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Hoje é sábado, 23 de novembro de 2024

O Napoleão de Scott e a Honra dos Livros

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Foto: Divulgação

Napoleão, dirigido por Ridley Scott e estrelado por Joachim Phoenix saiu nos cinemas no dia 22 de novembro de 2023. E meus caros, que decepção.

Um dos maiores generais que jamais pisou na face da Terra, o que certamente chegou mais próximo de conquistar a até hoje inconquistável Europa, gênio militar, um estadista extremamente competente e uma das maiores personalidades de sua era – resumido a uma caricatura de homem, ao qual ele JAMAIS foi.

E quando eu menciono decepção, digo a palavra em sua forma mais completa e absoluta, como um grande admirador e fã de carteirinha. Já li mais de 10 livros sobre suas conquistas, batalhas, vitórias e sobre as suas pouquíssimas derrotas. Para se ter uma breve noção da genialidade militar de Napoleão farei uma breve comparação com outros gigantes da história militar e seus trunfos.

George Washington, general e primeiro presidente dos Estados Unidos da América, venceu 8 batalhas em sua história. Ao seu lado, o mundialmente conhecido e respeitado até os dias de hoje, a Raposa do Deserto, Erwin Rommel também possui o histórico de 8 batalhas vencidas.

Saladino, general muçulmano, responsável pela conquista de Jerusalém na época das cruzadas, superou seus adversários por 9 vezes. Retornando para os campos da Segunda Guerra Mundial, temos o General George Patton com 11 vitórias, quase alcançando o temido idealizador da Blitzkrieg alemã, a famigerada Guerra Relâmpago, Heinz Guderian, com 12 vitórias.

Passeando por um passado mais distante, vemos nas guerras que o Império Romano as vitórias de Hannibal, inimigo eterno de Roma, com um cartel de 18 vitórias, com um brilhantismo poucas vezes equiparado.

Um dos maiores generais de toda história, Alexandre, o Grande, figura com 22 vitórias naquela que foi uma das campanhas mais avassaladoras de toda a história conhecida. Com pouquíssimos generais capazes de superá-lo, temos o exemplo de Júlio César, com 23 vitórias.

O nêmesis de Napoleão, o Duke de Wellington, com 39 vitórias foi realmente um oponente feroz, cuja tenacidade e adaptabilidade nos campos de batalha europeus são até hoje estudados e sua genialidade está acima qualquer criticismo.

Mas mesmo com este número implacável de vitórias, o Duke de Wellington não é capaz de sair da sombra da genialidade militar de Napoleão.

O Imperador Francês foi o general cujo brilhantismo, adaptabilidade e ferocidade no campo de batalha ergueu a bandeira francesa em 56 vitórias como líder.

Nenhum general chegou mais próximo de conquistar a Europa como Napoleão chegou. Seus pares nesta tentativa de conquistar o continente são ambos famigerados pela história: os Mongóis, liderados por Subutai Khan e a Alemanha Nazista, liderados por Hitler.

E mesmo com estas comparações mais do que brutais, eficientes e extremamente temidas, são pálidas frente às conquistas que Napoleão obteve e a proximidade da conquista do até então, inconquistável continente.

 Sua quase completa conquista da Europa durou enormes 10 anos, sendo seguidas pelos 6 anos de terror causados pela Alemanha Nazista e pelos míseros 2 anos de flagelo da Europa nas mãos dos bárbaros Hunos.

É, portanto, um general acima de qualquer questionamento e uma das personalidades mais intrigantes, explosivas e geniais das quais a Terra jamais teve o privilégio de poder ler sobre suas conquistas, dada a extravagantemente grande sorte de materiais de pesquisa que resistiram aos anos, como cartas do próprio Napoleão e principalmente, de seus opositores, nas 4 grandes guerras que o mesmo lutou contra TODA a Europa, pela sua hegemonia.

Na lamentável tentativa de Scott em tentar reproduzir tamanha excelência e galhardia, o maior general que já existiu, se tornou uma lamentável caricatura de si mesmo e uma oportunidade perdida de fazer um épico que fizesse jus ao homem. A lenda.

