Estou cansada!
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Estou cansada! Cansada demais, verdade seja dita, sem meias palavras ou expressões vazias. Mas não é cansaço físico dos afazeres, dos estudos, da pandemia, do distanciamento social. Já me acostumei com esse cenário. Destarte, estou cansada do descaso das chamadas grandes nações pela vida humana. Esta história é velha, tão velha quanto a criação do mundo. Quem dera voltássemos em eras priscas ou nascêssemos de novo, para tentar melhorar esse mundo. Mas, me cansei também desses profetas dos novos tempos, das renovações. Chega de Vietnã, chega de Afeganistão! Chega de descaso! Chega de guerra! Chega de violência! Chega de ganância! Aí, o terremoto! Chega de negacionismo! O negacionismo já matou mais 570 mil pessoas só no Brasil! Dez anos depois, um novo terremoto assola o Haiti, e o mundo ainda não o tinha socorrido do terremoto da década passada. Estou cansada demais de ouvir pedidos de socorro ao planeta. E mais uma vez, cansada do descaso dos poderosos, que continuam desmatando e jogando toneladas de CO² na atmosfera. O que será de nós, meu Deus!? Estou cansada de ver nações que escravizam mulheres, confinando-as sob burcas e fechando para elas os portões das escolas, os portões da cultura, os portões da liberdade. Que planeta é este que aprisiona? Que planeta é este que anda a marcha a ré? Que planeta é este que massacra, violenta, escraviza e amordaça mulheres e crianças? Que planeta é este, meu Deus! Estou cansada, deverasmente muito cansada. Cansada de ouvir desgraças todos os dias; com medo de sair de casa, com medo das ruas desertas ou cheias de pessoas; vielas escuras, claras; das esquinas, dos lotes vagos… Tenho medo da violência verbal, do massacre psicológico, da inveja, do ódio, da fome. Estou cansada de ver governos inventando guerras ou decretos de posse ou portes de armas, só para lucrarem bilhões com a indústria bélica. Estou cansada de ouvir poderosos cultuarem Deus e armas. Que país é este que aventa o voto impresso em plena tecnologia? Retrocesso! Que cansaço e que preguiça! Choveu um punhado na madrugada. Acordei assustada com o barulho da chuva sobre o meu telhado. Bem-vindas águas de agosto/setembro, que não sejam violentas nem alaguem as moradas. Que venham para despoluir os rios e os mares. Que venham para limpar o planeta da violência e parvoíce humana! Que venham para limpar os corações de ódio e sede do poder! Que venham para limpar as bocas de pessoas que soltam impropérios! Que venham para limpar a mente humana! Que venham para tirar ideias que promovem o terror, a violência e a repressão. Que nossas bocas sejam desentupidas de palavras que vociferam ódio e injúrias. Que galerias pluviais sejam desentupidas. O alagamento, prezados, é sempre pontual em galerias entupidas. Que cada cidadão não jogue lixo nos bueiros e nos rios. Quanto lixo vi flutuando no Rio do Carmo (próximo à arena). Todo o ano é a mesma ladainha: não jogue lixo, não jogue lixo! Ensinei meu cãozinho a fazer as necessidades do lado de fora da casa. Ele aprendeu, depois de erros e acertos, mas aprendeu. Falei para uma criança para não jogar papel de bala na rua. Ela sorriu e apanhou o papel, colocando-o no bolso. Senti-me tentada a lhe dar um beijo no rosto, mas substitui o beijo por um aceno caloroso, seguido de palmas. Que crianças são estas que aceitam um ensinamento ou conselho de uma pessoa mais velha? Talvez, esta nova geração, quem sabe, cresça, cultuando o amor à natureza, às pessoas, aos estudos e ao planeta!
Pois é, estou muitíssimo cansada, mas o cansaço desapareceu com este pequeno gesto de respeito, aprendizado, consciência, ESPERANÇA… Esperança de dias melhores, esperança de ver nações dando voz, liberdade e direito às mulheres, libertando-as das mordaças de chadris, da escravidão, da violência sexual, abrindo-lhes os portões da educação e da cultura… No entanto, o que será de nós, meu Deus, até que isso aconteça!?