. Pedras de gelo invadem o quintal, se atiram nas janelas e portas. Estão enlouquecidas. Os vidros das janelas vão ceder. Não tenho para onde correr. Há portas e janelas por todos os lados. Pego o fone de ouvido. Camadas de som passeiam no corpo, cérebro e coração em voos contínuos. Jota dorme feito a leveza da pluma. As flores da área externa resistem ao granizo, recolhem-se no sono profundo e intransponível de suas pétalas, aparentemente murchas. De manhã estarão acordadas para recepcionarem novo dia. As flores do meu sono rebrotam sonhos adormecidos.

(*) Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros

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