Entre a tecnologia, o progresso e a triste e incrível realidade da fragilidade humana

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman desenvolveu o conceito de mundo líquido, uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos. Sem dúvida, a liquidez das relações é um fato, mas, apesar das enormes evoluções tecnológicas, em meio a tanto ódio, violência e mortes, às vezes penso que, muito além do conceito do renomado sociólogo, vivemos em um mundo de chumbo! Os sinais dos tempos nos aparecem de forma concreta para comprovar!

Sou do tempo do fusquinha, da TV preto e branco, que tinha a imagem cheia de chuviscos, da máquina de datilografia, do mimeógrafo, da máquina fotográfica Love, que era descartável, das grandes e grossas enciclopédias Conhecer e Barsa, do telefone de cabine nas antigas Telefônicas, do Telefax e do Telegrama, do orelhão e do Aurelião, o grande dicionário da Língua Portuguesa. Por incrível que possa parecer, provavelmente grande parte dos nossos jovens atuais não tenham ouvido falar de nenhum deles!

Hoje estamos chegando na era do skycar ou, melhor dizendo, do carro voador, que já está chegando por aí, lembrando o antigo desenho animando dos Jetsons. Os aparelhos de TV’s 4K, com ultra definição e suas telas panorâmicas trouxeram o cinema para dentro de casa. O ChatGPT redige artigos e textos que já saem prontos instantaneamente com o conteúdo e a forma que você desejar e ainda substitui de forma fantástica todas as enciclopédias que se possam imaginar. Os Smartphones reúnem em um só pequeno aparelho o antigo telefone, o TeleFax e o telegrama, a máquina fotográfica, a televisão, a filmadora, a calculadora, o rádio, o gravador, o aparelho de som, o dicionário, o tradutor, o GPS, o computador e outros recursos mais que eu já nem sei precisar. A internet das coisas consegue conectar veículos, eletrodomésticos e até pessoas, permitindo o controle, a monitoração e a automação dos dispositivos de forma remota. Não duvido se daqui a alguns dias surgir o teletransporte! Se quisermos dar um passeio pelo mundo, será só entrar em uma cabine que irá nos desintegrar em um local e reintegrar em outro instantaneamente!

Do jeito que as coisas estão indo, fica difícil de criar novas ficções prevendo até onde a tecnologia irá nos levar. O que chama a atenção e causa um enorme espanto é que, apesar dessa evolução tecnológica fantástica, o ser humano não conseguiu evoluir, nem de longe, em termos de problemas relacionados à saúde, à diplomacia e humanitários.

Os Coronas Vírus, os mosquitos da Chikungunha e da Dengue continuam matando um monte de gente diariamente por aí. A pandemia surgiu com força para demonstrar a nossa enorme fragilidade: 14,9 milhões de pessoas perderam a vida em todo o mundo!

As doenças autoimunes (uma delas acabou levando o meu ente mais querido) e os diversos tipos de câncer dão indícios que aumentaram enormemente em termos de incidência e fatalidade. Os problemas de saúde mental como à depressão, neurose e burnout atingem cada vez mais um elevado número de pessoas. Segundo a Organização Mundial de Saúde mais de 1 bilhão de pessoas vivem com algum transtorno mental no mundo!

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia por causa de um pedaço de terra já dura quase um ano e já atingiu a marca de mais de 200 mil mortos. Nem a ONU nem os grandes líderes mundiais, inclusive os religiosos conseguem conter o exército russo que avança impiedosamente pelas terras ucranianas, devastando tudo e a todos como um violento e catastrófico vendaval.

Uma pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUD feita em 109 países, reunindo um contingente total de seis bilhões de pessoas apurou que 1,3 bilhão – ou seja, um quarto da população investigada – vivem em situação de pobreza no mundo! Um relatório divulgado pela ONG internacional OXFAM estima que atualmente 11 pessoas morrem de fome mundialmente por minuto!

Outras estatísticas assustadoras poderiam ser citadas, mas para não parecer pessimista e criar pesadelos, é melhor parar por aqui. Fica, no entanto, no ar algumas perguntas para refletir e que não querem se calar:

De que adianta todo esse “progresso” tecnológico se a cada dia as doenças e as fatalidades tendem a aumentar?

De que adianta todo esse “progresso” tecnológico se as guerras continuam a ceifar inescrupulosamente vidas humanas por motivos injustificáveis?

De que adianta todo esse “progresso” tecnológico se a pobreza e a fome continuam tragicamente matando milhões de pessoas ao redor do mundo?

O teólogo francês Teilhard de Chardin tem um belo pensamento que sempre me chamou a atenção: “Um dia, depois de dominarmos os ventos, as marés e a gravidade, dominaremos a energia do amor e pela segunda vez na história do mundo, a humanidade terá descoberto o fogo”.  Fico me perguntado quando será esse dia? …

Quem tem ouvidos, que ouça!

Cesarius Gestão de Pessoas, investimento permanente no desenvolvimento do ser humano.