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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A mente humana

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Sob chuva, mulher atravessa a faixa de pedestre á noite, protegendo-se com uma sombrinha
Foto: Ryan Millier/Pexels

Tempo de chuva. Trovoadas intensas. Relâmpagos despedaçam o céu. Raios que assustam. Raios que partem céus. Raios que iluminam a escuridão. Tempestades de granizo judiam de plantas e flores do meu canteiro. Ruas alagadas, bocas de bueiros entupidas. Telhas de amianto voam ou são alvejadas feito tiro de canhão. Buraco por todos os lados; chuva entra feito enxurrada nas casas. Vídeos de água entrando nos lares invadem as redes sociais.

Gritos de moradores: ‘perdi tudo. Valei-me, Santa Bárbara! São Pedro, rogai por nós!’ Freud, bem disse, que temos coisas ruins dentro de nós. Coisas boas e ruins. Escondemos nossas ruindades desmedidas, que se faladas nos envergonhariam, profundamente… Nem só de ruindade somos compostos. Vejam as tempestades intensas, que assolam vidas, destroem telhados, casas, móveis, pessoas… Na tristeza, morte, acidentes, nos solidarizamos com o outro. Fazemos rifas, campanhas, para arrecadar alimentos, roupas, móveis, remédios…

Assaltaram alguém? Câmaras de segurança por todos os lados. Testemunhas nas ruas filmam a cena ou ajudam a vítima. Alguém sumiu? Câmeras gravam seus últimos passos. Um divulga na rede, o desaparecimento ou acidente. Milhares compartilham a ocorrência. Agrediram? Câmeras de celulares estão à espreita de escândalos de qualquer natureza. Atropelou alguém na faixa de pedestres ou em outro local? Está filmado!

A notícia se alastra na rede. Não adianta negar socorro! Não adianta acreditar que vai ficar impune! Quem atropelou uma moça na faixa de pedestres? O carro é um Fiat cinza. O veículo arremessou a moça para cima do capô. Sorte dela! A moça levantou-se. Não vi o motorista (ou a motorista) saindo do carro, para socorrer a vítima. Não sei se a polícia já autuou o imprudente. Está registrado. Está filmado. Foi testemunhado por pessoas que passavam no local. Está divulgado na rede. Alguém sabe quem foi o imprudente?

Eu vi o vídeo. Assustou-me, evidentemente, o atropelamento. Assustou-me a falta de socorro. Assustou-me a falta de amor ao próximo. Não me assustou o descumprimento da lei! Estranhamente, muitos dizem que é fácil descumprir a lei neste país. O motorista terá sua carteira suspensa pela invasão à faixa de pedestre com pedestre nela? Pelos danos morais? Eu não sei, mas queria saber!

Há quem disse que a chuva confundiu a visão do motorista! Ah, ele entrou em choque! Ah, foi culpa da moça, que não esperou o carro passar! Ah, a moça estava errada! Como? Ah! eu não vi um motorista invadindo a faixa! Este povo adora julgar! Este povo faz drama! A moça levantou-se, rapidamente! Ah, esses sensacionalistas! Esta faixa de pedestres está no local errado! O lugar da faixa prejudica a visão dos motoristas! Culpa dos responsáveis que tiraram o sinal de trânsito! Culpa de quem, mesmo? Não vi nada demais! Não vai dar em nada! Há tanta impunidade no Brasil!

De tanta frase absurda, há sempre alguém que solta um aforismo reflexivo: se somos um país que evidencia a impunidade, por que temos uma das maiores populações carcerárias do mundo? Segundo Schopenhauer o homem é o animal que mais causa sofrimento no seu semelhante, por vaidade ou ruindade mesmo.

Acredito que esta seja uma visão pessimista, demais. Nascemos bons; o ambiente em que somos criados nos molda para o mal, não obstante, as regras de exceção. Se o atropelador vai ser autuado, não sei. Se o atropelador vai ter a carteira suspensa, não sei. Se vai pagar por lesão corporal, danos morais etc. O que espero é que a lei seja cumprida. Os fatos? Esclarecidos. Que todos nós possamos ver na faixa de pedestres um espaço de segurança, para pedestres e motoristas!

Ainda não me sinto segura… Podem culpar a tempestade, a chuva de granizo, o relâmpago, o trovão, o vidro embaçado ou o freio a vácuo (?)! A mente humana, de fato, é uma caixa de inspirações iluminadas e obscuras…

Picture of Andreia Donadon Leal
Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros
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