Canto de louvor a José
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Do outro lado da montanha: montanhas. Do outro lado das intenções: sentimentos escusos. Do outro lado do livro: vidas que ultrapassam horizontes conhecidos e experenciados. Mariana amava José que amava Mariana. Pedro testemunhou que Mariana fez amizade com oponente de José, sem saber que o antagonista tinha sentimentos invejosos sobre José. José não parou de escrever. José não parou de cantar, produzir canções que louvam e elevam Mariana. O amor ultrapassa sentimentos e más intenções. O amor transpõe o olhar vesgo que distingue nativo de adotivo. Quanto calor emana dos versos de José! Fiat-lux. O sol acendeu o céu.
Sua voz de poeta, silenciosa/se diz em meditação/minha voz de profeta/licenciosa/se diz maldição/minha voz manifesta/Ditosa/se diz a foz do chão/ enquanto minha voz discreta/água a ira inda pupa no aguardo/do pecado já cometido/
No dia do juízo/ no dia preciso/diante da luz/Terna
Do relâmpago artificial
Na rede elétrica da minha bondade.
Minha voz de sóis completa
Copiosa
Sua raiva dos traços da mão.
Haja voz, nós das gargantas,
Sazonal humor qual céu de verão,
Minha voz de poeta
Deleitosa
Toca as linhas do coração!
Sua voz de poeta toca, profundamente, as linhas das montanhas mineiras, as águas que brotam das cachoeiras e riachos, as montanhas que cercam e abraçam a cidade, a vegetação que balança com o sopro do vento, o bambuzal que cumprimenta os passantes em boas-vindas calorosas, as casas e os casarões conservados; a cultura, cuja tradição é preservada, sem desprezar a contemporaneidade.
Mariana afaga seus moradores, sem distinção e afagos em Pedro, Antônio, Manoel, Maria, Ana. Encontrei três pedras pequenas no porta-joias. Não é semi-joia, é lembrança afetiva. O brilho das pedras era similar ao do sol. Uma fagulha de luz no interior de cada peça. Aqueci melhores sentimentos por José, que ama Mariana. A voz ditosa de José foi preterida, mas nós, escritores das montanhas de Minas, aldravistas natos, personagens de lutas, estudos, dedicação de décadas em prol da LITERATURA, ativistas pelo acesso ao livro e à leitura, deixamos o nosso ABRAÇO e reconhecimento aos versos de José, José lá de São João de MARIANAS, honorável cidadão com a mesma naturalidade de mãe na certidão de nascimento. Nasci branco, cabelo pixaim, no chão de pedra batida, perto de galinhas, cavalos, montanhas, palhoça; costurei colchões de capim, vendi doce na estação e ruas… Morei em casa de tábua, aprendi a ler: ‘MALEMÁ’, na cultura negra do meu pai preto. Camilo de tantas lutas por liberdade… É nessa solidão que sou polvo, personagem da semiótica de vozes e pinturas, versos, sentimentos…
SOLIDÃO (J.B. Donadon-Leal)
(…) Ah! As ideias não nos pertencem…
Elas estão por aí atormentando nossas cabeças,
nos incluindo em modelos e nos excluindo de sistemas.
Sou espectador privilegiado dessa bossa que entoo como canto novo
di-vã-dré, di-já-vã percepção do mundo
de conceito de amor em grande laço
a um passo da armadilha
um lobo que fica mal com Deus
quem não sabe
quem passou por mim e vil não nos viu
nós todos:
eu lírico, eunuco, eu outro, grande outro,
eu em mim, sem mim, deslocado de mim, eu a mais,
eu bem, eu mal,
eu céu, eu terra, eu mar
quando me quebro na praia
marionete
eu caí-me veloso, antecipando o carnaval
pra liberar minhas fantasias, meus fantasmas
e um a um me devolvendo a mim mesmo
em-mim-mesmando cada voz que revela meu ego…
Assumo o assombro de vocês que não me veem mais.
Debochem de mim não!
A minha luz se apaga de mim,
mas a bruma que me leva a penetrar em todos os espaços
ascende de mim minha alma leve de flutuação
a conquistar o mundo, vasto mundo,
se eu não me chamasse mais
todos vocês poderiam retornar para mim
para experimentar
o que é ser
divino, trino, uno,
universal
diverso
verso
sal
só.
E não digam que SOMOS DONOS de nada, nem das ideias. As ideias nos atormentam, amaldiçoam, inclui em ex/partilhos, ex-partidos e nos exclui de sistemas!