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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Round 6 surpreende sem deixar de lado certos clichês da Netflix

Fenômeno inesperado, a série sul-coreana mistura brincadeiras infantis, ultraviolência, debate social, cultura gamer e jogos mortais.

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Não é a primeira vez que a Netflix celebra uma série de língua não inglesa como hit do momento. La Casa de Papel e Dark são fenômenos recentes que jogaram para cima o interesse do público e a audiência do streaming.

Mas dificilmente alguém da empresa esperava um sucesso tão grande com Round 6. Não um com os números de agora. São pelo menos 14 dias nos primeiros lugares do top 10 do Brasil e em mais 89 países.

Um fenômeno global que não mostra exatamente algo inédito nem entrega uma história de fato surpreendente, mas que aponta como a Netflix é especialista em entender o gosto do seu público, mesmo que “meio sem querer”.

Em uma Coreia do Sul marcada pelos problemas de renda familiar, centenas de pessoas são convidadas a jogarem um jogo com prêmio bilionário. Todos os participantes estão praticamente falidos, com problemas sérios com empréstimos e dívidas.

O protagonista de Round 6 é Seong Gi-Hun, um homem que vive com a mãe idosa e tem dificuldades para conviver com a filha. Outro personagem é Cho Sang-Woo, o orgulho do bairro, que estudou em uma grande universidade do país e todos acreditam que ele ocupa um importante cargo.

Mas, ambos – amigos de infância – possuem exatamente o motivador que leva as pessoas a aceitarem o convite para o misterioso jogo, o problema financeiro.

Para não entregar nada além disso para quem ainda não assistiu à série, esse é o principal plot de Round 6. O sucesso esmagador e que tem tudo para levá-la ao posto de obra mais vista da Netflix (de todos os tempos) aparentemente veio por acaso, mas pode ser entendido.

O primeiro fator é a violência. Esse tema tem feito alguns sucessos nos streamings, vide os true crimes ou mesmo clássicos como Jogos Mortais e Jogos Vorazes, que trazem a mesma dinâmica de desenvolvimento de história que Round 6. Sem esquecer de mencionar 3%, série brasileira que foi, até então, a obra de língua não inglesa mais vista nos EUA.

Há também os ingredientes clássicos da Netflix em Round 6. O mais claro são as vestes dos integrantes do jogo misterioso: um capuz vermelho em pessoas mascaradas. Se em La Casa de Papel as máscaras remetem a Salvador Dalí, aqui temos símbolos: um círculo, um triângulo e um quadrado.

Elementos que seguem uma hierarquia na história e que flertam com a cultura gamer, afinal, um dos maiores consoles de videogame usam esses mesmos símbolos em seus controles. Os jogos eletrônicos também são revisitados no score do prêmio, no som que o mostrador eletrônico emite e, claro, na própria dinâmica da história.

O jogo é feito por seis rodadas de partidas, que poderiam relembrar as fases de qualquer videogame clássico. A infância é celebrada com cenários “fofos”, cores instagramáveis usadas em diversos momentos da produção, além das provas em que os participantes são submetidos.

Tudo isso parece ter atraído a atenção do público, mas é claro que a história é o ponto mais importante nessa mistura toda. Ter jogos dando dinâmica no roteiro não é algo novo. Os já citados Jogos Mortais e 3% já fizeram isso antes.

Mas aqui, temos uma profundidade maior em certos personagens, que são melhores trabalhados porque conhecemos a fundo suas motivações – claro que nem todos, afinal, são 456 jogadores.

Ainda que para isso a série tenha um início meio devagar, na hora das rodadas, o espectador cria empatia por certos nomes, o que faz querer assistir mais e mais episódios (são 9, com uma média de 50 minutos cada).

Esse apego por um ou outro personagem cria certas surpresas que, se olharmos bem, são deixadas pistas que apontam um ou outro caminho que a série toma. Isso não é um demérito, mas o mais atento pode achar Round 6 previsível e não estará errado.

Um grande mérito da série é lidar com questões filosóficas e sociais de maneira muito mais palatável. O público tem debates mostrados de maneira bem “mastigada”. A crítica ao sucesso financeiro que sobrepõe o lado humano, a abordagem sobre democracia e relações afetuosas não requerem uma pesquisa no Google para serem compreendidas.

Uma temporada de Round 6 talvez bastasse por si só, mas a Netflix certamente não deixará esse sucesso incrível com uma cauda curta. Deveremos saber de algo novo num futuro próximo. O caminho foi dado em um patamar bem alto. Se um novo ano manterá esse nível, não dá para saber.

Mas depois desse sucesso sem grandes campanhas de marketing da Netflix, podemos esperar um novo patamar de divulgação para o futuro de Round 6.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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