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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

7 Prisioneiros: Infelizmente real

O novo longa da Netflix, estrelado pelo astro Rodrigo Santoro, traz uma triste história que o Brasil finge ser ficção.

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Quando somos apresentados a primeira cena do novo filme nacional da Netflix, vemos uma simples família que divide o almoço de maneira bem feliz. Poderíamos imaginar que estaríamos diante de uma história interiorana, mas o cenário majoritário de 7 Prisioneiros é São Paulo.

A família de Mateus está feliz com fato de que o garoto conseguiu um emprego na capital, condição que poderia colocar toda a família em uma nova realidade. Mas, ao chegar no novo local de trabalho, o personagem vê que ele e os amigos teriam uma dura vida em um ferro velho liderado por Luca, papel de Rodrigo Santoro.

O clima familiar, portanto, é apenas a porta de entrada para uma história de exploração de quatro trabalhadores – que depois viriam a ser sete – nas mãos de um impiedoso chefe. Mais do que as condições sub-humanas e análogas à escravidão, 7 Prisioneiros mostra a invisibilidade e a falta de atuação do estado para reverter a situação dos personagens.

A boa e densa história contata pelo filme muito se deve às atuações. Obviamente Rodrigo Santoro se sobressai, mas Christian Malheiros, que vive o protagonista não fica devendo nada. Os personagens, ao menos os dois principais, são bem trabalhados e conhecemos cada um a ponto de saber as motivações por traz de suas escolhas.

Mas, falar sobre o final do filme ou o caminho tomado por Mateus pode estragar a experiência daquele que ainda não assistiu ao filme.

É claro que o filme tem seus problemas narrativos. O envolvimento da polícia ou mesmo o poder de influência que Luca tem por ela são poucos explorados, ainda que o longa nos entregue suficientemente para entendermos a relação.

É preciso pensar além daquilo que o filme nos apresenta. Afinal, até que ponto 7 Prisioneiros é de fato uma ficção? A perigosa resposta que pode ser dada a essa pergunta muito pode dizer sobre como enxergamos a realidade brasileira.

No difícil momento que passamos, imaginar que trabalhadores não vivem naquela situação não é só uma ilusão. É ignorar uma realidade que pode estar sob nossos olhos.

7 Prisioneiros é mais um belo exemplo de como o cinema nacional pode sobreviver mesmo contando histórias nem sempre novas. Mas necessariamente expostas não só ao público interno, como o internacional – vale mencionar que ele se tornou o segundo filme em língua não inglesa mais visto no mundo.

Assista e veja que nem sempre ficção foge muito da realidade.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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