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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

O golpista do Tinder e a nossa obsessão por dar sorte ao azar

As diversas facilidades das redes sociais mostram que nem tudo são flores quando pessoas maliciosas se aproveitam de carência e vislumbre pelo dinheiro.

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A internet absolutamente mudou nossa maneira de viver. Compras, consumo, entretenimento, informação… tudo se transformou com a web. E também o modo como nos relacionamos.

As redes sociais são uma espécie de símbolo dessa transformação. Por meio delas, podemos conversar com pessoas do outro lado do mundo, fazer reuniões, trabalhar e até pagar conta.

E também achar o amor da nossa vida. Ou a pessoa que a destruirá. É por aí que o documentário O Golpista do Tinder habita.

A obra conta a história do israelense Simon Leviev que se passava por um filho de um bilionário do ramo de diamantes. Pela rede social de relacionamentos, Simon dava matchs com mulheres que conseguia impressionar pelo modo de vida opulento e bem-sucedido.

Jatinhos particulares, viagens e também perigos eram ingredientes que faziam as vítimas se impressionarem e se apaixonarem.

Depois de começar relacionamentos a distância, Simon se dizia em perigo e sinalizando questões de segurança, pedia dinheiro emprestado para suas namoradas, que depois de impressionadas pelo estilo de vida do então filho de bilionário, não hesitavam em emprestar.

Mas, depois de um tempo, Simon desapareceu sem devolver a grana. O documentário da Netflix mostra três de suas vítimas, que nem sempre se relacionavam amorosamente com o golpista.

O modo que o documentário mostra os golpes de Simon, sempre remetendo ao conto de fadas da Disney, retrata bem que a facilidade que toma conta da internet nem sempre é benéfica.

É dinâmico como o documentário mostra a relação de Simon com as vítimas e como um golpe ajudava a dar outro. Enquanto uma emprestava dinheiro ao golpista, ele torrava os valores em outros países fazendo outra vítima.

Não cabe, porém, fazer julgamento da ingenuidade das vítimas. Simon era bonito, simpático, amoroso esse dizia com muito dinheiro, ingredientes que qualquer pessoa aprovaria.

Por outro lado, é possível questionar até que ponto podemos ser tão subservientes com a internet. E com as relações que criamos por lá (ou melhor, por aqui, rs).

Depois de um mês de relacionamento, uma das vítimas procurava apartamento para morar com o seu namorado. Um mês.

Exemplos de golpes que envolvem relacionamentos amorosos, menos mirabolantes, não faltam. Sucesso no mundo dos podcasts, o quadro Picolé de Limão, do canal Não Inviabilize, de Déia Freitas, costumeiramente mostra casos de pessoas que sofrem com histórias parecidas.

Chega a chocar a facilidade com que as vítimas começam a se relacionar com uma pessoa que conhecem há poucos dias e dividem o mesmo espaço, a vida, tudo, sem o tempo necessário (pelo menos, mais longo) para conhecer de fato alguém.

Por mais diferentes que os casos do canal de podcast e o documentário da Netflix possam ser, ambos mostram uma certa crise da carência que, junta a facilidade da internet, multiplicado pela capacidade de as pessoas de serem más, torna a vida mais perigosa.

Ou então, o vislumbre pelo dinheiro. Talvez o documentário da Netflix mostre mais isso e o podcast brasileiro o primeiro. Enfim, paralelos.

O golpista do Tinder ainda está solto e parece que promete contar a sua “versão” em breve. Bravata recorrentemente repetida por pessoas culpadas.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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