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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Qual é o significado da sustentabilidade e o que ela agrega nos conceitos políticos, sociais e filosóficos?

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Antes de tudo, entendo que o ideal da sustentabilidade pode ser aquilo que chamávamos, antigamente, de “filosofia de vida”. Digo isto porque há, no mundo inteiro, pessoas e comunidades que vivem – ou tentam viver – esse ideal na prática, nas suas relações comunitárias e no seu relacionamento com a natureza, sem se orientarem por conceitos políticos ou filosóficos. Na verdade, essas pessoas e comunidades inspiram e dão exemplo a muitos estudiosos e pensadores que transformam em conceitos e teorias aquilo que elas fazem em suas vidas cotidianas. A sustentabilidade, antes de ser um conhecimento, é uma sabedoria.

Mas não há dúvidas de que os princípios da sustentabilidade formam uma base filosófica em fase de aprofundamento e expansão, um novo paradigma, indispensável para sermos capazes de lidar com os desafios do século 21. De todos os desafios, o maior é o “acerto de contas” da humanidade, a grande crise da civilização que já começamos a enfrentar.

Essa crise civilizatória é a reunião de cinco grandes crises visíveis hoje no mundo: uma crise economica em diferentes intensidades nos vários países desde 2008; uma crise social, com 2 bilhões de pessoas vivendo com menos de 2 dolares por dia; uma crise ambiental sem precedentes, dramaticamente demonstrada pelo aquecimento global; uma crise política, que se caracteriza pelo crescente descontentamento da sociedade com a qualidade dos serviços públicos e com o nível de participação que o sistema político tem permitido. Esse descontentamento se deriva do processo de estagnação do sistema político e da emergencia de um novo sujeito politico no mundo. Esse novo sujeito se caracteriza pelo forte desejo de protagonismo. Mas na base de todas essas crises está uma quinta crise. A crise do sistema de valores, que chamo de crise ética. É a crise ética que explica a separação entre economia e ecologia, entre as promessas eleitorais e a prática política, entre a emergência da crise climática e as protelações dos governantes nas negociações sobre o clima, por exemplo.

Essa crise civilizatória não pode ser enfrentada por ninguém isoladamente, seja partido político, organizaçao empresarial, ambientalista ou sindical. Esse é um desafio de toda a humanidade e será preciso um esforço de governos e empresas, empreendedores sociais, acadêmicos, lideranças sindicais e comunitárias, artistas e cidadãos de maneira geral. O objetivo urgente desse esforço é mudar os modos de produção e consumo, nossos modelos de desenvolvimento econômico e social, com a idéia de um desenvolvimento humano que seja sustentável.

A ONU define desenvolvimento sustentável segundo quatro dimensoes: social, economica, ecologica e cultural. Prefiro acrescentar mais 3 dimensoes: política, ética e estética, ou seja: democracia plena, valores baseados em solidariedade e respeito, proteção dos bens intangíveis e do patrimônio imaterial.

Acredito que a sustentabilidade é mais do que uma forma de fazer, é uma maneira de ser, um ideal de vida. Esse ideal já mobiliza muitas pessoas no mundo e tem amplo potencial de atrair contingentes ainda maiores. Será essa força ética que poderá implementar as mudanças no modelo de desenvolvimento e na relação entre as pessoas e entre essas e a natureza. Chamo esse novo tipo de cidadão de “ser sustentavel”.

Ele certamente elegerá representantes políticos comprometidos  com o desenvolvimento sustentavel e demandará produtos e serviços com cada vez mais qualidade ética e ecologica. Para mim a sustentabilidade é a utopia desse século e a saída para uma civilização mais saudável, para uma sociedade com mais equidade e igualdade de oportunidades, para nações com prosperidade duradoura e para a preservação das bases ecologicas que sustentam e promovem a vida no planeta.

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Sarah Tempesta é bióloga e mora em São Lourenço (MG)
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