Kate é mais uma obra de algoritmo da Netflix?
A Netflix apresenta mais uma obra que parece ter sido comandada pelos seus famosos algoritmos. Mas, isso existe mesmo?
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Em setembro, a Netflix lançou mais um filme de ação que parece seguir uma cartilha bem própria de obras originais do streaming. Trata-se de um longa digno de John Wick e tem traços parecidos com Resgate, lançado no ano passado.
Kate conta a história de uma mulher que cresceu para matar. Literalmente. Treinada por um instrutor para que, quando crescesse, pudesse desempenhar missões em que elimina certos inimigos. E seu histórico é impecável até que ela se cansa dessa vida e resolve se aposentar.
Contudo, ela descobre que foi envenenada e que lhe restam pouco menos de 24 horas para morrer. Esse tempo Kate usa para descobrir quem a quer morta e, claro, para se vingar.
A premissa é boa, com Kate tendo que usar o tempo que lhe resta de vida para não apenas matar quem a matou, mas também desmanchar uma rede intrigante da máfia japonesa, tudo isso enquanto seu corpo sofre com o veneno.
A estética do filme é bem interessante, com muito neon em meio à iluminada noite de Tóquio, onde ocorre todo o filme. Mas para por aí. Todos os personagens são mal trabalhados e as coreografias das cenas de ação mal executadas.
Há de se mencionar que a protagonista, Kate, é vivida por Mary Elizabeth Winstead, que há não muito tempo, fez um filme bem-querido no meio nerd – Scott Pilgrim Contra o Mundo. A atriz entrega bem suas cenas, tem carisma e o filme não ser tão potente quanto a sua atuação não é um demérito dela.
Também não é do elenco de apoio, em que está Woody Harrelson já consagrado no meio e com filmes bem bons em seu currículo.
Talvez o grande mal de Kate, o filme, seja o que leva a pensar se a Netflix se transformou em uma fábrica de filmes feitos por algoritmos. Há de se falar, ainda que brevemente, do que se tratam esses tais algoritmos.
É uma inteligência artificial em que se consegue perceber o que a audiência gosta e, a partir daí, fazer algo sob medida para o seu público. Uma análise complexa que leva em conta, entre várias outras coisas, audiência, atores melhores avaliados pelo público, o tipo de filme mais visto em países-chaves – como o Brasil – e outros inúmeros dados.
Para dar exemplo, a série House of Cards. A Netflix percebeu que o público gostava de séries políticas, que um ator em específico tinha obras sempre bem avaliadas no catálogo – no caso, Kevin Spacey – e um diretor em específico era de certa forma querido (David Fincher). Surgiu, então, a série que foi um dos primeiros maiores sucessos do streaming.
Não para por aí. A Netflix também percebeu que o público tinha um certo gosto nostálgico por obras da década de 70 e 80, protagonizadas por adolescentes e envolvia algo sobrenatural ou muito misterioso. Surgiu um dos maiores fenômenos da empresa: Stranger Things.
É claro que não para por aí. A Netflix sabe que filmes de ação sempre rendem bilheteria, os famosos blockbusters. Uma pegada John Wick, em que um personagem é uma máquina de luta e vivido por um ator que é querido, no caso, Keanu Reeves.
Resgate, filme que tem sua crítica aqui, é um exemplo. As premissas são as mesmas, muda a história e o protagonista, vivido por Chris Hemsworth, de Thor. Kate está nesse mesmo pacote.
É claro que não quero, de forma alguma, desmerecer esses filmes. Até porque ainda não vi John Wick (e de fato, não gostei de Resgate) e Kate não é descartável. Stranger Things é um sucesso que tem tudo para permanecer na memória afetiva de muita gente. House of Cards se deu mal por uma série de fatores, o principal é o nome de Kevin Spacey, mas sinceramente, não há espaço para falar disso agora.
Mas voltando à pergunta-título desse texto porque é algo que se observa em certas críticas ultimamente e, eu mesmo, me peguei desdenhando do evento TUDUM que a Netflix fez nesse último final de semana.
Eu disse que, pelos comentários gerados na internet, parecia que a Netflix viraria um streaming de várias Malhação (aquela novela adolescente que ainda passa na Globo). Bom, fato é que essa fórmula tem dado resultado, pelo menos de audiência, para a Netflix ao longo do tempo.
Por isso, ela investe pesado no que ela tem de melhor diante os demais streamings que têm surgido nos últimos anos: marketing. Fazer um evento dela para falar de lançamentos de séries como Stranger Things, La Casa de Papel, De Volta aos 15 (série brasileira com a astra mirim Maisa), Maldivas (estrelada por Bruna Marquezine e Manu Gavassi) e de sequências de filmes como o próprio Resgate e Enola Holmes – um ótimo exemplo de como os algoritmos falam alto na Netflix – é suco de marketing assertivo, convenhamos.
Esses lançamentos, por darem tão certo de audiência, levam parcela significativa do marketing da empresa. Superlógico.
Não dá para esquecer, apenas, que obras que fogem desse mecanismo – mas nem tanto – também existem. A Netflix bancou uma série de filmes capazes de levar prêmios importantes, como Emmy e Oscar (não que o prêmio seja um parâmetro de qualidade, mas é algo que os outros longas citados aqui, certamente, não têm chance de conseguir e, querendo ou não, são obras mais “conceituados”, sim).
Para 2021 não será diferente, aparentemente. No mesmo evento #Tudum, a Netflix falou de Ozark, uma das mais elogiadas séries da atualidade, The Crown, que abocanha anos após anos uma série de prêmios e Não Olhe Para Cima, longa a ser lançado ainda esse ano que terá nada mais, nada menos do que Leonardo DiCaprio e Meryl Streep, além de Jennifer Lawrence no elenco, um dos mais poderosos dos últimos tempos e tem tudo para não passar despercebido nas premiações ao longo do ano.
O que dá para cravar, então: sim, a Netflix usa muito os algoritmos para produzir suas obras e isso tem dado certo. Talvez Kate não seja um dos melhores exemplos disso, mas vários outros bons foram citados aqui.
Basta o público acreditar no potencial do catálogo original da empresa. Entender que nem sempre o ranking de top 10 será do seu agrado, mas que sim, há muita coisa produzida para todo o tipo de público. Resta que, cada um, entenda o que é bom para si.