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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Crônicas e Contos

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Perguntaram-me o que é uma crônica. Disse aos ouvintes que crônica deriva do latim chronica, e que poderia significar tempo, ou seja, relato de acontecimentos em ordem cronológica. O estudioso da literatura Alberto Martinez atribuiu à crônica uma origem no jornalismo da França, Espanha e Itália, com semelhanças, mas sem correspondências precisas no jornalismo alemão, inglês e norte-americano. Por exemplo, na Itália, a crônica era mais voltada para a reportagem, na França oscilava entre reportagem setorial e colunismo, na Espanha, combinava notícia e comentário, em Portugal ficava entre o ensaio e o folhetim. Perguntaram-me quando surgiu a primeira crônica, disse-lhes que o gênero narrativo era tão antigo quanto a aparição da Literatura. A crônica histórica, por exemplo, é o relato da vida dos soberanos, dos conflitos entre povos e suas respectivas guerras. As cartas de Pero Vaz de Caminha podem ser consultadas como uma ‘voz embrionária de nossas crônicas brasileiras. A crônica vai ocupar um lugar de destaque na Literatura Brasileira, a partir de meados do século XIX. A crônica acompanharia o ritmo rápido de palavras voadoras e os voos imaginários dos fatos; das memórias do dia-a-dia; das piadas às inquietações; dos apelos da alma; das confissões poéticas ao comentário; do humor à compaixão. A crônica é fruto do jornal, no qual aparece entre notícias efêmeras. Trata-se de um gênero literário que se caracteriza por estar atento ao cotidiano, seja nos temas, ligados à vida corriqueira, seja na linguagem despojada e coloquial no jornalismo. Mais do que isso, aparece no jornal como um instante de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. Alguns cronistas que definiram o perfil da crônica em 1930: Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga. Com o desenvolvimento da imprensa, há uma ampliação de seções para atender o leitor mais exigente de textos que interpretam mudanças que ocorrem na sociedade. A crônica atinge destaque nas penas de Machado de Assis, José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo, argutos registradores da reportagem da vida, isto é, promotores do encontro apoteótico entre a LITERATURA e o JORNALISMO.

Perguntaram-me também o que é conto. O conto no Brasil, também, recebeu diferentes denominações, entre elas: novela, noveleta, romance, causo, raconto. Podemos destacar que os contos aparecem como narrativas curtas, contendo lições ou conselhos, transmitidos oralmente, de geração a geração, ou escritos, em forma de uma breve história de algum fato. O conto, portanto, passa por narrativas orais de povos antigos (gregos e romanos), pelas lendas orientais, novelas medievais, até os dias de hoje. Um período importante de desenvolvimento do conto é o surgimento da imprensa que permite a publicação de textos. Para Eça de Queiróz, “no conto tudo pode ser apontado num risco leve e sóbrio”, dito em outras palavras, as figuras devem ser um fragmento que define e revela o ser; um fragmento dos sentimentos que cabem num olhar; um pedaço de cor da paisagem. Conto é texto breve, veloz, intenso ao ponto de nocautear o leitor com seu conteúdo dramático.

Do mesmo modo, podemos falar dos cronistas e contistas contemporâneos ou históricos, que desde os idos tempos aos atuais, de linha a linha, reportam, recriam ou recontam fatos do cotidiano ou estórias em prosa, com a suavidade de um beija-flor ou o peso de um rolo compressor. Não importa se conto ou crônica; vale dizer é que esses textos literários tocam a sensibilidade do leitor que, quem sabe, adquira interesse pelas reflexões dos eventos que fiam ou desfiam o mundo…

Picture of Andreia Donadon Leal
Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros
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