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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Um burro carregando livros é um doutor burro

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

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A internet trouxe profundas modificações em todos os campos das nossas vidas, do pessoal ao profissional. Uma das principais mudanças diz respeito à nossa relação com as notícias e com os processos de aprendizado que nos cercam. Ficar bem informado e compreender o mundo é algo que fazemos desde sempre, mas nunca com a autonomia que temos agora.


Há várias formas de se dar uma notícia, por exemplo, eu posso simplesmente contar que o João caiu de bicicleta e quebrou o pé. Por outro lado, posso contar também que o joão, trabalhador honesto que sofre com a crise provocada por um governo corrupto, caiu da sua bicicleta porque bateu num buraco da rua, que já deveria ter sido arrumado há meses, e assim quebrou o pé, deixando-o sem condições para o trabalho e com seus filhos desamparados. A mesma notícia ganha contornos diferentes conforme a narrativa.


Se antes a mídia formal, em especial a televisão, dava às notícias a interpretação e a dramatização que melhor lhe convinha, hoje as recebemos de forma bruta e fazemos nossa própria interpretação com os vícios e tendências da nossa ignorância. Cada um lê e entende como bem quer, fazendo com que um único fato tenha dezenas de versões simultâneas e por vezes até contraditórias. A verdade, por sua vez, vem por último, depois de longo e às vezes inalcançável processo de maturação.


É nesse contexto que o analfabetismo funcional virou o principal problema do país. Saber ler não significa saber interpretar o que lê. Se hoje vivemos uma nociva polarização política alimentada por fake news é porque estamos há muitos anos falhando na educação do nosso povo. Há várias pessoas que recebem informações por grupos de whatsapp e as reproduzem com interpretações totalmente equivocadas, que invariavelmente ganham reverberações na sociedade. Ter a informação não significa que o sujeito tenha entendido a mensagem e esse é um desafio contemporâneo.


É aí que entra o curioso título desse artigo: não adianta um sujeito carregar no seu smartphone inúmeras informações se ele não souber interpretá-las! Um burro carregado de livros é um doutor burro, como bem diz um velho ditado. O maior desafio dos novos tempos, é fazer com que as pessoas transformem as diversas informações que recebem durante o dia em conhecimento útil que lhes ajude a evoluir. Saber interpretar as informações é algo cada vez mais restrito, mas que deve ser buscado por todos.


Nesse sentido, mais do que qualquer outra política pública, a educação sempre foi e continuará sendo a chave do sucesso, pois é com ela que se combate as fake news, a manipulação, a cooptação e todas as demais formas de impor cabrestos à população. A nossa sociedade só vai evoluir quando deixar de simplesmente carregar informações e passar a incorporá-las à sua vivência.

(*) André Lana é advogado militante nas áreas de direito público e gestão social.

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