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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O Oscar, o tapa e a Netflix

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Crédito da imagem: Robyn Beck | AFP via Getty Image

Uma semana após a noite mais esperada do cinema, os acontecimentos ainda repercutem no mundo. Nem sempre sobre o que gostaríamos.

Há não muito tempo, um amigo me questionava se eu “levava o Oscar tão sério assim”. A pergunta era justa, ainda que a resposta um tanto óbvia — ao menos, para mim.

A relevância do Oscar não é necessariamente sobre se o que ele premia é bom ou não. É sobre o que ele transmite.

A pergunta surgiu quando falei sobre a premiação de Melhor Filme de 2019 ter ido para um filme com traços racistas — no caso, Green Book. Ora, como não pensar sobre o significado de um longa como esse ganhar o objeto mais desejado da indústria?

Vindo para 2022 temos a premiação de CODA — No Ritmo do Coração. Mas, a verdade seja dita, quase nada se fala sobre isso, mas sim do tapa que Will Smith deu em Chris Rock no meio da cerimônia.

A repercussão por si só prova que não só eu, mas muita gente ainda leva o prêmio a sério. E assim será por um tempo bom ainda. Pelo menos, eu acho.

Smith reagiu mal a uma violência cometida por Rock, que fizera uma piada com o cabelo de Jada Pinkett Smith, esposa do ator que levaria o Oscar ainda naquela noite.

E só se falou nisso.

O episódio entre Will e Chris aconteceu no meio de uma premiação que reflete sobre a sua importância diante um novo público.

Um público muito mais ligado a vídeos rápidos, blockbusters e astros teens.

A Academia flertou com tudo isso, indicando uma categoria (mas sem premiação) levantada por hashtags, colocando — absolutamente sem qualquer conexão — uma banda de K-POP no meio da cerimônia falando sobre qualquer coisa, atores de séries adolescentes para apresentar as categorias e até mesmo atletas consagrados do X-Games.

Nada disso deu muito certo, apesar de a tentativa ser válida. Afinal, falou-se somente na fatídica piada sem necessidade e o tapa reativo de Smith.

Pouco se falou, mesmo, sobre cinema. CODA, o bonito filme sobre uma família surda com uma filha ouvinte, é cativante e fez uma campanha histórica para levar o prêmio — que muitos contestam.

O filme deu algo inédito à premiação: é o primeiro feito por streaming a levar a principal categoria.

Algo que chama a atenção para as em vãs campanhas da Netflix. Afinal, o filme vencedor era da Apple TV e, mais uma vez, a Netflix vinha forte para levar com seu Ataque dos Cães, que levou apenas um prêmio, o de Diretora.

É curioso pensar que nos últimos anos, a Netflix veio com fortes chances. Roma, em 2019, O Irlandês, em 2020 e agora com Ataque dos Cães. Todos muito pouco premiados, no entanto.

Mas é a Apple que inaugura uma era de filmes de streamings premiados, ao menos, claro, como o melhor filme.

Em uma noite em que tudo conspirava para ser a celebração do cinema, ainda que muito, muito reduzido, o que tivemos é esse inesperado episódio de Rock e Smith.

O ator, que venceu seu primeiro Oscar, renunciou a sua presença da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, ainda pode sair do sindicato de atores e está prestes a perder papéis (enquanto Rock continuará a fazer piadas sobre doenças).

Ao que tudo indica, o Oscar está sim, tentando se recolocar a um novo público. Ainda não sabe como fazer isso e tem feito tentativas um tanto quanto desastrosas — vide que o grande destaque da noite foram duas agressões.

E os filmes de streaming que, ao que parece, conquistaram de vez seu espaço na premiação. Você pode assistir à Coda — no Ritmo do Coração pelo Prime Video aqui no Brasil.

Agora, é esperar o que o cinema e a premiação preparam para esse novo ciclo.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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