Inicialmente, como é de se esperar, qual filme conseguiria fazer justiça ao tentar condensar uma vida recheada de capítulos trágicos, vitórias memoráveis e avanços significativos que perduram até hoje, mais de 200 anos após sua morte em pouco mais de duas horas? Certamente, seria uma atitude tola tentar capturar a vida inteira e, principalmente, sua carreira militar. Sem contar, claro, com as suas várias inovações como estadista.

Mas a tentativa de transformá-lo em uma marionete da Imperatriz Josephine é pisar além da fronteira do que define inovador e entrar definitivamente no terreno do desastre completo e da tolice petulante e arrogante de tentar transformar Napoleão em um mendigo afetivo, na melhor das equiparações possíveis.

O filme é tão ruim e tão completamente equivocado que simplesmente apagou os 18 marechais mais bem sucedidos do Império Francês – cujos nomes também figuram entre os maiores generais de toda história conhecida.

O marechal Louis Gabriel Suchet, com 9 vitórias, os marechais Jean-de-Dieu Soult e Gouvion-Saint-Cyr com 11 vitórias, cada um e os ainda mais formidáveis marechais, tais quais Jean Lannes, com 12 vitórias e o cavaleiro e posteriormente Rei de Nápoles, Joachim Murat, com 14 vitórias, ao lado do Marechal Louis-Nicolas Davout, este último, pelas palavras do próprio Napoleão:

“Davout foi uma das glórias mais puras da França”.

André Massena e Jean Moreau, com 15 vitórias cada um, também esquecidos no “épico” fazem companhia também para o conhecidíssimo Marechal Michel Ney, com 18 vitórias em seu nome e com a responsabilidade de cuidar da retaguarda francesa na sua longa e terrível retirada da campanha russa, que só não foi pior do que suas ações heroicas nesta função.

“Terror Belli, Decus Pacis.”

Esta era a inscrição que existia em todos os bastões que os Marechais de Napoleão carregavam consigo e quer dizer: Terror na guerra, Ornamento na Paz.

Mas qual é o sentido de nos escrever sobre isto, você leitor poderia se questionar.

Meus caros leitores, vocês jamais saberiam pelo filme que se diz querer, muito pretensiosamente, carregar o nome com o peso que possui a palavra Napoleão. Estas informações encontram-se em centenas de livros, outras centenas de documentários bem feitos e infindáveis debates de historiadores, estudantes das disciplinas militares estratégicas e curiosos, assim como eu.

E antes de ser um prazer poder falar sobre o conhecimento acumulado sobre o maior general da história do mundo é um privilégio poder convidá-los a ler e conhecer mais e neste caso, MELHOR, sobre quem foi Napoleão.

E também deixar um aviso bastante pertinente: muito cuidado quando transferimos a outorga das informações para quem quer que seja.

Sejam eles cineastas buscando glórias não merecidas. Sejam eles jornalistas buscando alguma relevância. Confie nos bons e velhos livros. Confie na seriedade de bons escritores e diretores.

Confie principalmente nas críticas, pois os elogios pouquíssimas vezes são motivadores de que seja escrito uma aclamação pública, da mesma forma que uma crítica é para nós, seres humanos.

E isto serve tanto para um filme, quanto para nossas próprias vidas, se pararmos para pensar bem. Uma profusão de críticas, um leque curto de elogios, mas somente UMA pessoa para lidar com as consequências das ações, pensamentos e principalmente, inações.

Napoleão merece obras que lhe façam justiça. E este filme merece apenas o esquecimento da tentativa malfadada e da pretensão ambiciosa e tola de quem dele, nada conhece.

Um abraço

Vive L’empereur!

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Alexandre Amorim é mineiro, pai e defensor da utilização de novas tecnologias em prol da liberdade, educação e desenvolvimento cultural da comunidade de Mariana. Estudante perpétuo, é orgulhosamente um bibliotecário e acredita no impacto positivo da leitura para o futuro.
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