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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Punhos de repúdio: o game sucesso de vendas e 100% anti-bolsonaro

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Os negacionistas são os inimigos principais do game Punhos de Repúdio - Foto: Reprodução

Para um público mais desavisado, pode até não parecer, mas, a verdade é que a política sempre andou lado a lado com os games.

Tennis for Two, considerado o primeiro videogame da história, foi desenvolvido pelo físico William Higinbotham (integrante do projeto Manhattan, aquele projeto que assinou a construção da bomba atômica) em um laboratório do exército; Tetris, um dos games mais populares de todos os tempos, foi produzido na União Soviética e, com seu sucesso mundial, chegou a criar incidentes diplomáticos entre os Russos e os estadunidenses; Last of Us, novo clássico do Playstation — e que acabou de ganhar uma promissora série na HBO —, é recheado de cenas (perturbadoras) inspiradas nos conflitos entre os palestinos e o Estado de Israel, terra de Neil Druckmann, criador do jogo.

A lista de convidados dessa dobradinha entre política e jogos digitais é enorme, mas, meu foco aqui é no produto nacional. Ou melhor: em Punhos de Repúdio, um divertidíssimo sucesso que tem feito história na indústria de games do Brasil.

A histórida de Punhos de Repúdio

Idealizado no começo de 2020, o jogo apresenta 4 protagonistas, Laura, Nina, Olga e Lola, que, ao ver diversos negacionistas, vestidos com blusas da CBF, desrespeitando todas as regras do início da pandemia, resolvem fazê-los adotar o lockdown na marra, saindo no braço com estes e vários outros personagens ícones do bolsonarismo, como pastores corruptos e milicianos.

As protagonistas de Punhos de Repúdio: Laura, Nina, Olga e Lola - Foto: Reprodução

Com mecânica beat ‘em up (aquela em que o jogador precisa andar pelo cenário, indo da esquerda para a direita, eliminando diversos inimigos com sessões de golpes corpo a corpo), Punhos de Repúdio tem uma estética cartunizada, inspiradíssima nos traços de animações como As meninas superpoderosas e Irmão do Jorel.

Aliás, por falar em Irmão do Jorel, além do visual, é possível dizer que bastante do humor presente no roteiro do game se assemelha com aquele do desenho da Vovó Juju, transitando entre o nonsense e gags escatológicas.

Por fim, mas não menos importante, vale falar sobre a trilha sonora do jogo, que, utilizando o estilo 16 bits, casa perfeitamente com a aura noventista proposta pelo estilo beat ‘em up, mais popular no auge dos fliperamas.

Equipes pequenas, grandes números de vendas

Quanto à produção, a empresa responsável pelo jogo é o estúdio carioca Braindead Broccoli, criado em 2021.

Buscando os recursos necessários para o início da produção através de financiamento coletivo, o estúdio conseguiu um valor 10 vezes superior ao esperado em sua campanha no Catarse. Algo a se comemorar, principalmente para um projeto vindo de uma equipe de apenas 5 pessoas: Kainã Lacerda (Arte, animações e roteiro) Ulisses D’Ávila (Programação), João Matheus Nascimento (Trilha sonora) Vitor Miyai (Efeitos de som e mixagem), e Luiza Bartolette (Comunidade e mídias sociais).

Mas o sucesso de Punhos de Repúdio não parou por aí: no final de 2022, o game conseguiu vender mais de mil cópias apenas nas primeiras 24 horas de seu lançamento, tornando-se um dos maiores sucessos nacionais do ano passado, além de um dos mais premiados ao conquistar o prêmio de melhor jogo no júri técnico e popular no SBGames.

Uma história para além da pandemia

Pode não parecer, porém, ainda estamos sob uma pandemia global, que de tempos em tempos faz questão de mostrar porque ainda não podemos deixar as máscaras de lado. É bom falar sobre a continuidade da onda de COVID19 para apontar como Punhos de Repúdio, escrito, produzido e lançado ao longo do período pandêmico mais acentuado, poderia correr o risco de soar datado em alguns anos, no tal do pós-pandemia… se não vivêssemos no Brasil.

Apesar de contar com várias referências do contexto inicial da pandemia, a base da crítica principal do jogo (o bolsonarismo e o negacionismo) está presente na sociedade até hoje e, infelizmente, não dá sinal de que será arremessada para o lado tão cedo.

No final das contas, muito bem produzido e com um roteiro atualíssimo, Punhos de Repúdio vale a pena ser jogado não apenas por representar a excelente safra de produções nacionais da indústria dos games, mas, também, por ser um bom exemplo do espírito político de uma época.

Você pode jogar Punhos de Repúdio (com até 4 jogadores) através: Pela Steam, em um computador médio com a seguinte configuração:

    • Sistema: Windows
    • Memória: 6 GB de RAM
    • Placa de vídeo: 1 GB (médio)
    • Armazenamento (HD): 4 GB de espaço disponível

Indicado para maiores de 14 anos.

 E aproveite para conferir outras dicas de jogos que dei por aqui:

Picture of Kelson Douglas
Kelson Douglas é Diretor criativo da I Love Pixel, fundador do Valin, o vale de inovação de Mariana e Ouro Preto, embaixador do Montreal International e líder local do Startup Weekend e da IxDA, a associação mundial de design de interação
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