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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O anel de Giges e a ética contemporânea

“Chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando, chamamos de caráter”. (Oscar Wilde)

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A Mitologia Grega é um manancial profícuo de histórias que nos leva a refletir de forma profunda sobre nós mesmos e sobre os acontecimentos da nossa vida contemporânea. O Anel de Giges é uma dessas histórias contada por Platão (428 a.C. – 348 a.C.) no seu clássico “A República”, para discutir se um homem agiria corretamente, caso tivesse o poder de fazer maldade sem ser percebido.

Nesses momentos turbulentos em que vivemos, onde os problemas éticos com frequência são trazidos em pauta e governantes e ex-governantes se acusam mutuamente na nossa República, em todos os âmbitos com foco em questões éticas, vale a pena refletir sobre o assunto.

Conta-se que, Giges, um simples pastor a serviço do rei da Lídia, encontrou um anel, colocou-o no dedo e foi assistir a uma assembleia habitual dos pastores, que se realizava todos os meses, para informar ao rei o estado dos seus rebanhos. Tendo ocupado o seu lugar no meio dos outros, virou sem querer o engaste do anel para o interior da mão e imediatamente ele se tornou invisível, como se ele não se encontrasse mais ali. Assustado, apalpou novamente o anel, virou o engaste para fora e tornou-se visível novamente. Logo em seguida, repetiu a experiência, para ver se o anel tinha realmente esse poder e reproduziu-se o mesmo prodígio: virando o engaste para dentro, tomava-se invisível, para fora, visível. Certo desse poder mágico, conseguiu juntar-se aos mensageiros que iriam conversar com o rei. Chegando ao palácio, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o e assumiu assim o reinado.

Refletindo sobre o conto junto a seus discípulos, Platão passa a questionar o que aconteceria se existissem dois anéis desta natureza e que um deles fosse dado a um justo e o outro, a um injusto. Fruto dessa reflexão, afirma que, provavelmente, o justo não teria um caráter firme suficiente para perseverar na justiça e acabaria por utilizar o poder a ele conferido para fins egoísticos e maléficos. Afinal, ele poderia tirar, sem receio, o que quisesse dos mercados e das lojas, introduzir-se nas casas para se unir a quem lhe agradasse, matar uns, libertar outros da prisão e fazer o que quisesse, tornando-se igual a um deus entre os homens e que agindo assim, nada o diferenciaria do mau: ambos tenderiam para o mesmo fim.

O Filósofo concluiu que esse fato é uma grande prova de que ninguém é justo por vontade própria, mas por obrigação, não sendo a justiça um bem individual, visto que aquele que se julga capaz de cometer a injustiça sem ser percebido, comete-a. Afirma que, de fato, todo homem pensa que a injustiça é individualmente mais proveitosa que a justiça, visto que se alguém recebesse o poder citado acima, mas jamais quisesse cometer a injustiça nem tocar nos bens de outra pessoa, pareceria o mais infeliz dos homens e o mais idiota para aqueles que soubessem da sua conduta. Em presença uns dos outros, eles iriam elogiá-lo, não porque realmente o admiravam, mas por causa do medo de se tornarem vítimas da injustiça.

Enfim, o que podemos trazer de aprendizado com esse conto, para a nossa vida real? Na essência, ficam no ar algumas perguntas que não querem se calar:

-Será que o grande filósofo tinha razão? A injustiça é individualmente mais proveitosa que a justiça?

-Como estão reagindo os nossos representantes, ocupantes do poder?

-E você? Imagine, por um momento, que você está de posse desse anel. Como você usaria esse poder? Se você tivesse uma garantia perfeita de que nunca seria pego ou punido, o que você faria?

Evidentemente que, lá no âmago, a resposta está dentro de cada um de nós! Ética ou caráter? …

Quem tem ouvidos, que ouça!

Cesarius Gestão de Pessoas, investimento permanente no desenvolvimento do ser humano

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Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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