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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Não se deixem levar pelo ódio!

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Foto: Zoe Fernandez/Unsplash

Lembrei-me dos apelidos terríveis que recebi na época de estudante, aquelas fases tórridas da pré-adolescência e adolescência. Fervilhavam nomes que descreviam minhas características físicas ou maneira de ser, em tom ácido de deboche, mesmo. Nunca fui intolerante e vingativa com os debochados. Os debochados têm um coração atormentado e triste; vivem e se alimentam de ridicularizar o outro; carecem de terapias. Aprendi com meus pais que bullying (na minha época este termo não era usado, mas eu sabia o que era ofensivo!) não se combate com violência nem com chutes, tapas, facadas, pauladas ou tiros. Bullying se combate com equilíbrio das emoções, para ignorar os ofensores; sabendo equilibrar iras e impulsos, reações e ações, ou tempestade de adrenalina, que nos fazem reagir em situações de perigo. Ignorar não é fácil. É uma missão que exige treino, dedicação, zelo e perdão. É um exercício diário de equilíbrio e paciência. Eu já fervilhei de raiva com os apelidos que recebia dos colegas. Lembro-me dos guris rindo de meus óculos grossos, corpo gordo, estrabismo, pernas cambotas… Resisti. Meus pais e professores me deram forças para combater o bullying e meus ódios. Não guardei minhas inquietações e sentimentos de revanche. Compartilhei-os com pessoas da família, da escola e profissionais. Eu vivi num ambiente propício ao equilíbrio emocional, e aprendi a resistir às múltiplas janelas e portas de provocações, de ódio, de violência, de vinganças. Quem tem equilíbrio emocional tem mais chance de sobreviver às provações, mazelas, sofrimentos e frustrações da vida. A gente só aprende a ser forte, passando pelo sofrimento e pelas zonas de desconforto. Resistir à violência é o desafio da atualidade. Não há outro caminho a ser trilhado a não ser encarar as sombras e os desconfortos morais e físicos, com uma alma que se alimenta, diariamente, de sol. O sofrimento e as frustrações são da vida; estão em cada esquina. A gente tem que aprender a conversar com a família, com os professores, com os amigos e profissionais sobre nossos desconfortos. Por isso e outros motivos pessoais, nunca fui fã de livros de autoajuda e receitas comportamentais. Creio que esta geração pode dar certo. Perguntaram-me se a onda de violência que ronda as escolas, é a liberação do porte de armas ou o ódio destilado nas redes sociais. Talvez a liberação de posse e porte de armas, somado ao não saber lidar com desconfortos físicos e morais, corroboraram com a detonação de ódios destilados nas escolas.

Não militarizem as escolas, pelo amor de Deus! Precisamos ficar atentos para não sermos militarizados pelo ódio que ronda as redes sociais. Precisamos ficar de olhos abertos para não transformar nossas escolas em presídios! Precisamos conversar com nossos filhos. Voltar a conferir seus cadernos, suas mochilas, seus deveres de casa; dialogar com a escola e professores. Controlar o período de navegação na rede social.

Na minha época de escola, a gente fervilhava de raiva, prestes a querer rolar no chão com o colega que debochava da gente. Eu sentia uma onda de calor envolvendo meu rosto e corpo; a raiva aumentava de tamanho, querendo tomar minha razão e emoções. Mas eu respirava fundo; ia para o banheiro. Molhava o rosto com água fria. Mais tarde, eu desabafava com meus pais ou irmãos. A raiva ficava pequena, menor do que minha estatura. Aprendi a falar dos meus desconfortos e de minhas frustrações. Nunca guardei sentimentos ou sensações, que não dava conta de dominar ou controlar. Raiva e desconfortos nos adoecem, tomam conta da vida, dos sonhos e futuro. A vida é curta! Estudantes: não se deixem levar pelas Fakes, pelos possíveis amigos virtuais (vocês não sabem quem está atrás do computador!). Não se deixem levar pela onda do ódio! Protejam suas vidas, voltem a conversar e ter amizade com seus pais. Eles têm um projeto de vida para vocês, não um projeto de morte, violência e destruição!

Picture of Andreia Donadon Leal
Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros
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