Entre C-Levels e Heads: o estrangeirismo nos meios organizacionais
“O chefe usa e abusa da força e do poder instituído, o líder conduz com carisma e autoridade. Organizações de sucesso são aquelas em que todos são cabeças pensantes, independentemente dos níveis que os profissionais ocupam.” (Vasconcelos, 2022)
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Estamos vivendo uma era onde a onda de termos importados da língua inglesa vem tomando conta dos meios organizacionais. Ficou convencionado que é chique e dá um tom moderno utilizar um desses termos em palestras, eventos, escritos e posts nos meios profissionais.
O termo C-Levels é um deles. Ele é utilizado para designar coletivamente os executivos seniores mais altos na estrutura de uma organização. A letra “C” significa “chief” que, em português, pode ser traduzido por chefe e o termo “Levels”, por níveis, portanto, em uma tradução literal “níveis de chefia”. Por se encontrarem, geralmente, no topo do escalão na maior parte das empresas, esses executivos são considerados os mais influentes. Assim nós temos várias denominações. Vejamos algumas delas.
Chief-Executive-Officer – CEO ou Diretor-Chefe Executivo. É o nível mais alto de executivo no mundo corporativo e, provavelmente, o mais conhecido. É ele quem define as diretrizes organizacionais e a estratégia a ser adotada.
Chief-Operator-Officer – COO ou Diretor-Chefe de Operações que é responsável pelos processos operacionais da organização e se reporta ao CEO.
Chief-Financial-Officer – CFO ou Diretor-Chefe de Finanças que é responsável pela gestão estratégica financeira da organização.
Chief-Information-Officer – CIO ou Diretor-Chefe de Informação que gerencia estrategicamente toda a infraestrutura tecnológica de uma organização.
Chief-Marketing-Officer – CMO Diretor-Chefe de Marketing que cria as estratégias e conduz os planos de atração de clientes, sempre em linha com os direcionamentos do CEO.
Chief-Human Resource-Officer – CHRO ou Diretor-Chefe de Recursos Humanos, responsável pela gestão estratégica de pessoas.
Enfim, os “Chiefs” são muitos e os termos não param por aí. Por incrível que pareça, algumas empresas já até criaram o Chief-Hapiness-Officer – CHO ou Diretor-Chefe de Felicidade que, segundo consta, é o profissional que, estrategicamente, tem por objetivo garantir que as pessoas sejam felizes no ambiente de trabalho! Haja chefe para tamanhas responsabilidades!
Alguns aspectos estranhos e relevantes merecem ser observados com relação a estas nomenclaturas. O primeiro é que o termo “Chief” ou “Chefe” traz em sua origem um significado bastante pejorativo, onde chefe é quem manda e o subordinado obedece: “manda quem pode, obedece quem tem juízo” é a expressão exata que traduz essa relação. Com certeza, essa estratégia há muito tempo se encontra ultrapassada, principalmente considerando que estamos vivendo a era do investimento no capital humano e da gestão participativa. O segundo aspecto é que a tradução mais comum do termo “Officer” para a língua portuguesa é “policial”, ou seja, um profissional que anda armado e impõe sua autoridade para que as leis e as normas sejam cumpridas! Novamente um enorme equívoco! Então, em uma tradução literal, teríamos um “Chefe que policia”! Partindo desses princípios, creio que fica realmente difícil imaginar que esses termos são os mais adequados para o momento em que estamos vivendo.
Outro termo que merece ser destacado é o termo “Head”, muito comum atualmente nos meios organizacionais que, em uma tradução literal, significa “cabeça”. Esse termo é utilizado para descrever o profissional que está à frente de uma determinada área em uma organização e é responsável pela sua direção. Assim nós temos o “Head de Finanças”, o “Head de Marketing, o “Head de Tecnologia da Informação”, o “Head de Recursos Humanos” e vai por aí na mesma linha dos C-Levels. Surge, então, no ar, uma pergunta que não quer se calar: se eles são os “Cabeças” de um corpo organizacional, o que são os demais? Será que não estamos repetindo o velho e ultrapassado conceito de “mão-de-obra”, onde os “Cabeças” pensam e os demais não pensam, são simplesmente as mãos que executam a obra?
Sinceramente, não tenho nada contra a importação de termos da língua inglesa para os meios organizacionais, como os já consagrados feedback, turnover, job rotation, coach, mentoring e muitos outros, mas penso que precisamos estar atentos aos estrangeirismos para não importarmos uma cultura sub-repticiamente travestida de chique que, meramente e equivocadamente, repete os mesmos vícios do passado. Entre os “Chiefs” e os “Heads”, entendo que, em uma organização de ponta, não é cabível mais existirem “Chefes” e que todos são cabeças pensantes, não só os “Heads” do topo da pirâmide. Se é que realmente precisamos importar alguns termos da língua inglesa para parecermos modernos, não seria mais adequado utilizar os termos “Leader” e “Leader-Levels, L-Levels?
Quem tem ouvidos que ouça!
Cesarius Gestão de Pessoas, investimento permanente no desenvolvimento do ser humano.